No Três Vassouras

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A sala comunal da Grifinória estava quase vazia, exceto por alguns estudantes que, como ela, tinham ficado para estudar e outros que, também como ela, não queriam ou não tinham para onde ir.

Hermione inspirou profundamente em seu lugar diante da lareira e fechou os dedos em torno do calor da xícara de chocolate quente. Sem as aulas, estava livre para passar seu tempo como desejasse. Tinha se programado para, de fato, estudar algumas horas na biblioteca todos os dias e também tinha se inscrito para alguns cursos extracurriculares de inverno. Talvez fizesse uma visita a Hogsmeade mais tarde, se a neve parasse de cair, para comprar os presentes de natal dos amigos. Não que eles merecessem.

Eles tinham partido no dia anterior em bons termos. Harry tinha se desculpado e admitira que deixara-se levar por preconceitos do passado e Ron... bem, Ron apenas desistiu de insistir no assunto, convencido de que poderia dizer "eu avisei" em breve.

Ela continuou se encontrando com Malfoy depois das aulas todos os dias. Eles conversavam na Sala Precisa por horas, aquecidos pelo calor constante da lareira, alimentavam e brincavam com Charlie – que ainda sibilava para Hermione e preferia se enroscar à Draco. Tinham até mesmo estudado juntos, sempre corrigindo um ao outro aqui e ali e discutindo por causa disso. Hermione odiava que a corrigissem, apesar de adorar corrigir os outros e Malfoy parecia compartilhar o sentimento, então sempre sucumbiam ao desejo obscuro de apontar os erros um do outro por mais escassos que fossem.

Sua amizade com Draco Malfoy se tornara tão íntima quanto a que tinha com Harry, Ron ou Ginny. Talvez até mais – se deixasse de lado as aventuras –, com ele, falava livremente sobre tudo, inclusive as carícias que tinham trocado dias atrás. Em vez de trata-lo como se nunca tivesse acontecido – como Harry ou Ron –, Malfoy frequentemente mencionava o assunto, esmiuçando cada detalhe sórdido do que tinham feito. E aquilo, apesar de fazê-la corar ferozmente, jamais a incomodava de verdade. A naturalidade com que ele tratava as coisas, como elas realmente eram e sem tentar muda-las, era reconfortante.

Hermione suspirou, sorrindo, sentindo plenamente satisfeita pela primeira vez em meses. Então baixou os olhos para a confusão de livros, penas e pergaminhos sobre a mesa de centro e esticou as pernas cobertas por grossas meias-calças de lã e apoiou a caneca numa mesinha ao lado antes de se ajoelhar no tapete e começar a juntar suas coisas.

- Srta. Granger? – uma garotinha se aproximou, miúda, com cabelos ruivos tão cacheados quanto os dela e olhos azuis brilhantes – A Srta. Lovegood está procurando por você. Disse que esperaria na saída para Hogsmeade. – ela informou, apontando o dedão para a parte interna do retrato que escondia a entrada dos dormitórios.

Hermione sorriu.

- Obrigada, Sarah.

A garotinha assentiu e se afastou. Ela vestia roupas surradas, de trouxa. O cachecol com as cores da Casa enroscado no pescoço. Sarah era uma das calouras do primeiro ano e, como Harry, era órfã. Os pais tinham morrido durante a guerra contra Voldemort e ela, agora, estava sob os cuidados do ministério da magia. Assim como tantos outros.

Hermione largou a xícara e juntou suas coisas, enfiando-as na bolsa e abandonando-a ao pé de uma das poltronas na sala comunal antes de vestir uma blusa grossa por cima da roupa, enrolar o cachecol vermelho e dourado no pescoço e sair.

Luna esperava por ela nas escadas para o pátio e a saída para Hogsmeade como Sarah informara. Ela usava um gorro colorido sobre os cabelos loiros, os olhos ocultos por aqueles óculos esquisitos que sempre usava e os brincos de frutinhas balançando nas orelhas sobre o cachecol azul com listras cor de bronze. Ela não viu quando Hermione se aproximou, estava distraída – como sempre – com o que quer que conseguisse ver no ar através daqueles óculos.

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