Sala Precisa

De Volta das Férias

Ginny Weasley arregalava os olhos mais e mais conforme as outras garotas fofocavam para ela sobre como Malfoy estivera sentado agarrado à Hermione na mesa da Grifinória mais cedo naquele dia, no café da manhã – e no almoço também.

- Não acredito! – Ginny cobriu a boca com a mão e deu várias cotoveladas na amiga – Eu estive fora só por alguns dias, Granger! – ela nem conseguia conter o sorriso de empolgação.

Hermione sentiu o rosto arder sob os olhares risonhos das garotas.

- Não acredito que está saindo com aquele cara. – Ron resmungou enquanto massacrava raivosamente o pedaço de carne no prato.

Harry não disse nada, mas seu desgosto estava estampado em suas expressões enquanto ele remexia as batatas assadas do próprio prato.

Malfoy e Granger; um casal improvável tinha se formado. A notícia tinha se espalhado como fogo na palha depois da chegada dos alunos que tinham passado as férias em casa. O salão vibrava com as fofocas e até mesmo os professores tinham lançado olhares curiosos na direção dos dois.

Do outro lado do salão, sentado à mesa da Sonserina – pois a ocasião do banquete de retorno às aulas exigia um maior rigor na separação das Casas –, Draco fazia careta entre as mordidas enquanto Theodore Nott lhe perguntava retórica e repetidamente por que ele não ia se sentar com Granger, de preferência entre Potter e Weasley, já que ele era tão ousado.

Em algum ponto, ele apenas deu de ombros para a gozação sem fim dos amigos e os ignorou.

Era difícil vê-la do outro lado do salão, mas ele tinha se sentado estrategicamente naquela noite à fim de vigiar as reações dela aos amigos recém-chegados. Ela estava de costas para ele, mas Draco a vira encolher os ombros várias vezes enquanto a garota Weasley a acotovelava sem parar e as outras escondiam os risinhos com as mãos. Potter e Weasley tinham lhe lançado olhares afiados que ele respondeu com um sorriso presunçoso que os fez corar de raiva. A reação deles tinha feito com que ela se virasse no banco para encará-lo e a presunção foi prontamente substituída por admiração e prazer puros quando ela não conseguiu evitar um sorriso e rapidamente se voltou para a mesa.

Draco riu consigo mesmo. Como se perdoaria por ser tão feliz? Ele definitivamente não sabia, mas não conseguia evitar e culpa nenhuma o fazia hesitar diante dela. Então ele ficaria com Hermione, sem se importar se merecia isso, sem ligar para os olhares tortos de alguns dos colegas e faria dela a garota mais feliz do mundo. Até suportaria Potter e Weasley se fosse preciso.

- Se fosse um verdadeiro sonserino não arriscaria sujar sua linhagem com aquela sangue-ruim. – Pansy Parkinson resmungou maliciosamente do outro lado da mesa.

Draco estreitou os olhos.

- Não a chame assim. – ordenou e levantou o garfo ameaçadoramente na direção dela – E tenha cuidado com o que disser de agora em diante.

- E quem é você para falar sobre pureza de linhagem, Parkinson? – Daphne Greengrass debochou – Um de seus avôs não é trouxa?

Astoria suspirou ao lado da irmã enquanto remexia sua comida.

- Não superamos esses preconceitos ridículos depois de toda a crueldade de Você-sabe-quem? Se Draco gosta da garota nascida-trouxa, o problema é dele.

Draco arqueou uma sobrancelha para o tom melodramático da garota, sem saber se deveria agradecer ou ralhar com ela. Mas os ânimos se aquietaram depois do que Astoria disse. Todos eles tinham cicatrizes, todos tinham sofrido durante a guerra também, de uma forma ou de outra. O governo de Voldemort se dava via medo e ameaças constantes. Ele não se dera ao trabalho de resgatar a antiga admiração que o tornara influente e não se preocupara em usar seu charme para conquistar os mais novos, os herdeiros de seus comensais. Apenas contou com eles, com sua força, como quem conta com a inevitabilidade de seus escravos. Aquilo tinha aberto os olhos da maioria. Alguns deles tinham perdido os pais para a morte, outros para Azkaban. E estes que tinham despertado para a realidade sabiam que era por causa daquela visão de mundo antiga, da crença na supremacia puro-sangue, do preconceito contra os trouxas, eram essas coisas que os tinham derrubado e destruído suas famílias.