Draco puxou o cabelos para trás com a mão esquerda, piscando na esperança de que as palavras voltassem a entrar em foco, sem sucesso, concentrando todas as suas forças em manter-se acordado. Ele não devia ter passado a noite do domingo, depois de ter sido liberado da enfermaria, festejando a vitória da Sonserina no Torneio de Quadribol quando ele mal se recuperara dos ferimentos pelo corpo. E, acima de tudo, não devia ter bebido todo o whisky de fogo que seus amigos lhe ofereceram. Agora tudo doía. Com um suspiro exausto, deixou a cabeça cair sobre o livro aberto de aritmância soltando um choro exasperado.
Hermione revirou os olhos diante do drama dele.
- É culpa sua por passar a noite anterior festejando quando claramente estava atrasado com seus estudos. – o repreendeu, tentando esconder a compaixão que crescia dentro dela.
Ele virou o rosto para ela, os olhos cinza úmidos pelo sono a fizeram hesitar.
- Hermione. – choramingou ele, praticamente implorando.
Hermione mordeu o lábio enquanto olhava para ele, para as olheiras abaixo dos olhos e o braço direito preso na tipoia. Suspirou. Ele já estava demorando o dobro de tempo para escrever com a mão esquerda, naquele ritmo eles passariam a noite toda trabalhando.
- Tudo bem! – cedeu e puxou seu dever terminado de aritmância – Só não copie tudo. Pelo menos finja que estudou o suficiente para escrever seu próprio trabalho.
Ele ergueu a cabeça da mesa baixa e a abraçou, beijando-a no canto dos lábios.
- Merlin! Eu amo você! Obrigado! – disse com um sorriso aliviado – Prometo que não vou copiar, só preciso de uma referência... – ele desenrolou o pergaminho dela e girou a pena na mão esquerda sobre o próprio pergaminho onde algumas frases já tinham sido rabiscadas.
Hermione o observou. A letra dele estava ainda pior agora que ele precisara escrever com a mão esquerda, mas diferente do que ocorrera no terceiro ano (quando Bicuço lhe quebrara o braço), ele não se aproveitara de ninguém e, apesar dos professores prolongarem os prazos para que ele fizesse as tarefas, Draco tinha se esforçado para entrega-las junto com os colegas.
- Só preciso de um "aceitável" ou um "excede expectativas". – ele resmungou enquanto alternava a atenção entre o trabalho dela e o próprio.
Charlie se espreguiçou na poltrona onde estivera dormindo, girou amassando o estofado sob suas patinhas e voltou a se deitar, piscando para Hermione. Eles estavam de volta a Sala Precisa que agora era um misto de oficina e sala de estar em resposta as novas necessidades deles. Draco tinha perdido o jantar enquanto finalizava o tal pergaminho encantado e ela se juntara a ele depois de se despedir dos amigos com um piscar e um sorriso malicioso de Ginny.
Draco tinha escrito para os gêmeos Weasley e recebera uma resposta surpreendentemente positiva; Fred e George se encontrariam com ele no próximo fim de semana em Hogsmeade para discutir seus planos de venda, então Draco estava adiantando a produção enquanto ainda trabalhava no estudo para a poção contra pesadelos; Rolf tinha trazido uma amostra já diluída – pelo próprio Newt Scamander – do veneno de Swooping Evil. O avô de Rolf ficara bastante interessado no desenvolvimento da tal poção e convidara Draco para visita-lo no verão, enquanto Rolf estivesse lá, para trocarem experiências; nada estava acertado pois a poção ainda não estava completa – e Draco queria ter algo tangível para mostrar –, mas Hermione estava preparada para acrescentar uma pequena viagem com ele à casa do Sr. Scamander a qualquer momento durante o verão. E havia as monitorias de Poções e os estudos para os testes que se aproximavam numa velocidade impressionante.
Hermione dividia seu tempo entre seus estudos e Draco, ajudando os amigos quando precisavam, mas ela mesma não se sentia nem de longe tão desesperada quanto estivera nos anos anteriores. Aos poucos ela estava começando a sentir-se pronta para o que quer que a esperasse no futuro. Tudo estava bem. Ela tinha Draco. Estava segura.
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Sala Precisa
FanfictionEra o último ano deles em Hogwarts, afinal. Um última oportunidade para perdoar e formar amizades - e até amores - duradouros.