Mensagens na Madrugada

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Draco gemeu de dor e abriu os olhos para a escuridão. Era noite. Ele estava na enfermaria e sua cabeça latejava, cada respiração era difícil e dolorida. Ele baixou os olhos para examinar o próprio corpo, para saber quais eram, exatamente, os danos, uma vez que tudo doía. O braço direito estava imobilizado numa tala com uma tipoia. Ele estava vestindo pijamas brancos mas podia jurar que havia hematomas escuros nas costelas. Ele também devia ter deslocado o ombro pois este doía como se não houvesse futuro, mas abençoadamente, as pernas pareciam inteiras. Que Merlin o livrasse de passar o resto de seus dias em Hogwarts mancando.

Ele levantou a mão livre para afastar os cabelos dos olhos e foi assim que percebeu o pedaço de pergaminho enfiado entre os dedos. Havia palavras rabiscadas apressadamente naquela linda e familiar caligrafia.

"Por favor. Por favor. Mande uma mensagem pelo anel quando acordar. Madame Pomfrey não me deixou dormir na enfermaria. – H.G."

Ele sorriu. "Não se preocupe, estou bem", pensou, desejando que a mensagem a alcançasse num sono profundo. A resposta, no entanto, não tardou e poucos segundos depois ele sentiu o próprio anel aquecer.

Com um suspiro, Draco se esforçou para se sentar encostado na cabeceira da cama. Ele alcançou sua varinha na mesa ao lado junto com um copo de água – que ele logo bebeu – e conjurou um pedaço de pergaminho e uma pena.

Ele se esforçou para escrever de forma legível com a mão esquerda e no final, o garrancho não estava muito pior do que o de costume. Então ele segurou sua varinha novamente e o pergaminho se dobrou na forma de um pássaro antes de sair voando enfermaria a fora em direção ao dormitório na Torre da Grifinória.

Draco olhou ao redor para a enfermaria vazia e suspirou. Ele levou a mão esquerda ao ombro direito para apalpar o músculo dolorido e gemeu. Ele mexeu os pés sem dificuldades e, então, desabotoou a camisa do pijama para verificar as costelas. Uma grossa faixa de tecido macio envolvia a parte de cima do torso, mas parte do enorme hematoma roxo escuro estava visível abaixo do braço do lado do peito, se destacando na pele pálida. Argh. Quando passou os dedos pelo rosto se encolheu ao encontrar alguns pontos doloridos na maçã do rosto e pequenos cortes na testa e bochechas, aparentemente, nada que pudesse deixar uma cicatriz. Ele não queria ficar permanentemente deformado como Potter, afinal.

Ele olhou para a mesinha ao lado, para a campainha magica que traria Madame Pomfrey até ele e ponderou se deveria chama-la para que lhe desse uma poção para aliviar a dor e fazê-lo dormir. Mas então reparou nos pacotes de doces e bilhetes empilhados ao lado. Ele estendeu a mão esquerda e agarrou o maço de pergaminhos.

As mensagens variavam entre: "Bom trabalho, Malfoy!", "provou sua lealdade à Sonserina hoje, Malfoy!", "agora podemos perdoá-lo por sua proximidade com os grifinórios!", "trouxe a glória de volta à nossa Casa", "vencemos!". Ele sorriu para as mensagens dos colegas. Idiotas. Mas continuou passando os bilhetes até encontrar a letra redonda de Nott:

"Todos compraram doces e presentes para você. Fez um bom trabalho nos ajudando a vencer hoje. É sempre um prazer maior ainda vencer o Santo Potter. Aproveite. Ps.: Não coma nada que Pansy enviou (tenho certeza de que as tortinhas de abóbora estão recheadas com amortentia). – T. Nott"

Draco arqueou uma sobrancelha para os vários pacotes de doces e continuou vasculhando os bilhetes até parar em um com um pirulito anexado no papel.

"Não vá se acostumando com a vitória, Malfoy. E acorde logo. Os olhos de Hermione quase se derreteram enquanto ela chorava. Harry ficou bastante irritado com você, mas, bem, ele teria feito a mesma coisa. Bom jogo. Parabéns. – G.W."

Draco sorriu e decidiu que o pirulito devia ser seguro. Quem diria que um dia confiaria mais num grifinório do que nos próprios companheiros. Bufando, desembrulhou o pirulito e o enfiou na boca, mastigando-o e olhando para a janela e a escuridão completa do lado de fora. Que horas devia ser? Ele pensou em se levantar, mas seu corpo todo protestou e ele imediatamente desistiu, afundando de volta na cama e fitando o teto.

A porta da enfermaria rangeu e se entreabriu e Draco virou o rosto naquela direção, mas não viu ninguém. Ele estreitou os olhos, ouvindo os passos silenciosos, e seus dedos se fecharam ao redor da varinha.

- Draco. – Hermione se materializou ao lado dele, deixando a capa da invisibilidade escorregar pelo corpo.

Ele suspirou, soltando a varinha e tirando o palito do pirulito da boca.

- Tem alguma noção do perigo que correu? Quase enfeiticei você.

Ela o ignorou, as mãos segurando o rosto dele.

- Como está se sentindo?

- Como se tivesse sido pisoteado por um gigante.

Ela sorriu para o drama dele e se inclinou para beijá-lo.

- Eu estava preocupada com você. – sussurrou contra a boca dele.

Draco sorriu.

- Desculpe por isso. – ele enrolou uma mecha do cabelo dela nos dedos conforme ela se afastou – Está brava comigo?

- Por quê?

- Soube que vencemos.

Ela revirou os olhos.

- É claro que não estou brava.

- Ótimo, porque estou muito orgulhoso de mim mesmo por ter vencido Potter. – admitiu com um sorriso arrogante.

Para a surpresa dele, ela sorriu de volta.

- Imaginei que estaria. Toda a sua Casa enviou doces e deixou bilhetes. – ela olhou para a confusão de pedaços de pergaminhos e pacotes de doces.

O sorriso dele se suavizou.

- Desculpe ter preocupado você.

Ela balançou a cabeça.

- Está tudo bem. – ela estendeu a mão para entrelaçar seus dedos aos dele – Eu não sabia que você era tão querido por seus colegas de Casa.

Ele deixou escapar um riso de escárnio.

- Não sou. Isso é só uma recompensa por ter derrotado o Santo Potter.

Ela fez uma careta.

- Nott e Zabini vieram visitar.

- Eles são os mais honestos, eu diria. – Draco admitiu.

Hermione assentiu.

- Ele me aconselhou a me livrar dos doces que as garotas enviaram, então fiz isso. Espero que não se importe. – disse ela sem nenhum arrependimento.

Ele sorriu e pressionou a mão dela na sua.

- Nem um pouco.

Draco se apoiou no braço esquerdo e afastou o corpo para o lado, liberando algum espaço na cama e puxando-a para ele num convite óbvio.

Hermione mordeu o lábio, mas cedeu, deitando-se ao lado dele na cama, o braço bom por baixo de seu pescoço, a mão se enrolando nos cachos. Ela se aninhou a ele, tomando cuidado para não encostar demais nas costelas ainda em recuperação.

- Não vamos poder... – ela corou, repreendendo-se mentalmente por seus pensamentos impuros.

- O que? – ele perguntou então viu o rubor no rosto dela e sorriu cheio de malícia – É com isso que está preocupada, Granger? – fingiu revolta e riu.

- Exceto pelos ossos quebrados você parece bem. – ela se defendeu.

Ele roçou os lábios nos dela.

- Hmm. – resmungou, ainda sorrindo – Eu vejo como uma oportunidade para você tomar um pouco mais de controle. – sussurrou.

Hermione sentiu arrepios percorrerem sua espinha, os dedos dos pés se encolhendo e aquele familiar puxão entre as pernas. Ela se esforçou para manter a compostura e olhar no fundo dos olhos dele com a mesma intensidade apaixonada.

- Posso pensar em algumas coisas que gostaria de tentar. – provocou de volta.

O sorriso dele se alargou.

-Mal posso esperar. 

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