Um Fardo

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Draco bufou ao desabar no sofá ao lado de Hermione na Sala Precisa.

- Estou exausto. – declarou ele diante do olhar inquiridor dela.

Charlie saltou do chão para o colo dele.

- Você não apareceu durante o jantar. – ela fechou o livro que estava lendo.

Draco inspirou profundamente e Hermione o observou alongar as costas, as escapulas se unindo por baixo das camadas de tecido conforme ele abria o peito com uma careta de dor. Charlie saltou para a poltrona ao lado com um miado baixo.

- Estava corrigindo os antídotos que deram errado nas aulas de hoje, acabei perdendo a noção do tempo.

Hermione suspirou, largou sua pena e gesticulou para que ele se virasse de costas para ela no sofá, ajudando-o a tirar o robe e massageando os músculos tensos dos ombros e das costas dele.

- Minha mãe sempre fazia isso para o meu pai depois do trabalho. – disse ela, à guisa de explicação.

Draco suspirou e ela sentiu o corpo dele relaxar ao seu toque.

- Seu pai é um homem feliz. – decidiu ele.

Um sorriso brincou nos lábios dela enquanto ela apertava os dedos pela espinha de Draco, soltando os nós nos músculos por baixo da camisa branca.

- Eu não sabia que era possível corrigir poções que deram errado. – Hermione disse baixo, conversando.

- Hmm. – Draco resmungou baixinho, quase como um ronronar – Algumas são corrigíveis, nem todas.

- E como você sabe quais são? – ela quis saber.

- Há alguns feitiços para testar a qualidade da poção. – ele suspirou de novo quando ela arrastou as mãos pelas costas dele até o pescoço – E então você precisa descobrir onde deu errado e corrigir.

Hermione tirou as mãos dele e Draco se virou para ela.

- Slughorn o deixou fazer tudo isso sozinho? – ela inclinou a cabeça, curiosa.

Ele assentiu, massageando o pescoço.

- Já que fui eu quem sugeriu corrigir as poções.

- Você sugeriu? – ela ergueu as sobrancelhas, surpresa.

Draco encolheu os ombros e um rubor fraco coloriu as maças do rosto dele.

- Gosto do processo de alterar alguma coisa já existente ou criar novas poções.

- Criar?

Ele fez uma careta.

- Sim. Snape me ensinou algumas coisas.

Hermione sorriu com tristeza ao se lembrar do antigo professor. Ele não fora nada senão grosseiro com ela durante todo o tempo em que foi seu professor e mesmo assim, não podia deixar de se sentir mal pela história que ela agora conhecia. O amor muda as pessoas; desperta o melhor e o pior delas. E ela se pegou imaginando quanto disso ela agora percebia em Draco. Se perguntando o que teria acontecido se eles nunca tivessem se aproximado. Se o sorriso dele ainda seria honesto por baixo de toda a malícia.

- Vocês eram próximos? – se ouviu perguntar baixinho.

Uma sombra cruzou os olhos dele e escureceu o cinza, transformando a prata em uma nuvem de tempestade. Talvez fosse um erro tocar no assunto. Snape também fora, afinal, um Comensal da Morte. Fizera parte de todas as lembranças que Draco se esforçava para esquecer.

Draco inspirou profundamente e desviou os olhos.

- Ele fez o possível para impedir que eu me corrompesse completamente. – contou – Não havia muito que ele podia fazer por mim na frente de você-sabe-quem sem comprometer o próprio disfarce... Mas ele foi o único que me mostrou outro caminho, que me deu outra opção.

Hermione alcançou a mão dele e entrelaçou seus dedos.

- Sinto muito, Draco.

Ele puxou a mão dela para beijar o dorso e suspirou.

- Você enviou a coruja para o ministério? – ele mudou de assunto.

Hermione o observou roçar carinhosamente os lábios nos nós dos dedos dela, os olhos ainda escurecidos, a mente provavelmente cheia de lembranças terríveis.

- Sim. Escrevi diretamente à Kingsley. Espero uma resposta amanhã de manhã.

- Vantagens de ter salvado o mundo bruxo? – um esboço de um sorriso brincou nos lábios dele enquanto ele se esforçava para afastar os próprios fantasmas.

- Sim. Precisa haver alguns privilégios, não acha?

- Vou escrever um pedido de permissão para a viagem quando for para o dormitório.

- Mencionei na carta que você viria comigo. – avisou ela.

Ele fez uma careta.

- Talvez não consiga a permissão.

- Seria muito rude da parte dele me negar isso. – Hermione bufou.

- Você acha que o Ministro da Magia vai permitir que a bruxa que salvou o mundo mágico viaje acompanhada de um ex-Comensal da Morte? – ele arqueou uma sobrancelha.

Ela estalou a língua.

- Estou indo com meu namorado.

- É o fardo de estar comigo. – os olhos dele finalmente encontraram os dela – Não queria que você tivesse que carregar este fardo, Hermione. – disse e baixou os olhos – Não é justo pra você.

O coração dela apertou.

- Não ouse, Draco Malfoy.

- O quê? – perguntou ele.

E ela o odiou por fazê-la dizer.

- Não me deixe por causa disso.

A sombra nos olhos dele diminuiu, a nuvem escura lentamente se dissolvendo de volta em prata líquida enquanto ele a fitava.

- Como se eu conseguisse deixar você. – ele fechou os olhos e se deixou cair com a cabeça no colo dela – Vou ficar, Hermione, porque sou egoísta demais para deixa-la em paz. – prometeu falando baixo – Então, pelo tempo que me quiser ao seu lado, vou ficar. – beijou a mão dela – Mas você não precisa. Você merece muito mais do que eu jamais poderia oferecer.

Ela pressionou os lábios numa linha rígida e brincou com o cabelo dele com a mão livre.

- O que eu mereço, Draco?

Ele ergueu os olhos para ela.

- Você merece liberdade para ir para onde quiser quando quiser, fazer o que quiser, ser quem quiser ser e ter tudo que sonhou. Você merece o melhor.

Ela se curvou para beijar a testa dele.

- E não é exatamente isso que você me dá?

Ele suspirou.

- Vão julgar você por estar comigo, Hermione.

- Vão me julgar independente do que eu faça. – ela se recostou no sofá, ainda brincando com o cabelo claro dele – Não quero ficar presa às expectativas dos outros. Quero fazer o que eu quiser. Quero ficar com você.

Os olhos dele estavam claros de novo. Brilhantes. E ele finalmente sorriu.

- Eu amo você.

Hermione sorriu de volta e se curvou para beijá-lo.

- Eu sei. – sussurrou contra os lábios dele.

Draco riu e se levantou para beijá-la, trazendo-a para o colo. 

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