Capítulo 44

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      FLASHBACK ON

Irene

"Eu não confio mais em você"

Essas palavras saíam com frequência da boca de Seulgi, mas aquele dia causou um efeito diferente em mim. Agora eu estava sentada em sua cama, olhando-a em silêncio. Não tinha resposta para aquilo.

— não importa quanto tempo passe, eu não confio em você. Não mais.  Continuou. Assim uma lágrima isolada desceu sobre meu rosto.
— tem noção de como eu amava você? Agora eu só consigo sentir raiva de tudo. E agora que eu já posso me manter sozinha, não acho que precise de você pra me ensinar. Perfeito, por que eu não aguento mais ter que te olhar e me lembrar de que por sua culpa eu não tô viva.

— Seul...

Tentei falar mas não saiu nada, eu sabia que uma hora ou outra teria que lidar com aquilo. Nós brigávamos de vez enquando, mas de uns meses pra cá as brigas se triplicaram e absolutamente tudo era motivo para uma nova discussão.

Eu sabia meu erro, deveria ter contado a verdade para ela, tudo que ela descobriu por Sebastian deveria ter sido eu quem tinha que contar e meu medo de ser rejeitada foi maior do que minha vontade de falar tudo pra ela. Eu não achei que chegaria a esse ponto, não achei que ele iria de fato machucar ela, mas no dia do acidente eu tive certeza que ele queria que ela morresse, então meu desespero foi maior do que a habilidade de pensar e eu fiz o que fiz. Várias vezes para assegurar que, caso ela morresse, eu não a perderia.

Só que eu perdi, parecia que todo o amor que Seulgi sentia por mim morreu junto com ela aquele dia e agora ela era tão fria, indiferente. Nós não conversamos mais, não tinha relação alguma além de uma professora ensinando sua aluna. Isso doía por que não queria que fosse assim. Eu queria reconquistar ela e tentei durante todo tempo até aqui. Foram três anos inúteis de tentativas. Não havia mais nada além de tentativas frustradas e só sobrava todo o amor que eu, e apenas eu sentia por ela.

— você vai ficar bem? Perguntei por fim.

— qualquer lugar longe de você vai me fazer bem.

— Seul.. me perdoa.

— sim eu vou, desde que você nunca mais me procure, se possível pode fingir que eu não existo e que você nunca me conheceu. É assim que eu vou viver agora. Como se você nunca tivesse entrado na minha vida.

— eu não sou capaz de esquecer você.

— tente. Tenho certeza que daqui há uns anos você vai arrumar outra pessoa pra brincar.

— eu te amo Seulgi. Senti mais lágrimas descerem pelo meu rosto.

— me ame longe de mim. Eu quero você longe de mim, entende?

— Sim. Eu prometo. Não vou procurar você, não vou atrás de você...  Mas eu nunca vou deixar de te amar.

— perfeito. Sofra sozinha e em silêncio.

Foi a última frase que ouvi dizer, logo depois ela pegou suas malas que já estavam prontas e partiu, não me disse pra onde e eu também não esperei que dissesse, sabia que provavelmente aquela seria a última vez que nos veríamos e depois que ela saiu da casa eu me permiti chorar todas as lágrimas acumuladas. Queria fazer alguma coisa, queria ir atrás dela e dizer que nós ficaríamos bem, mas não funcionaria, então eu pensei em mandar uma mensagem só pra que ela soubesse que poderia voltar se quisesse, que eu sempre estaria esperando. Fiquei ali, sentada na cama soluçando de chorar enquanto via Seulgi sair da minha vida.

Eu nunca me senti assim, era a primeira vez que eu tinha de fato gostado de alguém, que tinha me deixado me apaixonar por alguém, que alguém entrava na minha vida tendo permissão pra isso. Era a primeira vez que alguém sabia meu segredo além de Sebastian, era a primeira vez que eu falava abertamente com alguém sobre qualquer coisa, absolutamente tudo. Eu sentia aquilo ser tirado de mim e a culpa era toda minha. Eu devia ter contado tudo a ela, talvez se ela soubesse a verdade não se assustaria, talvez se ela soubesse que corresse perigo não andaria tão distraída, tomaria cuidado. Mas todo aquele talvez não faria nenhum sentido agora, já que estava tudo acabado e eu nunca mais veria Seulgi novamente. Eu tinha certeza disso.

FLASHBACK OFF

Fazia dois anos desde a nossa despedida e eu ainda me lembrava de cada palavra, não só isso mas também do cheiro dela, seu rosto, seu sorriso e a forma que os olhos fechavam quando o fazia. Era uma imagem linda, eu amava vê-la sorrir, principalmente se fosse por minha causa.

Sebastian tinha saído da minha vida, fazia quase cinco anos que não nos víamos e eu sabia que ele iria voltar mais cedo ou mais tarde, esperava por isso, já que ele não ficava sem dar notícias, para minha infelicidade.

Eu estava na Espanha agora, em um bar qualquer que eu não conhecia, na verdade não conhecia aquela cidade pois era a primeira vez que visitava. Era minha primeira noite ali e eu queria beber, na verdade só ingerir álcool já que não fazia muito efeito sobre mim. Mas estava em meu terceiro copo. Perdi a noção da hora pois não tinha comigo celular ou relógio. Percebi que alguém sentou do meu lado e fui tentar socializar, não fazia com frequência mas hoje eu queria tentar, me virei e levei um susto. Era Seulgi. A minha Seulgi, a que eu não via há dois longos e torturantes anos e tudo que eu queria fazer era subir em cima de seu colo e atacar aqueles lábios finos que eu tanto amava. 

Eu amava Seulgi, nunca seria capaz de deixar de amar aquela mulher, era impossível. Aquela noite foi incrível, o que aconteceu eu nunca poderia imaginar que aconteceria novamente e se repetiu por toda minha estadia na Espanha. Eu fiquei só dois meses e voltei pra casa, triste por ter que me separar dela. Quando cheguei tinha visitas, uma visita cansativa.

— pensei que você ia me deixar em paz agora que estragou minha vida.

— tradição Irene. Esqueceu? Ele revirou os olhos enquanto pegava mais um pedaço de pizza de frango que eu tanto odiava.

— por que me odeia tanto? Fechei a porta e fui caminhando para meu quarto. — não fala comigo e saia o mais rápido possível.

— você tava procurando ela não tava?

Me virei — Seulgi? Não. Eu não procurei por ela.

— mas achou. Continuou ele.

— você estava me seguindo de novo?

— ela continua uma gracinha. Pena que te odeia. Sorrio sarcástico comendo sua pizza nojenta.

— não como eu te odeio. Ninguém no mundo vai odiar alguém como eu odeio você.

— você é uma gracinha Irene. Como está seu plano de me matar?

Revirei os olhos, preferi não responder. Apenas segui para meu quarto e ali fiquei o resto do dia.

사랑 - Amor | SeulreneOnde histórias criam vida. Descubra agora