Prólogo 1

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JOALHEIRO

Você tem filhos? 

Se a resposta for não,  se considere uma pessoa de sorte. 

Não tenha. Se poupe desse sofrimento desnecessário. 

Deu vontade de procriar? Siga meu valioso conselho e compre uma planta. Plantas não mentem. Plantas não profanam a sua cama. Plantas não assaltam a sua carteira à mão armada ou entopem as suas artérias antes da terceira idade. Plantas não brincam de massinha de modelar toda santa vez que pegam seu carro emprestado e te obrigam a entregar sua alma para pagar o funileiro. Plantas não ligam dizendo que estão indo dormir na casa de um amiguinho e terminam dentro de um cassino clandestino apostando o que não devem. Plantas não te obrigam a lavar, passar, cozinhar, limpar, subornar jornalistas e amá-las incondicionalmente para receber em troca um punhado de ingratidão. Elas florescem. E ninguém liga se vocês as matar. 

Plantas são perfeitas.

Eu adoro plantas. Se seu útero está latejando nesse momento para ser usado, sugiro orquídeas. Elas nem precisam ser regadas com frequência para sobreviver. 

Ser pai de alguém não é o que os comerciais de margarina mostram. Na realidade, é uma tarefa complicada e desesperadora que envolve toda sua paciência indo para o vinagre. Resume bem se eu disse a palavra "inferno"? Posso mudar para "inferno escaldante" se você ainda não entendeu onde exatamente estou querendo chegar.

Sei bem do que estou te falando, já que eu tenho quatro.

Quatro filhos.

É, eu sei. É quase uma ninhada de coelho.

Pode me chamar de maluco. Sou obrigado a concordar que é mesmo um exagero. Para que tanto? Não tenho ideia!  Vivo me perguntando por que fiz essa besteira com a minha vida. Se arrependimento matasse, eu teria três cacatuas e um beagle... Está aí algo que eu sempre quis ter: um cachorro, entretanto, nunca pude porque um dos meus digníssimos filhos não suporta animais, mesmo que se comporte como um mais do que eu gostaria.

Somos só nós cinco. Eu, eles e nenhuma mãe. A babá pede as contas toda semana desde que eu a contratei. Tudo que eu quero dessa vida é chegar aos cinquenta sem nenhuma ponte de safena. Só isso. Não é muito, não é? Mas já estou bem perto e nada confiante de que o telefone da minha amada cardiologista não vai tocar antes de eu cantar parabéns e assoprar as velinhas. 

Os ragazzos* não param de me arrumar um problema atrás do outro desde o dia em que chegaram à minha vida, são tantos problemas que é bem capaz que as próximas velas que eu assopre sejam as do meu funeral porque, com certeza, vou voltar para assombrá-los se me matarem.

Meus filhos são terríveis! Sei que todos os pais dizem a mesma coisa, mas os meus são mesmo terríveis. Não estou sendo dramático nem nada do tipo. Não acredita em mim?  Posso provar. 

Um dos seus filhos já abandonou o fratello* no meio da estrada, durante uma viagem, só porque ele colocou os pés no painel do carro? Um dos meus já. Em sua defesa, ele me disse que deu dois avisos antes de realmente abrir a porta e chutá-lo para fora e que foi bem divertido vê-lo correr atrás do carro por um quilometro e meio. Imagine meu desespero quando esse ragazzo chegou à casa de praia, aonde os esperávamos para um carnaval em família, anunciando para quem quisesse ouvir, que não era obrigado a mandar lavar o carro para os outros sujarem. E esse é o mais bonzinho, é meu neném! Imagine como são os outros...

THE PRINCEOnde histórias criam vida. Descubra agora