73 • Espírito alto

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Hope recolheu sua última peça de roupa do chão, enquanto Maggie continuava falando sobre o último livro que leu. Alguma coisa relacionado à sociedade francesa do século XVIII e uma mulher que traía seu marido - o que, parcialmente, explicava seu repentino interesse pela história.

- Nossa, há quantos dias você não lava roupa?

Hope olhou para cima de repente, o cesto de roupas sujas nas mãos. Estava cheio e ela conseguiu entender sobre o que sua amiga falava.

- Alguns. - Deu de ombros. - Acho que a máquina de lavar ficou com algum problema...

Era mentira. Hope já tinha ouvido de sua mãe diversas vezes que era para recolher suas roupas sujas e levar até a lavanderia da casa, mas ela não ligou. Deixou que as roupas se acumulassem em cantos quaisqueres de seu quarto escuro.

Era mentira, mas Hope não sentia como se fosse uma. Estava mais prática com isso, com uma monotonia típica da verdade na voz. Ela aprendeu, afinal, a disfarçar, a mentir com uma aguçada simplicidade. Mais uma das marcas que Luke Hemmings deixou em sua vida.

Olhando para a figura desanimada e mal vestida de sua amiga, Maggie franziu os lábios grossos.

- Você ainda não tá legal - afirmou com compaixão. - Ele ligou pra você?

Hope franziu o cenho, quase irritada por um instante.

- Um milhão de vezes. - Ela jogou o cesto próximo à porta, para levar para baixo mais tarde. - Mas o que isso importa? Não muda nada.

- Eu sei que ele fez uma coisa muito errada, mas...

- Mas o quê, Maggie? Não existe mas. Existe o que ele fez e o que eu devo fazer! - exasperou, bufando e se jogando na cadeira se sua escrivaninha.

Maggie fez uma careta.

- O que você deve ou o que você quer fazer? - indagou.

Hope semicerrou os olhos.

- Os dois - disse com firmeza. - Você acha que eu estou com a mínima vontade de falar com ele? Maggie, ele traiu minha confiança.

Maggie suspirou e concordou com a cabeça.

- Sim, você está certa. - Ela olhou para baixo por um instante. - É que eu não aguento mais te ver assim, tão... - Gesticulou para o corpo maltrapilho de sua amiga. - Tão não Hope.

Hope deu de ombros exageradamente.

- Com isso eu posso lidar - argumentou. - É claro que estou triste e... sei lá, perdida. Não posso lutar contra isso, eu estava tão imersa nessa relação... Mas isso passa também.

Hope sabia que passaria. Ela só não via a hora disso acontecer.

Já havia se passado três semanas desde a última vez que vira Luke. Três longas semanas cheias de desculpas mal dadas aos seus amigos e a sua família sobre o porquê de não querer descer e comer um dos seus pratos favoritos no jantar, ou sobre o porquê de não querer ir ao Bar do Ben quando Michael insistiu em ir com seus amigos.

As coisas estavam especialmente difíceis agora que só tinha Maggie com quem conversar. Sua amiga a entendia, claro, mas às vezes não era suficiente. Havia um nó em sua garganta que não saía de jeito nenhum, e Maggie tinha aquele jeito especial de querer arrumar uma solução para tudo. Hope não queria uma solução. Hope queria chorar e dizer que não aguentava mais, queria dizer que apagaria tudo o que viveu, e logo depois se arrepender de tê-lo dito. Hope só queria alguém que dissesse "sim" para tudo o que falasse.

E agora, com aquele mal-estar com Michael, tudo parecia querer colapsar ainda mais.

- Sabe, pelo menos o semestre tá acabando. Daqui a pouco vamos sair daqui e você vai esquecer tudo isso, vai ver.

Bartender // l.h. auOnde histórias criam vida. Descubra agora