- Tem certeza de que quer fazer isso?
Luke olhou pela janela contornada por ripas de madeira branca e antiga. Estava descascando e alguns filetes claramente precisavam ser trocados. Ele cutucou um desses, experimentando o incômodo que a imperfeição afiada lhe causava.
Ele deu de ombros.
- Não tenho muita coisa a perder. - A sua frente, Ben brincava com seu filho mais velho no jardim, um sorriso estampado no rosto. Corria atrás dele com a animação de outra criança. Era bom vê-lo assim. Luke sentiu-se seguro e confortável por um instante.
Eles conseguiam ouvir o som das ondas batendo contra algum rochedo por perto, um som tranquilo, que ia e vinha, e era tão constante quanto os gritos de algumas crianças da região.
Luke levou a garrafa da cerveja à boca, encostando o quadril no batente da janela.
- Sua vida tá lá. - Jack argumentou, cruzando os braços. - As pessoas estão lá... nós também.
Luke o olhou por um breve momento.
- Vão sentir minha falta? - perguntou com certa ironia, mas uma incerteza angustiante em seu peito.
- É claro que sim. - Jack encolheu os ombros. - Você é parte dessa família, Luke.
Luke olhou novamente para a criança. Sim, ele era parte da família, e talvez justamente deveria considerar se mudar em definitivo para seu lugar favorito no mundo, onde a infância era doce e os traumas estavam distante. Onde nenhuma memória fora contaminada; ele podia fingir que era apenas uma criança de Sidney, que cresceu ali com seus pais e irmãos, que abriu um pequeno bar numa praia que quase nenhum turista se sentia atraído por visitar. Ele podia recomeçar.
Mais uma vez. Deste vez, do jeito certo.
- Você sabe que isso aqui... - Jack gesticulou para a casa. - Isso tudo é temporário, né? São só umas férias curtas. Ninguém realmente pensa em ficar, além de você.
- Não sei o porquê. Estariam todos melhores. - Luke bebericou sua cerveja. - Ben pode começar seu bar aqui, vender o antigo. Você pode trabalhar aqui também. A Patrice não precisa realmente daquele emprego, ela conseguiria coisa melhor aqui. Pronto, tudo resolvido.
- E a garota?
Jack tinha receio em perguntar. Todos tinham. Eles nem falavam o nome dela para não causar maiores problemas.
A garota, pensou Luke, até ela estaria melhor sem mim.
Três semanas já haviam se passado desde que eles discutiram ao telefone. Hope não ligou depois do terceiro dia tentando comunicação, e Luke pensou que era melhor assim.
Ela retornaria dentro de alguns dias para as férias de fim de ano, mas Luke não estaria lá, e ela não sabia disso.
Ben planejou aquela viagem. Com a desculpa de estar saturado do trabalho e precisando de férias, convidou Jack e Luke para passarem uma semana em Sidney, numa casa alugada. Era bom voltar às origens de vez em quando, e o irmão mais novo nunca tinha colocado os pés no país desde sua infância.
Luke respirou o ar puro e refletiu sobre aquilo.
Ele queria se mudar permanentemente. Recomeçar, bem ali, de onde nunca deveria nem ter saído. A vida parecia ser mais feliz, as pessoas pareciam ser mais confiáveis e normais. Nada como onde chamava de casa hoje em dia.
Ainda não tinha onde morar, nem trabalho, mas poderia se virar. Ele sempre se virou.
Mas a verdade é que Luke queria recuperar seu otimismo de outrora. Estava tão perto de conseguir, antes da discussão com Hope. Ele ainda se sentia frágil, mas sabia que teria que caminhar com as próprias pernas para que se recuperasse por completo.
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Bartender // l.h. au
FanficEra para ser apenas um encontro entre sua irmã e o namorado dela, mas Hope acabou esbarrando com o bartender. . . . (Atenção: linguagem explícita e violência).