Epílogo

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A primeira coisa que faço ao acordar, é tentar me levantar, mesmo que todo o corpo esteja doendo e queimando como o inferno, os músculos tensos e minhas mãos, presas por correntes pesadas.

O frio da sala me faz tremer, mas creio que não somente isso que me faz sentir a sensação gelada percorrer minha pele de um jeito enjoativo. Minha cabeça doi e os gritos em minha mente me fazem balançar a cabeça em negação, mal consigo escutar meus próprios pensamentos desconexos, nada por aqui faz sentido no momento.

O que diabos aconteceu?

Tento abrir os olhos, eu devo ter desmaiado depois da luta? Lembro perfeitamente da exaustão, porém mais ainda do sentimento gratificante ao olhar para Bakugou e declarar nossa vitória.

Nós vencemos, certo?

Abro os olhos e me deparo com um teto metálico, o frio em minhas costas também é por conta da mesa de metal em que estou, meus braços estendidos ao lado do corpo não conseguem se erguer por conta do peso das algemas, mas algo mais me faz entrar em desespero quando consigo virar o rosto, olhando ao redor com a agonia lentamente tomando toda a minha sanidade.

Não, não, não.

– De novo, não! Porra! – Tento gritar, porém minha voz rouca e fraca soa completamente patética. Ativo a individualidade, mas isso só me leva a sentir uma dor excruciante, o grito lancinante ecoa pelo local mesmo com minha garganta queimando pela ação.

Eu já estou desesperado o bastante, por que continuam gritando? Parem agora.

Uso todas as minhas forças para erguer o tronco, mas meu corpo mal se move, estou preso e completamente coagido, tudo doi, não tenho como sair daqui.

Não há quem me salvar, contudo, não deixo de pensar em algo um tanto abstrato em meio ao medo inconsequente.

Ele está bem?

– Ora ora, veja só quem acordou... – A voz conhecida se faz presente e sinto que meu sangue agora deve estar fervendo, pois toda a adrenalina que já tinha se esgotado no meu corpo, volta a correr em minhas veias deliberadamente.

Viro o rosto na direção da mulher, vendo-a tão resoluta e venenosa como era naquela época. O vestido negro caindo pelo corpo voluptuoso e em suas mãos, luvas brancas sendo colocadas lentamente. Meus olhos se arregalam e as lágrimas se acumulam nos mesmos quando noto a mesa ao seu lado.

– Me mate de uma vez, sua puta maldita. Você não vai ter ela, nunca vai encontra-la. – Dito mais desejoso pela morte, do que pelo que provavelmente há de me esperar agora.

Eu preciso que saiam, agora. Não vejam, por favor, não vejam isso.

O ar falta em meus pulmões quando um homem todo de branco se aproxima de Konama, segurando uma bandeja com bisturis, tesouras e algo que me obriga a agitar todo o corpo na tentativa de fugir, mesmo sabendo que é inútil.

Seringas, cada uma maior que a outra, dispostas perfeitamente para um fim que prefiro não cogitar enquanto não ocorrer.

– Ah, meu amor... Não se preocupe com a pirralha, ela não é meu interesse – A mulher nojenta se aproxima de mim, olhando-me com desprezo ao segurar meu cabelo próximo ao couro cabeludo, puxando minha cabeça para cima com facilidade, por eu não ter mais como lutar ao ter todo o meu tronco paralisado pela fobia.

– Só me mata, por favor... – Suplico já soluçando, tremendo como um covarde, desejando a morte enquanto meu peito se aperta por tudo o que isso traz ao contexto da minha vida de merda. Eu vou morrer como um lixo, sem nem saber o estado de Katsuki, sua reação ao ver minha surpresa nunca vai chegar aos meus olhos.

Talvez, ele nem ligue para a merda que o entreguei, talvez assim seja melhor.

Eu vou morrer, a história acaba aqui. Eu vou sentir falta de vocês.

– Não, querido... Não diga isso – O tecido da luva passa pelo meu rosto levemente, como uma carícia insipida que me faz tremer ainda mais, lembrando-me de alguém que o faria mil vezes melhor do que esse toque pungente e degradante.

– O que você quer de mim...? – Questiono tentando estender o assunto, entrando em pânico absoluto ao ver que ela se afasta me soltando, justamente para pegar alguma coisa da bandeja, que não consigo ver direito agora, mas sei que me fará gritar.

Já avisei que vocês precisam sair daqui, eu imploro, vão embora. Parem de gritar, parem de chorar, só... deixem de se importar com um merda como eu.

Cuidem deles por mim, sim?

De repente uma dor extrema toma minha perna, mal consegui ver o momento em que Konama pegou uma faca e cravou na minha coxa, não tive tempo sequer de ativar minha quirk para evitar o ferimento, agora a lâmina rasga meus tecidos como se não fosse nada, trazendo uma dor tremenda ao raspar o fêmur enjoativamente.

Eu ainda posso aguentar mais, porém o quanto precisarei fazer?

– Não se preocupe, meu bem. – A voz dela me causa náuseas, o sangue quente contrasta com o fio da minha pele ao pingar nas laterais da minha coxa, empoçando a mesa com o líquido escarlate. Meu coração bate rápido demais e não consigo conter minha respiração ofegante.

Eu prefiro morrer, eu prefiro ter meu fim. Por mais feio que seja, por mais decepcionante que seja.

Takedo está vivo, então eu sou facilmente descartável. Foi erro meu pensar que essa história era minha, nunca foi, nunca foi sobre mim.

Mãos agarram os fios longos do meu cabelo, puxando-o para prender minha cabeça à mesa, fitas de couro são postas sobre a minha testa para manter meu crânio grudado no metal, sem que eu possa agir para fugir de qualquer coisa. Sou capaz apenas de mover meus olhos, conseguindo enxergar a mulher se aproximando com uma seringa vazia, uma agulha de tamanho considerável que me faz lembrar do mesmo exato momento anos atrás.

O mesmo momento. Anos atrás.

Mais uma vez, mais uma vez. Porra.

Vão embora, agora. Parem de ler, parem de ler essa merda!

O sorriso da Viúva Negra se torna extremamente largo ao se deparar com meus soluços sôfregos, declarando as últimas palavras que consigo realmente escutar antes que a dor se faça maior que qualquer racionalidade que eu possa reunir nesse meio, ocultando-se pelos gritos e súplicas que me disponho a fazer ecoarem pelo salão:

– Sua morte está longe de ser uma opção, dessa vez, o intuito é te fazer sofrer. Nenhuma informação vai me fazer parar, eu não preciso de nada além da sua dor. 



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08/12/2020

Redheaded Mercenary || KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora