Trinta e Quatro:

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Perdão pela imensa demora em postar capítulos, caros leitores. Agradeço pela paciência e para me redimir disponibilizarei três  capítulos inéditos.
Deus abençoe.

Att, Lady Derblay

•••

— Eu vou matá-lo, Sra. Lenon! — foi a primeira coisa que Amy exclamou quando a dama querida abriu a porta da biblioteca e a encontrou ziguezagueando entre poltronas e estantes, visivelmente abalada pelos acontecimentos daquela manhã que perduraram através de toda aquela tarde.
 
— Querida...
 
— Nem comece a defendê-lo. Nunca vou entender aquele homem! Nunca! Como ele teve a audácia de sair para uma caminhada pela manhã e até agora não voltar? Eu não consegui comer, pensar ou fazer qualquer outra coisa esperando por notícias e apenas recebo esse bilhete idiota! — Ela mostrou o papel em suas mãos e fez questão de lê-lo: — "Querida Amelie, sei que devo tê-la preocupado, mas não tema, pois nada de mal me ocorreu. Durante o meu trajeto, por providência divina, encontrei Sr. Ernest tentando novamente consertar a ponte e tive de ajudá-lo. Levou mais tempo do que previ e nem mesmo terminamos e sua esposa me convidou para um chá. Devo retornar para a janta. Nos vemos em breve. Fique com Deus". — Ela segurou o bilhete tão forte que o amassou. — E eu aqui passei a tarde toda preocupada, pensando que Nathaniel havia sido comido por lobos! Como pude me casar com um homem tão... Tão...
 
— Imprevisível? Insensível? Bruto? — Sra. Lenon completou, pegando Amy de surpresa pelo tom de indignação contido em sua voz. — Não pense que meu carinho nutrido pelo Sr. Thomas me deixa cega a ponto de não perceber quando comete erros e, definitivamente, não estou nada contente com a atitude dele em tê-la deixado sozinha em tamanha aflição.
 
— Oh, Sra. Lenon... Eu não aguento mais. — Amy suspirou e sentou-se, amolecida, no sofá, apoiou os cotovelos sobre os joelhos e escondeu a face, sentindo-se exausta. — Não lhe falei que seria um erro comparecer na festa de Mary?
 
Discretamente, Sra. Lenon aproximou-se e tomou um lugar ao lado dela. 
 
— Está arrependida? — Ela acariciou as costas da moça.
 
Ao ser questionada, Amy foi obrigada a vasculhar suas memórias, lembrando-se inevitavelmente que   se, por um lado, realmente não tivessem comparecido, nenhuma confusão teria acontecido, porém, foi obrigada admitir que a reconciliação após a festa os levou ao momento ideal onde se entregaram um ao outro.
 
Sem saber bem o que responder, ela encarou a mulher ao seu lado e apenas limitou-se a dizer:
 
— Eu apenas não consigo compreender porque Nathan age assim. — Ela tomou ar e dobrou os lábios levemente. — Uma hora sinto tanta alegria e satisfação ao lado dele que mal consigo parar de sorrir... — engoliu em seco — porém, no momento seguinte preciso lutar contra minha própria vontade de esganá-lo.
 
— Assim são os homens — Sra. Lenon comentou com certa graça. — Nathan ainda tem muito o que aprender sobre ser um bom marido e o modo de tratá-la como um cavalheiro. Infelizmente, tenho a impressão de que a ausência dos pais em ensinar bons modos a ele na infância, gerou resultados nada agradáveis. Contudo, posso lhe dar um conselho?
 
Conhecendo bem, a senhora, Amy imaginou o que Sra. Lenon poderia dizer.
 
— Antes que diga algo, saiba que tentei agir como uma esposa cristã — a moça falou já um pouco alterada. — Nathaniel me pediu para deixá-lo em paz e eu fiz isso, aumentou a voz para mim diante do cocheiro e eu mordi a minha língua tão forte que senti o gosto metálico em minha boca para não rebater e, por fim, ele simplesmente saiu andando colina à fora, mesmo após minhas vãs tentativas de ajudá-lo. E sabe do que mais? Ja imagino qual será o desfecho de tudo. Quando aquele bode velho retornar para casa, serei obrigada a agir como se nada tivesse acontecido pelo bem e a paz do nosso lar.
 
— Está enganada, meu bem. Eu jamais a aconselharia a simplesmente enterrar suas mágoas. — Ela tomou a mão de Amelie. — Penso que deve fazer o contrário e se ficou magoada com essas atitudes de seu marido, espere-o chegar e abra o seu coração, expondo onde exatamente a senhora pensa que ele errou. Conversem sobre essa situação e se acertem. Busque ser mansa e humilde, conforme Deus deseja.
 
Amelie fez alguns segundos de silêncio, pensando o se gostava ou não daquela resposta. Sra. Lenon ao vê-la reflexiva, achou por bem acrescentar uma sugestão:
 
— Por que não vai descansar um pouco? — a mulher mais velha levantou-se. — Prometo chamá-la assim que a janta estiver pronta. 
 
Sra. Thomas negou com a cabeça.
 
— Não, Sra. Lenon. Creio que eu preciso de um tempo com Deus — declarou desanimada. — Sou fraca demais para conseguir lidar com toda essa tempestade sem ajuda do alto.
 
— Nesse caso, vou deixá-la a sós com Ele. E se quer saber, há uma bíblia logo ali — a senhora apontou gentilmente e logo em seguida pediu licença e deixou a biblioteca.
 
Amy não se levantou imediatamente. Ela preferiu ficar quietinha em seu lugar observando o crepitar constante do fogo contido na lareira enquanto seus pensamentos a levavam para um lugar distante.
 
— Eu só quero um pouco de paz, meu Deus — Amy murmurou, sem conseguir desfazer aquele nó gigantesco que se formara em sua garganta. — Só um pouco.
 
Sem conseguir nem mesmo orar, durante os minutos em que passou ali, a triste moça tentou organizar em sua mente o discurso que utilizaria quando encontrasse a razão de seus nervos descontrolados. Contudo, como já era de se esperar, foi incapaz de formular alguma palavra mansa ou humilde e isso a levou a considerar que o melhor a ser feito a fim para a tranquilidade retornar ao seu coração, era buscar e beber sabedoria direto da fonte.
 
Seguindo a instrução de Sra. Lenon, Amy caminhou rapidamente até o outro lado daquela grande sala e encontrou livro de capa preta pertencente ao Sr. Thomas no mesmo parapeito da janela onde ele, vez ou outra, sentava-se para meditar e apreciar a vista que tinham das montanhas, do rio e de boa parte dos fundos do terreno. Todavia, ao invés de permanecer ali, achou por bem aproveitar o pouco da claridade restante daquele dia e resolveu sair de casa, disposta a tomar um pouco de ar antes que a temperatura cedesse ainda mais.
 
Já do lado externo, Amelie tomou um lugar em um banco de madeira na varanda, abriu as Sagradas Escrituras nas mãos e já estava prestes a abrir no Evangelho segundo João quando ouviu o barulho de trotes de cavalo.
 
Seu coração disparou e ela imediatamente concluiu que fosse Nathan chegando, acompanhado de Sr. Ernest, que possivelmente estaria trazendo-o de volta. Apressada, fechou a biblia e segurando-a, caminhou a passos largos até as escadas, onde permaneceu observando o horizonte, esperando paciente pelo momento do reencontro com o marido.
 
Os olhos dela mantiveram-se fixos e não demorou muito até ver que, na verdade quem conduzia um cavalo, sentado sobre uma carroça barulhenta não era ninguém menos do que o Sr. Jake Connor.
 
Ao chegar mais perto, Sra. Thomas pôde ver claramente o estado de aflição profunda revelada no semblante do rapaz. De igual forma, a preocupação foi inevitável para ela, que julgou ter acontecido algo terrível.
 
Teria Sr. Connor descoberto algo a respeito de Nathan que ela desconhecia? Amelie precisava descobrir urgentemente.
 
Inundada de aflição repentina, Amy desceu alguns degraus e não precisou aguardar muito, já que o cocheiro, a toda velocidade logo se aproximou de onde ela se encontrava, puxando as rédeas com brutalidade, obrigando seu cavalo a parar. No instante seguinte ele pulou da carroça e veio até ela.
 
— Oh! Ainda bem que está aqui! — o rapaz exclamou arfante ao alcançá-la. 
 
— Sr. Connor, está tudo bem? — Amy o questionou enquanto contemplava sua inquietude, olhando para os lados, para dentro da casa e para a saída das terras. — Estava procurando por mim? Aconteceu algo?
 
— Sim! Quer dizer, nós precisamos ir agora mesmo...
 
— Ir? Ir aonde? — Ela não entendeu e ficou ainda mais confusa com a urgência do homem quando segurou em seu braço e começou a conduzi-la em direção a carroça. Ela se alarmou grandemente e, por alguma razão, associou que algo havia acontecido com seu marido e Connor sabia. Ela conseguiu se afastar por alguns instantes a fim de questioná-lo: — Fale-me que está havendo? Não estou entendo esse desespero!
 
Ele virou-se para ela e garantiu um pouco mais impaciente desta vez:
 
— Ora! Eu lhe direi tudo no caminho! Mas precisamos ir ou será tarde demais! — Ele pegou no cotovelo dela e a guiou novamente. Chegando diante da carroça, subiu primeiro e lhe ofereceu ajuda. — Vem comigo?
 
Amy, ainda muito confusa, olhou para a mão estendida do rapaz e tomou sua decisão.

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