Dois:

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Casamento não era a palavra favorita no dicionário de Amy. Ela não possuía objeções contra a união marital entre um homem e uma mulher e considerava, como a maioria da sociedade em que vivia, uma instituição sagrada. Contudo, a bela moça não se via como uma esposa dedicada a um homem, principalmente alguém a quem ela não conhecia e lhe poderia privar a liberdade de realizar seus grandes sonhos. Para ser completamente transparente, Amelie considerava-se predestinada ao celibato. Seu pai, porém, discordava e isso ficou mais do que claro quando ela avistou Sr. Aaron Drake, o riquíssimo ferroviário cruzando o salão de festas da mansão LaBelle.

Amy, lembrou-se da chegada do magnata a Bridgestown com sua grande indústria. A presença fria do homem não somente gerou cerca oitocentos empregos, como também grandes especulações e fofocas acerca de seu caráter. Para uns, ele era como uma espécie anjo enviado dos céus nos tempos em que a crise deixava pais de família desesperados, para outros, não passava de um concorrente pretensioso. Quanto a herdeira McKlain, não bastou menos do que alguns minutos de conversa para que ela batesse o martelo, formulando todas as suposições negativas possíveis quanto ao rapaz.

O desgosto da jovem começou um banquete de inauguração da empresa de Sr. Drake. Fazendo parte de uma das famílias mais influentes da cidade, é claro que o convite chegou veloz através de um dos mensageiros à residência LaBelle. Na noite seguinte, bem trajados, pai e filha seguiram para a mansão Dumont, com expectativas de causarem boa impressão. Ao chegarem, Amelie não surpreendeu-se com toda a ostentação daquele que ainda moço herdou toda a fortuna de seus pais e alegrou-se mais com a comida servida pelos mordomos do que com os quadros e tapeçaria dos quais as mulheres tanto comentavam.

Não muito depois, antes da refeição, enquanto os convidados ainda chegavam, Amy flagrou os insistentes olhares do lindo anfitrião, bem apessoado, em sua direção. Ela admirou-o, não podia negar. Até mesmo ponderava se aceitaria ou não dançar, caso o pedido fosse feito posteriormente. Porém, algo absurdo aconteceu.

Os empregados chamaram os convidados para a ceia farta. Ela sentou-se ao lado de seu pai e a algumas cadeiras de distância, Sr. Drake fez o mesmo. O homem pareceu bem disposto a expor seus atributos tanto como pessoa quanto como rico comerciante. Sr. McKlain ouvia tudo admirado, já Amy, mesmo ansiosa para experimentar as iguarias oferecidas, desejava fugir para os jardins e aproveitar aquela noite agradável sobre a luz do luar e, obviamente, não  deu a mínima para a discussão sobre negócios até que Sr. Drake mencionou por puro exibicionismo, talvez, suas intenções de expandir as ferrovias para o lado leste de Bridgestown e para isso, seria necessário demolir o único prédio em seu caminho.

— O orfanato São Marcos? Pretende passar por cima das crianças? — Amy bateu com as mãos na mesa, chamando atenção de todos e deixando de lado toda a sua classe.

Tratando-se de seus preciosos pequeninos, ferroviário algum ficaria em seu caminho. Ela expôs alguns motivos pelos quais aquele seria o maior erro da vida de Sr. Drake, que ouviu tudo sem deixar de lado o cavalheirismo, e só conteve-se quando percebeu o pai vermelho de vergonha ou raiva.

Sr. Aaron até se esforçou para explicar suas razões, mas não havia mais jeito, Amelie perdeu o interesse e jamais o admiraria como homem. Ele, porém, viu na jovem escandalosa algo que lhe atraiu por demais e tomou a decisão de ignorar seus instintos e usar sua inteligência e sagacidade, para dar um jeito de se aproximar da família daquela que lhe cativou.

No dia seguinte mesmo, para desgosto de Amy, ele apareceu para um chá da tarde acompanhado de Sr. McKlain, que voltava da sua empresa. Ela foi obrigada a deixar o ateliê de pintura a fim de participar e aguentar o convidado, sem disfarçar sua raiva por tudo que ele representava. Seu pai, por outro lado, amou a culta companhia do rapaz e podia ouvi-lo narrar por horas suas experiências com economia, direito e negócios. A semelhança entre os dois incluíam não somente aspectos de sua personalidade, como também a vontade desenfreada de ganhar dinheiro.

Uma Nova Vida Para Amy Onde histórias criam vida. Descubra agora