Depois da intensa briga com o marido, Amelie teve uma noite de insônia terrivelmente longa. Sua cabeça latejava pelo excesso de pensamentos e conflitos internos sem soluções. Ao contrário das outras situações onde as divergências de opiniões e personalidades, levaram-na a enxergar Nathaniel da pior forma possível, algo diferente ocorreu dessa vez. A vergonha pela qual passou ao ser comparada a outras mulheres deu a ela uma nova perspectiva de si mesma. Uma perspectiva nada agradável, por certo.
A moça percebeu que, em contraste com as outras garotas de sua idade, ela não fora criada para ser uma esposa excelente. Na verdade, há poucas semanas, ela sequer imaginava que se tornaria a mulher de alguém e agora aquela era sua realidade. Considerou que esse talvez tenha sido seu maior erro. Certamente se não tivesse desperdiçado tantas horas em conversas fúteis com sua amiga Katherine, lendo livros inúteis, ou mesmo se não tivesse passado tantas horas divagando sobre os sonhos de liberdade, teria atendido aos insistentes pedidos de Madame Bovary para ensiná-la toda sorte de dotes e seria uma moça prendada.
“E agora? Como farei, meu Deus? Fui criada assim e, certamente, sem sua ajuda, morrerei assim” Amelie orou quando já era manhã após uma longa meditação nas mesmas palavras do apostolo Paulo ao jovem Tito que o marido havia usado para ofendê-la certo dia. Através das Escrituras ela teve suas fragilidades expostas, mas não fazia a menor ideia de como corrigir seus maus caminhos.
Ajoelhada a beira da poltrona sobre a qual passou boa parte do tempo daquela madrugada, ela segurou a Bíblia em mãos e olhou novamente para as ordenanças “amar meu marido, ser sensata, honesta, boa dona de casa, bondosa, sujeita a Nathan, para que a Palavra de Deus não seja difamada”. O peso dos últimos versos aumentaram ainda mais sua culpa e a fizeram querer chorar. Ela, contudo, respirou profundamente e sentiu em seu coração o desejo de investigar os versos anteriores daquele mesmo capítulo e eles diziam: “quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas”.
Amelie refletiu um pouco e agradeceu ao Senhor de sua salvação ao obter uma instrução tão clara quanto os seus próximos passos.
Ela finalizou sua oração e decidida a resolver seus problemas, dispôs-se em arrumar-se mais cedo a fim esperar por Sra. Lenon que certamente apareceria a qualquer momento na companhia de Sra. Simons, a fim de preparar a refeição matinal.
Apressada, colocou um dos grossos vestidos, casaco e botas e seguiu até a penteadeira de madeira antiga. Sentada ali, levou alguns minutos para pentear seus longos cabelos castanhos. Já terminava de aprontar o penteado quando ouviu algumas batidas na porta, chamando sua imediata atenção. Acostumada com a rotina de ser pontualmente acordada, Amy imaginou ser a senhora com quem tinha tantos assuntos a tratar e animada foi logo foi recebê-la.
— Ora, Sra. Lenon, sabe muito bem que pode entrar sem precisar bater... — Sua fala se perdeu ao puxar a maçaneta e encontrar quem não esperava. As pernas bambearam imediatamente e o ar lhe faltou aos pulmões. — Nathan.
— Bom dia, Sra. Thomas — o homem saudou e tanto seu tom quanto seu olhar pareceram extremamente frios, para desespero de Amelie.
"Por certo, ainda está profundamente irritado como quando me deixou na noite anterior" ponderou a moça analisando as feições do marido.
Ela não soube o que dizer ou como agir. Considerou a possibilidade de se retratar, mas temeu não ser sincera, já que no coração ainda havia muita mágoa.
— Bom dia — murmurou por fim e olhou para baixo. — Deseja alguma coisa?
Nathan soltou o ar lentamente mostrando resquícios de sua impaciência.
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Uma Nova Vida Para Amy
RomanceAmelie McKlain nasceu e cresceu cercada de riquezas, vantagens e mordomias até demais para uma jovem de vinte anos. Contudo seu coração jamais se corrompeu pelo luxo e, como boa cristã, sentia-se na obrigação de servir e ajudar aos mais pobres com s...