Dezesseis:

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Durante três longos dias, Amelie padeceu, na tentativa de recuperar seu corpo de todas as enfermidades provindas de seu acidente infeliz. Todo o frio que passou, não foi nada comparado a chegada de uma gripe, marcada de intensas febres, que a derrubou, deixando aqueles que vinham cuidando de sua saúde, num estado de extrema alerta quanto ao seu prognóstico.

Foi um período de tensão na casa de Sr. Thomas e a garota compreendia a preocupação que vinha trazendo a todos, nas raras vezes em que sua consciência variante a permitia ouvir as belas orações de Sr. Thomas em seu favor, clamando intensamente para que sua vida não fosse ceifada ou alguns comentários de algumas mulheres que vinham zelar por sua higiene e alimentação, sem compreender o significado de muito do que se dizia entre elas.

Na manhã do terceiro dia, porém, Amy abriu seus olhos e, sem todo os delírios febris, conseguiu ver com clareza que estava deitada sobre uma cama macia, em um quarto grande, aquecido por uma lareira, mas iluminado pela fraca luz do sol que emanava da janela. Ela não reconheceu aquele ambiente de primeira, mas pelas mobílias velhas, sabia que ainda encontrava-se na casa de Sr. Thomas.

Sentindo cada músculo do seu corpo doer e as costas latejando, ela rapidamente decidiu que não podia mais ficar deitada. Apoiou suas mãos na superfície do colchão e ergueu o tronco um pouco rápido demais, o que resultou em dores por todas as partes e uma leve tontura. Ela respirou fundo, esperou um pouco e prosseguiu para o passo seguinte. Afastou as cobertas que a aqueciam e, com um esforço intenso, movimentou suas pernas, sem esperar pela dor aguda em seu tornezelo, que a fez ranger os dentes.

Quando averiguou notou algumas bandanas cobrindo o ponto dolorido e lembrou-se, em um flash, do momento de sua queda que a levou direto ao rio.

Sentiu um aperto no peito e uma súbita vontade de chorar. Sabia naquele instante, que por conta de sua inconsequência, deveria estar morta, mas Deus se compadeceu de sua alma miserável, dando a ela outra chance. Ainda assim, ela precisava entender como se deu a sequência dos fatos, depois que perdeu os sentidos.

Foi então, que com todo cuidado, levantou-se, apoiando a perna machucada com delicadeza sobre o piso de madeira. Sem ajuda de uma dama para vesti-la apropriadamente, ela protegeu-se do frio, colocando um casaco masculino longo que encontrou pendurado em um cabide. Não se importou com sua aparência que, certamente, estava desleixada e nem pensou duas vezes ao tomar a decisão de deixar os aposentos. Quando deu por si, já caminhava pelo corredor, traçando o rumo até as escadas.

Enquanto ainda estava no andar superior comprovou, com estranheza, que o quarto de visitas, onde esteve hospedada encontrava-se vazio. Olhou para trás e atestou que durante aquele tempo todo, foi abrigada no quarto do anfitrião, o que, sem dúvidas, a intrigou de todas as maneiras possíveis.

Disposta a esclarecer todas as suas dúvidas  ela desceu as encadas lentamente e com grande dificuldades. Estava exausta quando alcançou o ultimo degrau e precisou para alguns intantes para recuperar-se daquele minimo esforço que fizera.

No mesmo instante ouviu um burburinho ecoando da varanda localizada a alguns metros de onde ela se mantinha parada.

Intrigada, Amelie deu alguns passos até a porta principal, colocou sua mão na maçaneta e estava prestes a girar quando ouviu:

— Sendo filha de George McKlain, duvida que aquela garota tenha armado para o nosso querido Sr. Thomas? Não pode mentir para nós, Suzane. — aquela voz feminina cheia de fúria, deixou Amy sem entender nada. — Eu sei o que vi com meus próprios olhos!

— Já contei a todos! Enquanto não houver um casamento, é melhor que deixemos nossos maridos e filhos longe daquela... daquela...

— Oh, Sra. Falcon, não diga uma coisa dessas! Meu marido é um tolo e, certamente, não resistiria aos encantos de uma mulher fácil se jogando em seus braços. Deus tenha misericórdia!

Uma Nova Vida Para Amy Onde histórias criam vida. Descubra agora