"Dandara foi envolvida pela paixão ardente daqueles beijos e teve a mais pura das certezas: não desejava estar em outro lugar, senão nos braços fortes de seu belo marido".
Amelie arregalou os olhos e as bochechas esquentarem. Ela tinha o coração de leitora repleto de expectativas quanto ao destino do casal da trama ao qual acompanhara ao longo das páginas velhas.
Não conseguia parar de ler.
"A jovem camponesa sentia-se pronta para entregar-se..."
— Ah! Finalmente a encontrei! — exclamou Madame Bovary, a governanta abrindo a porta do quarto com rapidez.
Num gesto rápido Amy fechou o livro e o escondeu abaixo do tecido longo do vestido. Ela tinha plena consciência de suas atitudes obstinadas de ter roubado um dos livros da biblioteca particular de Bovary e ido se esconder nos antigos aposentos de sua falecida mãe.
— Procurei a senhorita por todos os cantos da mansão. Já não lhe adverti quanto esse comportamento? — Madame apoiou as mãos na cintura e estufou os seios avantajados, com objetivo de evidenciar sua autoridade.
— Desculpe, madame.
Sem conseguir segurar o riso, Amy levantou-se do batente da janela e segurou seu segredo com firmeza nas mãos, mantendo-o nas costas. Ficara sentada naquele lugar durante a tarde toda servindo-se de torradas, chá e aquele romance leve.
A governanta franziu os olhos e confirmou as suspeitas: Amelie esteve aprontando alguma.
— Eu conheço essa expressão. — Bovary apontou seu dedo e se aproximou da garota. — Amelie...
— Não faço nada demais... — Amy deu de ombros, mas diante da pressão daqueles olhos afiados. — Ora, senhora! Apenas dediquei-me a leitura. Sabe como sou voraz quando o assunto são romances.
Bovary cruzou os braços sobre o busto.
— Qual é a natureza desses romances?
Amelie com seu espírito juvenil começou a perambular pelo quarto e rodopiar tentando ludibriar sua governanta.
— Um como todos os outros — Amy garantiu erguendo as sobrancelhas. — Uma donzela pura encontra-se por obra divina com um homem lindo, másculo e viril. Eles se apaixonam perdidamente, se casam e bem, a senhora me interrompeu quando Dandara e Rômulo estavam prestes a consumar o seu amor.
A governanta quase caiu para trás com aquela informação e logo em seguida tratou de perseguir a jovem pelo quarto em busca de reaver o seu pertence.
— Por Cristo! O que o pastor Charles dirá sobre suas aventuras, Amy? — questionou arfante.
— Qual o problema? Um pouco de romance não faz mal a ninguém. E para manter a mente pura, eu pulo as descrições excessivas — Amelie informou com grande gosto de atiçar o desespero da mulher gordinha caçando-a como se fosse um gato ela o rato pelo grande quarto.
Após algum tempo teve misericórdia da Madame e lhe devolveu seu precioso livro, enquanto ela gargalhava da situação.
— Espere só o Sr. McKlain ser informado da sua rebeldia — falou pausadamente, respirando devagar.
Amelie arregalou os olhos e foi Bovary quem riu dessa vez.
— Por favor, não conte ao papai — implorou a moça e fez um bico encantador, imitando um cachorrinho faminto.
Se o Sr. McKlain descobrisse qual tipo de entretenimento sugava sua atenção durante as tardes de outono, a esganaria sem pensar duas vezes, isso era certo.
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Uma Nova Vida Para Amy
RomanceAmelie McKlain nasceu e cresceu cercada de riquezas, vantagens e mordomias até demais para uma jovem de vinte anos. Contudo seu coração jamais se corrompeu pelo luxo e, como boa cristã, sentia-se na obrigação de servir e ajudar aos mais pobres com s...