Uma Nova Vida Para Amy

Dez:

A richa entre Bob Johnson e Georgie McKlain era antiga. Inimigos declarados, eles não se gostavam antes mesmo do segundo tornar-se rico de uma hora para outra e partir de Grace Ville com sua esposa para sempre. Para ser realista, a fuga de Sr. McKlain só aumentou os pretextos do prefeito Johnson para desejar vingança, e, se possível, a morte daquele que era um de seus mais odiosos oponentes. Há anos aguardava paciente pelo momento em que enfrentaria McKlain face a face e todos na cidade sabiam disso. Todos, menos Amy, é claro.

Amelie não imaginava quão ultrajado o prefeito sentiu-se ao deparar-se com ela, uma delicada e inocente criatura, buscando por ajuda, sem saber o tamanho do peso que seu sobrenome carregava. A ideia de punir McKlain através de sua filha passou diversas vezes na mente do prefeito. Ele, entretanto, conteve-se e decidiu não se precipitar até que descobrisse as motivações do tolo homem ao colocar a filha em risco, enviando-a sozinha em uma longa viagem. Ainda assim, Bob não se privou de se divertir um pouco às custas da tolice da moça, que de bom grado aceitou sua oferta supostamente amigável de encontrar um modo  fazê-la chegar ao seu destino.

A moça nem mesmo desconfiou dos apuros em que estava prestes a se meter. Sinceramente falando, ela considerou cada mísero segundo daquela aventura muito proveitosa, apreciava sua independência e o fato de não precisar prestar contas a qualquer pessoa.

Nunca em toda a sua vida ela se imaginou em circunstâncias tão inusitadas. Naquele exato momento viajava sobre uma carroça antiga e barulhenta de um homem mais velho ainda. Ela só aceitou, pois o prefeito garantiu não haver nenhuma outra opção, além de pegar uma carona ao lado de  Sr. West que seguiria na mesma direção desejada pela moça desesperada em cumprir sua missão.

O caminho de terra percorrido já durava alguns quilômetros distante do vilarejo do qual Amy partiu com grandes esperanças. Ela almejava retornar antes do anoitecer e assim partir daquele lugar. Não que não tivesse se deleitado com as belezas peculiares daquele fim de mundo, mas sua vida começaria quando seus pés estivessem na residência de sua tia Ophelia. Tal urgência acabou cegando um pouco seu raciocínio.

Depois de uma hora e meia do constante balançar da carroceria, Amy já não aguentava mais. Ela tinha a impressão que jamais chegaria ao seu destino e agonia lhe consumia os ossos doloridos da viagem. Além do mais, o tédio a incentivava a se distrair enchendo os ouvidos de Sr. West. Contou a ele tudo sobre sua antiga casa, desde ao primeiro botão de rosa que viu nascer no jardim até a vez que se escondeu na torre mais alta por um dia inteiro e foi encontrada dormindo no chão empoeirado por Madame Bovary. Ela também descreveu a aparência de cada um dos funcionários da mansão LaBelle, seu carinho pela melhor amiga e o desgosto por Sr. Drake. Falou muitas outras coisas ainda, aproveitando-se do fato de seu companheiro ser calado como um verdadeiro fantasma.

— E então? Falta muito? — era a quinta vez que entre um relato e outro ela questionava o condutor querendo saber quanto faltava até que chegassem, pois até então não vira nada alem de paisagens rurais e gado aqui e acolá.

Já irritado, Sr. West bufou, ele podia ser quieto como um túmulo, mas também era humano e  não suportava mais a madame impaciente lhe perturbando o juízo.

— Bem, está vendo aquela curva? — O homem questionou com certo quê de contentamento na voz. O seu sofrimento estava chegando ao fim. — Minhas terras ficam a alguns metros dali.

— Isso é um ótimo sinal! — A moça soltou um suspiro e uniu as mãos.— Já estamos perto então, glória a Deus.

O homem ergueu uma sobrancelha e decidiu voltar ao silêncio pelos próximos minutos.

Amelie também se calou, pois começou a pensar possibilidade de oferecer dinheiro ao Sr. West para levá-la de volta ao centro da cidade, imaginando que ele seria misericordioso. Mas os dois não seguiam em sintonia de planos e ela se deu conta disso quando o homem alcançou a curva referida e foi aos poucos desacelerando seus cavalos até fazê-los parar completamente.