— Amelie? Não está me ouvindo? — a voz de Madame Bovary soou aos ouvidos da moça que, perdida em seus pensamentos soturnos, observava a paisagem através da janela da carruagem, levando-a para casa.
Sua mente não parava de repetir os momentos terríveis que viveu ao ver o pai desfalecendo e sentia-se culpada pela briga que antecedeu o acontecimento. Felizmente, Sr. McKlain não morrera no dia do baile há cinco dias. Contudo, segundo o médico da família, Dr. Jones, seu estado era crítico e delicado, por isso até o momento em questão, o homem permanecia em severo repouso. Amy sentia seus joelhos doloridos de tanto orar em secreto pela saúde de pai. Ela, apesar de ter sido ferida pelas palavras dele, não lhe desejava mal algum.
— Não achou formidável o modo como as crianças do orfanato reagiram aos seus presentes? Elas são tão amáveis! — declarou madame em sua segunda tentativa de estabelecer contato com a mocinha de cabeça nas nuvens. — Embora gostem mais da senhorita, eu amo quando as visitamos!
— Os pequeninos foram o auge do meu dia, da semana e do ano, ouso dizer — Amy lamentou e soltou um suspiro. — Minha cabeça e coração estavam com papai. Oh, madame! E se ele jamais voltar a se recuperar? Preocupo-me mais com sua alma do que com o corpo, afinal é de conhecimento geral sua guerra travada contra o Senhor. E se morrer no estado no qual se encontra?
Compadecendo-se da menina, a governanta aproximou-se e a acolheu em seus braços, que por sua vez reclinou a cabeça no busto daquela senhora tão amável.
— Oh, querida! Seu pai pode ser - desculpe-me pelo que vou dizer- um tolo, mas Deus é quem está no controle de tudo. — A governanta acariciou as costas da menina. — Sabe disso, não é, minha menina?
Amelie secou suas lágrimas apressadas, assentiu a pergunta e preferiu manter-se em silêncio pelo restante do caminho. Não muito depois, o transporte parou em frente aos portões da mansão e, com ajuda do lacaio, tanto ela quanto sua governanta desceram.
A ansiedade da moça para obter notícias de seu pai, que em sua ausência ficou sobre os cuidados de Gilbert, o assistente de Dr. Jones, a motivou a sair em disparada rumo ao interior da residência. Ela passou pelos empregados, cumprimentando-os, subiu as escadas apressada e foi ao encontro do enfermo em seu quarto.
O coração de Amy apertou-se ao encontrar o homem da mesma maneira na qual foi deixado há algumas horas. Deitado com um semblante nada amigável, Sr. McKlain estava acordado, mas parecia muito pálido e inexpressivo.
— Eu já disse, saia daqui! Estou perfeitamente saudável, seu inútil — o homem doente aumentou a voz e foi acometido por uma tosse longa.
— Abra a boca, Sr. McKlain. Esse remédio lhe fará bem — insistiu o rapaz tentando lidar com a obstinação de seu paciente se recusando a tomar o xarope.
Diante da cena, Amelie aproximou-se e saudou Sr. Gilbert, visivelmente irritado. Pôs no coração o objetivo de oferecer seu auxílio.
— Ora, papai. Deixe o homem fazer o trabalho que está sendo pago para fazer — pontuou em tom de autoridade.
Ao perceber a aproximação da filha, a raiva já foi se apossando do coração endurecido de Sr. McKlain.
— Por acaso entende algo de medicina? — arguiu o o pai rabugento. — Se este homem me envenenasse com essa mistura, eu não me surpreenderia, afinal não seria a primeira vez que alguém intenta contra minha vida.
O olhar acusatório que lançou na direção da garota, a fez estremecer furiosa.
Como ele podia afirmar uma barbaridade daquelas?
— Já lhe pedi perdão, meu pai! E jamais intentaria algo contra sua vida. — Estufou o peito. — Não seja injusto comigo.
— Você quem está sendo injusta comigo, Amelie! Estou nessa condição devido a sua rebeldia. — Ele bufou. — Espero que minha condição lhe tenha feito perceber sua ingratidão.
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Uma Nova Vida Para Amy
RomanceAmelie McKlain nasceu e cresceu cercada de riquezas, vantagens e mordomias até demais para uma jovem de vinte anos. Contudo seu coração jamais se corrompeu pelo luxo e, como boa cristã, sentia-se na obrigação de servir e ajudar aos mais pobres com s...