Seis:

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Quando Amelie chegou desesperada a entrada dos aposentos de Sr. McKlain, tomou um grande susto. Encontrou dois homens gigantescos, de aparência rude e nada familiar barrando seu caminho até o pai.

Desesperada e em busca de notícias, a moça não se intimidou com os convidados inusitados, antes estufou o peito, cruzou os braços e parou diante das duas muralhas a sua frente ostentando uma pose esnobe.

— Posso saber quem são os senhores e o que fazem na minha casa? — ela foi direta ao assunto.

Um dos brutamontes retirou o chapéu da cabeça, sorriu de lado e observou a moça com certa malícia.

— Seu papaizinho está recebendo uma visita de  um velho amigo, queridinha — respondeu com escárnio.

Queridinha? Quem aquele homem pensava que era?

— Deixe-me passar, preciso ver meu pai, é urgente — ela pediu, segurando-se ao máximo para não explodir.

— Recebemos ordens para não deixar ninguém passar — informou o outro homem. — E somos leais ao patrão.

— Eu não me importo! — Ela bateu com o pé no chão. — Os senhores e àquele a quem obedecem invadiram minha casa e exijo que saiam antes que eu chame as autoridades!

Por alguma razão, o chilique da menina causou gargalhadas entre os dois que fizeram questão de esclarecer sua oposição contra as forças legais ao mostrarem a pistola guardada no coldre preso a cintura de ambos.

— Quem são vocês e o que desejam com meu pai? — Amelie questionou sem deixar claro a hesitação. Ela até mesmo fincou com os pés no chão, temendo mostrar o quanto tremia naquele instante. Os homens, porém, a ignoraram, a princípio. — Se vieram nos assaltar saibam que papai, apesar de ignorante quanto assuntos femininos, é um homem muito inteligente e, obviamente, não teria dinheiro guardado por aí.

— Ora, menina chata, isso não é da sua conta. Vá fazer suas atividades de mulherzinha e nos deixe em paz — enxotou-a o grandalhão. — Ande, saia daqui!

Amelie abriu a boca indignada com aquela afronta.

— O senhor não é nada cavalheiro! Deveria respeitar as damas e...

Ela foi interrompida pelo abrir brusco da porta de madeira. A figura de um homem velho, alto de grandes cabelos e bigode grisalho apresentou-se com sua postura austera e pegando-a desprevenida.

— Tio Ed! — Amelie gritou e sentiu um grande alívio por ver aquele rosto assustadoramente conhecido.

— Minha sobrinha — O homem com aquela voz grossa, adiantou-se até Amelie apenas para depositar um beijo no dorso de sua mão. — Que grande prazer revê-la!

A alegria tomou conta do coração da garota. Há tempos não se encontrava com o irmão de sua falecida mãe. Ele, assim como sua tia Ophelia morava em cidades distantes e seu pai ainda não suportava a presença de parentes, o que dificultava, e muito, a visita dos parentes.

— Igualmente! Oh! Que bênção tê-lo em Brigdestown! Eu não esperava que viesse — Ela sorriu animada. — Mas, precisava trazer consigo esses homens rudes para fazer sua segurança?

— Eles te disseram algo? — O homem franziu as grossas sobrancelhas.

Amy pensou e resolveu não ser a causa da demissão daqueles dois.

— Não se preocupe — ela desconversou. — O que de tão importante o trouxe aqui?

O tio passou os braços as redor das costas da sobrinha e pensou em um modo de não revelar mais do que podia sobre a conversa séria que tivera com o cunhado.

— Fui contratado para trazer um recado de alguém importante ao seu pai. Alguém que ele havia esquecido da existência — informou resumidamente e ao ver o brilho de curiosidade ganhar espaço nos olhos dela, resolveu mudar de assunto. — Também trago notícias de minha irmã Ophelia. Ela lhe espera ansiosamente para a temporada de inverno.

A notícia encheu Amy de alegria. Ela mal via a hora de aprender sobre o universo da costura. Há meses não pensava e orava por outro objetivo senão pelo momento em que se dedicaria ao seu maior talento. Até então sua vida se resumia às suas inabilidades com qualquer qualificação exigida para um dama de sua idade, por isso desejava com todas as forças, mudar essa realidade o mais depressa possível. Havia, no entanto, alguns impedimentos que a desanimavam toda vez.

— Oh, meu tio, não sabe quantas injúrias tenho sofrido nesta casa — Amy lamentou, exagerando um pouco no drama. — Desejo tanto estar com tia Ophelia, mas o senhor bem conhece o coração endurecido do senhor meu pai. Ele jamais me deixará partir.

— Não esquente sua cabecinha jovem, minha querida — Ele acariciou os cabelos da sobrinha. — Tudo será resolvido a seu tempo. No tempo de Deus, não era o que sua mãe Macy dizia?

Amy suspirou, admirada com tais palavras e sorriu, lembrando-se da fé inspiradora da mulher que a gerou.

— É, tudo haverá de se cumprir conforme os decretos do Senhor Deus — ela declarou mais tranquila.

Tio Ed sorriu e depositando um beijo na mão da moça.

— Isso mesmo, bonequinha. — Ele suspirou e ajeitou seu chapéu na cabeça. — Agora deixe-me ir. Preciso continuar meu trabalho longe de Bridgestown.

Amy insistiu ao homem que permanecesse ali com eles por mais alguns dias, mas não houve quem o fizesse mudar de ideia. Sem opções, restou levar e despedir o tio e seus capangas até a entrada da mansão e prometer que oraria por um encontro em breve.

Sem conseguir omitir a curiosidade, Amy subiu as escadas e fez o caminho ao encontro de seu pai. Quando entrou, se espantou ao ver a movimentação anormal no lugar.

Sr. McKlain estava perturbadissmo como nunca esteve antes. Amy sabia que, obviamente isso tinha relação com a recém-visita de seu tio, afinal o cabeça da casa fazia de tudo para evitar qualquer contato com a família de sua esposa.

— Não acredito! Não acredito! — ele exclamava rodando com dificuldade pelo quarto em busca de algo. — Preciso pensar em algo! Preciso tomar uma decisão! — Foi ao criado-mudo de onde tirou um papel. — Pensa, pensa, pensa!

— Papai, o senhor precisa se acalmar — Amelie tentou se aproximar e percebeu o grande transtorno que o deixava até mesmo tonto. — Sente-se e respire por um momento.

— Silêncio! Eu preciso pensar! — ele aumentou o tom de voz e esbarrou na garota quando resolveu voltar alguns passos procurando por uma pena e um tinteiro.

A raiva do pai começava a preocupar Amy que definitivamente precisava saber o que estava acontecendo.

— Quer me contar por que está agindo assim? Como posso ajudá-lo?

— Você? Você, me ajudar? — Ele riu com zombaria por um instante, mas logo em seguida fez alguns instantes de silêncio até que uma lamparina acendeu em sua cabeça. — Sim, sim... Isso seria... Não, mas e se... Oh, não... Espere! Não importa... É isso!

— Papai, deixe-me checar se o senhor não está com febre, parece estar delirando — comentou receosa. — Posso chamar o Dr. Jones se quiser.

Inesperadamente, Sr. McKlain achegou-se a filha e lhe deu um grande abraço.

— Preciso, desesperadamente que me faça um grande favor!

Uma Nova Vida Para Amy Onde histórias criam vida. Descubra agora