Quarenta:

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A madrugada na residência dos Thomas não fora nada fácil, principalmente para Amelie.

Dominada pela ira daquela situação  desagradável, Amy estava disposta a levar a sério sua decisão de partir de Grace Ville, por isso subiu as escadas, trancou-se no quarto do casal e, agindo por impulsividade, começou reunir suas roupas que haviam ali.

Perguntas do tipo, para onde iria, o que faria e a quem recorreria foram ignoradas por Amy. Sua decisão se resumia apenas a deixar Nathan e não tolerar aquela humilhação.

O coração da pobre moça estava esmigalhado e a todo momento as palavras da carta ressoavam em sua cabeça.

Seu pai havia passado de todos os limites possíveis. Ele não pensou duas vezes antes de usá-la em seus esquemas. Ignorou todos os seus sonhos e vontades a fim de enredá-la em um casamento forçado. Se fosse justo, podia apenas ter pago a dívida e encerrado o assunto, mas, ainda assim, usou aquela oportunidade única para se livrar dela como quem se livra de uma praga no jardim.

"Que tipo de pai faz isso com a própria filha?" Ela pensou indignada.

E a pior parte vinha depois disso.

Nathan, o seu Nathan, a quem havia aprendido a amar, o homem que se tornara não apenas seu marido, mas também um amigo, companheiro e amante, foi complacente com toda a tramóia, não levando nada em conta além de seus próprios interesses.

A imagem do rapaz íntegro, misericordioso, proclamador da verdade e temente a Deus, ia se desfazendo aos poucos perante os olhos dela, ao passo que a mágoa tomava proporções gigantescas em seu peito.

"Como lidar com essa situação, Senhor?" Orou enquanto retirava mais e mais vestidos do baú.

Era a primeira vez que ela recorria a Deus desde que encontrara a carta e foi só então que se deu conta do quanto precisava do amparo de seu Pai Celestial.

Sentia-se tão triste, tão perdida, tão quebrada...

Até então, Amy agia puramente pela frenesi, mas bastou parar aquele mísero segundo que o cansaço tomou conta do seu corpo. Foi então que lembrou-se do bebê e sentiu grande culpa. Todo aquele nervosismo e agitação certamente não deveriam fazer bem ao seu pequenino e, segundo os conselhos de Sra. Lenon, o grande abalo emocional de uma mãe poderia até mesmo implicar na perda de seu filho. Amelie não queria isso de modo algum, por isso tomou a sensata decisão de servir-se com um pouco de água do jarro que ficava sobre a escrivaninha e sentar-se na poltrona próxima a lareira.

Já acomodada, Amy fechou os olhos e expirou bem devagar repetidas vezes. Ela manteve-se quieta por alguns instantes, orando e clamando a Jesus Cristo por calma, sabedoria e discernimento. Demorou um pouco, mas seus batimentos cardíacos foram desacelerando, as mãos pararam de tremer e só lhe restou como escape chorar por vários minutos seguidos, até sentir aquela agonia em seu peito ser amenizada.

Não queria pensar em mais nada relacionado àquela briga, mas sentiu que deveria desabafar com o Senhor, contando-lhe detalhadamente suas razões em estar tão desapontada com Nathan. Enquanto falava, a perturbadora pergunta “e se você também estiver errada?” lhe ocorreu a mente e confundiu suas convicções. A princípio, Amy negou tal possibilidade e estava segura de que não havia feito nada além de expor a verdade, porém, surpreendeu-se ao recordar de alguns dos atributos de seu marido. Por mais que quisesse negar, ela precisava admitir que ele sempre demonstrou um senso de justiça, um caráter impecável e o desejo constante de oferecer auxílio aos necessitados. Naqueles meses de paz compartilhados entre ambos, ela pôde ver o quanto Nathaniel era um homem cristão, que dedicava-se e amava a Deus e também todo o cuidado despendido em relação a ela, que vinha sendo tratada como uma jóia rara e delicada. E, se assim era, por que ele agiria de forma tão repugnante? Por que a machucaria de tal forma? Teria ele mentido por todo aquele tempo?

Uma Nova Vida Para Amy Onde histórias criam vida. Descubra agora