Vinte e Cinco:

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Amelie não pôde conter o tremor de suas pernas e tampouco o embrulhar do estômago quando viu todos aqueles semblantes de homens e mulheres acomodados em cadeiras dispostas no celeiro onde o culto costumava acontecer. Sentindo-se desconfortável, ela olhou para trás contemplando o caminho percorrido do casarão até a porta de madeira do local. Suspirou e considerou seriamente retornar, afinal podia muito bem reunir-se com o Seu Deus, sem correr o risco de passar por algum vexame.

— Não há nada para se temer, Amelie — declarou Nathan como se pudesse ler os pensamentos de sua esposa. — Essas famílias são todas de minha confiança. Posso garantir que não lhe farão mal algum.

Ela sorriu e sentiu confiança naquelas palavras. Nathaniel estava se mostrando um verdadeiro cavalheiro e conseguiu a proeza de impressioná-la com o acordo proposto. Começar o relacionamento entre os dois do início parecia algo irreal, tendo em vista que já estavam unidos pela sagrada aliança do casamento, mesmo assim, se possuía alguma chance de felicidade mútua ao lado daquele homem, Amy não recusaria. Na verdade, ela ficou realmente muito encantada e não conseguia parar de pensar nas palavras e atitudes de seu marido, mostrando seu esforço a fim de criar laços com ela. Foi até mesmo dominada por um novo tipo de ansiedade quando terminou de se aprontar para o culto e Nathan, conforme prometera, a buscou na porta de seu quarto, munido de sua bíblia e uma singela flor, com a qual gentilmente a presenteou. Suas bochechas ardiam só de relembrar como aquele gesto a tocou profundamente. Sendo assim, se pudesse retribuir e agradar ao esposo, ela deveria começar mostrando-se corajosa diante de toda aquela gente que precocemente a odiava.

— E se não gostarem de mim? — ela sussurrou segurando mais firme ao braço de Nathan.

— Talvez gostariam mais da senhorita se não parecesse estar com medo deles — comentou o rapaz com um tom de divertimento.

Ela olhou para Nathan com espanto.

Como alguém poderia desvendá-la tão facilmente? Era tão transparente assim?

— Eu estou com medo deles — confessou baixinho. — Medo de não me aceitarem, o senhor sabe bem o motivo.

— Bem, a verdade foi esclarecida a todos e as devidas providências foram tomadas para que ninguém sofresse dano. — Nathan declarou e segurou sua mão com firmeza. — Se a rejeitarem, estarão rejeitando a mim também, pois somos um. Certo?

Ela tomou ar e refletiu um pouco antes de afirmar com um manejo de cabeça.

— Certo, certo...

Amelie ainda permaneceu um pouco contrariada, mas acabou seguindo as ordenanças do marido ao sorrir discretamente e acenar para alguns conhecidos com quem tivera algum contato. Ela se alegrou por receber a aprovação de alguns, mas notou não muito distante dali, algumas senhoras sérias, de postura rígida e olhar impertinente. Certamente a enxergavam da pior forma possível. Ainda assim, a jovem Sra. Thomas resolveu tomar as palavras de consolo do marido e não se permitiu ofender.

“Se sabem a verdade, então não é de minha responsabilidade forçar ninguém a acreditar ou aceitar. Fatos são fatos” disse a si mesma e voltou sua atenção ao marido.

— Pode sentar-se aqui, assim poderei vê-la enquanto exponho às Escrituras dali da frente — Nathaniel explicou e conduziu Amy até uma das cadeiras.

— Eu não sabia que o senhor também atuava no cargo de pastor — ela comentou espantada.

Nathan negou rapidamente com a cabeça.

— Oh, não. Longe disso. — Segurou sua Bíblia contra o peito. — Nós costumamos ir à igreja a fim de ouvir a um pastor de verdade nos meses quentes. No inverno, porém, conforme testemunhou, o reverendo viaja para sua cidade natal e eu me vejo responsável de não permitir que essas pessoas esfriem o temor do Senhor em seus corações. Sendo assim, mesmo de forma pouco articulada, leio a Palavra, cantamos alguns salmos e desfrutamos de uma refeição juntos.

Uma Nova Vida Para Amy Onde histórias criam vida. Descubra agora