Uma Nova Vida Para Amy

Vinte e Oito:

"Santo Deus! Que sonho foi este?" Ponderou Amelie quando abriu seus olhos, despertando de sua noite de sono.

Angustiada, ela ergueu o corpo, sentando-se na cama enquanto tentava organizar seus pensamentos. O processo de recordar as vívidas imagens retratadas em seu imaginário enquanto  dormia foi rápido lhe trouxe grande constrangimento. Sentiu as bochechas esquentando como a brasa da lareira em seus aposentos.

Amy mal podia crer, mas, estranhamente, havia sonhado de um modo muito realista que o marido lhe havia dado um beijo de amor, intenso o bastante para despertar em seu íntimo sentimentos que jamais havia experimentado antes.

Ainda um pouco desnorteada e confusa, ela tocou seus próprios lábios e arregalou os olhos, pois não, aquilo não havia sido um daqueles sonhos inexplicáveis totalmente aquém da realidade, e sim uma recordação clara do dia anterior. Mais especificamente falando do momento em que foi surpreendida ao constatar como a prática dos conselhos de Sra. Lenon surtiram efeito sobre seu marido tão rapidamente. E que grande efeito, ela pensou acanhada.

O que mais a surpreendeu não foi somente o fato de ter sido alvo de toda a atenção e carinho de Nathaniel pela primeira vez em muito tempo, mas chocou-se realmente consigo mesma ao perceber o quanto havia se deleitado com aqueles singelos gestos. Não só o beijo lhe foi agradável como também a sinceridade dos sentimentos contidos nos olhos dele ao observá-la.

— Ah, Nathaniel! — ela sussurrou em meio a um suspiro e sorriu ao constatar seu vergonhoso estado. De tão encantada, ela precisou admitir a si mesma que não conseguia parar de pensar no rapaz. — É você quem me confunde e enlouquece.

Inquieta, fechou os olhos e permitiu-se viajar naquelas divagações, sentindo-se diferente ao finalmente começar a admirar o jovem Sr. Thomas como uma mulher admira um homem. Estava, na verdade, vivendo um grande conflito interno, pois enquanto sua razão se esforçava para resistir à vastidão de seus sentimentos, não podia dizer o mesmo do coração, uma vez que, em ardente expectativa, ansiava reencontrar o marido.

Permitindo-se ser um pouco tola, Amy cedeu ao seu lado emocional e foi se aprontar.

Deixou o quarto não muito depois e sentiu um frio no estômago por não saber muito bem como se comportaria quando estivesse diante de Nathan.

Embora houvessem partilhado uma refeição na noite anterior, eles não conversaram muito entre si. Sra. Simons foi quem os entreteu, desatando a relatar o estado de cada inquilino e empregado vivendo nas terras de seu estimado patrão. Ainda assim, os constantes olhares discretos dele não passaram despercebidos a ela que, tímida, respondia com sorrisos contidos. Quando os pratos foram recolhidos, Nate dispôs-se cordialmente a acompanhá-la até sua porta, mas, inexplicávelmente ela temeu que a recente intimidade surgindo entre os dois o levasse a exigir mais do que um simples beijo às escondidas na biblioteca, por isso negou sua oferta. Só pensou depois, no conforto das cobertas, que não, o marido jamais seria capaz de forçá-la a nada e seria tolice pensar o contrário. Com isso, dormiu, sonhou e acordou ansiosa para desejar-lhe um excelente dia.

Seus planos, no entanto, não demoraram a serem frustrados.

Mal chegara à cozinha e logo notou a presença de Sra. Simons retirando os utensílios do desjejum.

Certamente, Nate estivera ali, ela concluiu.

— Bom dia, Sra. Simons! Por acaso, viu o Sr. Thomas? —  foi direta ao ponto, imaginando que, com alguma sorte,  ainda poderia ir ao encontro do marido em algum lugar da fazenda.

A senhora levou um grande susto com aquela chegada tão abrupta, derrubando o restante do café contido na xícara segurada em suas roupas.

— Menina! Isso é jeito de chegar? Quer me matar de susto? — Pôs a mão sobre o peito e bufou de raiva ao ver a mancha no vestido. — Olhe só o que fez... Oh! Senhor, dá-me paciência!