Peço perdão a todos pela demora da postagem. Prometo correr com o próximo capítulo 😊
-Lady Derblay
______— O senhor tem certeza que ficará bem? Está congelando aqui fora — Amy perguntou ao simpático Sr. Connor que lhe fazia companhia enquanto ambos aguardavam Nathaniel retornar de uma conversa com um de seus amigos funcionários da propriedade Johnson.
— Sou um homem crescido, patroa. Não tema pelo meu estado. — Ele sorriu, ajustou o cachecol vermelho ao pescoço e lançou um olhar compassivo para a moça parada ao seu lado. — Estou mesmo preocupado com a senhora entre esses esnobes. Ficará bem?
A arquitetura exterior era tão deslumbrante quanto as casas as quais visitou em Bridgestown. As janelas eram compridas, as pilastras grandiosas e havia até um caminho decorado por canteiros e arbustos cobertos por neve que, provavelmente, davam acesso aos jardins nos fundos. Cada detalhe mostrava muito do poder aquisitivo dos donos. Com tanta sofisticação, ela imaginou que certamente o prefeito deveria ter investido muito dinheiro para ostentar o quanto e para quem quisesse.
— Sem a menor dúvida me sentirei como um patinho feio entre os mais belos cisnes. — Amy suspirou com pesar e flagrou não muito depois seu cocheiro elevar uma sobrancelha. — Não estranhe, Sr. Connor. Tenho todos os motivos do mundo para pensar de tal modo.
— Motivos infundados — ele contestou e riu com discrição. — Seu marido é um homem de muita sorte.
Amelie, desconcertada, abriu a boca, mas não foi rápida o bastante para responder.
— O marido dela sabe muito bem disso — Nathan foi quem disse, retornando abruptamente. — Pode conduzir a carruagem até o galpão naquela direção, Jake. — Apontou e em seguida, colocou-se a frente do cocheiro, estendendo o braço para que a esposa pudesse se encaixar. — Vamos, querida?
— Até mais, Sr. Connor. — Amy acenou com a cabeça para o rapaz e foi levemente puxada pelo marido ao seu lado, incentivando-a a caminhar mais rápido. Ela estranhou o gesto, mas nada disse e seguiu, sentindo o coração palpitar mais forte a cada passo dado em direção a mansão.
O casal aproximou-se da entrada e Amy pôde ouvir com mais clareza o som da música alegre tocando e os burburinhos que a deixaram agitada, ainda mais porque estavam atrasados. Ambos foram recebidos por um mordomo educado que fez questão de pegar casacos, cachecóis, luvas e até o chapéu usado apenas por ela, prometendo devolver quando partissem. Só então os conduziu pelo hall até uma porta dupla no fim daquele mesmo andar. A hora temida finalmente havia chegado e Sra. Thomas sentia-se prestes a desmaiar.
— Não estou reclamando, mas desse jeito vai arrancar um pedaço meu — Nate comentou com certa graça e fez sua esposa perceber o quão firme se segurava ao braço dele. As bochechas dela coraram em resposta. — Fique calma ou vão achar que te obriguei a estar aqui.
A gracinha a deixou ainda mais alterada.
— Estou muito tentada a pisar em seu pé agora mesmo, meu marido — ela declarou entredentes e foi forçada a sorrir quando as portas duplas foram abertas revelando-os aos que estavam do outro lado.
Amelie ficou imediatamente impressionada assim que foi introduzida com Nate naquele belíssimo lugar. O salão era enorme, bem iluminado e decorado por lindos quadros e esculturas que deveriam ter custado uma fortuna. Também havia uma mesa farta servindo um banquete aos vários convidados bem apessoados transitando pelo salão e instrumentistas em um canto, tocando músicas variadas. Amy viu alguns casais dançando no espaço reservado, como era de se esperar e sentiu-se constrangida por não ter presenciado a primeira valsa dos noivos."Se Nate não tivesse demorado tanto" Ela murmurava mentalmente, sentindo-se péssima convidada.
— É melhor se preparar. Nosso amigo vem nos cumprimentar — Sr. Thomas sussurrou ironicamente para ela e levou alguns segundos para entender a quem ele se referia.
— Olha só o que temos aqui. — Bob Johnson saudou não sendo nada amistoso.
Inevitavelmente, Amy olhou para o marido, temendo alguma atitude violenta da sua parte contra o prefeito, mas não viu nada em sua face além de um sorriso forçado.
— Oh, querido, Nathaniel! Que alegria saber que aceitou nosso convite! — Uma mulher alta, esguia, de cabelos loiros exclamou. Por estar parada ao lado do prefeito, não foi muito difícil para Amy descobrir de quem se tratava a figura elegante. — E vejo que trouxe sua esposa. Que criatura adorável!
— É uma grande alegria revê-la também, Sra. Johnson — Nathan respondeu com simpatia e Amy ergueu as sobrancelhas. Até então ela pensava que da família de seu maior opositor, apenas Mary lhe agradava, contudo claramente o afeto se estendia à senhora sorridente também. — E sim, essa é minha esposa, Sra. Thomas.
Sr e Sra. Johnson voltaram olhar para Amy com atenção. Tímida, ela fez uma mesura com a cabeça.
— Ficamos honrados pelo convite — ela expressou ansiosa para passar uma boa impressão.
— Ora, vejo que se adaptou bem á Grace Ville, Sra. Thomas — comentou o prefeito em um sutil tom de escárnio e até riu quando disse: — Se o orgulhoso do seu pai pudesse vê-la agora. Eu morreria se minha filha estivesse casada com um verme desses e...
— Bob! — censurou, a esposa. — Pelo amor de Deus, você prometeu.
— Perdão — ele retratou-se, porém não parecia verdadeiramente arrependido. — Podem aproveitar festa o quanto desejarem, com certeza não devem ter tanta fartura todos os dias e estou generoso pela ocasião do noivado de Mary com Richard, que é um homem de valor e posses.
Amelie tremeu ao ver seu marido cerrar os punhos e resolveu acalmá-lo segurando firme em sua mão. Ele a encarou e ela sorriu, como se dissesse para não se importar com as ofensas daquele homem desprezível e vil. Em seguida tomou a liberdade de pedir licença aos Johsons e assim continuar caminhando, a fim de que pudessem cumprimentar os noivos antes que um desastre acontecesse.
— Nate! — aquela voz fina ressoou de modo agonizante aos ouvidos de Amy que logo viu a figura doce, delicada e gentil de Mary manifestar-se diante dos dois. Ela até mesmo deixou seu futuro marido de lado apenas para saudá-los de mais de perto. — Oh! Pensei que não viria!
— Não poderia perder um momento desses — Nathan disse sério e contido e virou-se para sua esposa, que se esforçava ao máximo para não demonstrar seus reais sentimentos para com a jovem à frente deles. — Amelie também não.
Mary a encarou no mesmo momento e com um largo sorriso aproximou-se para, surpreendentemente, abraçá-la.
— É tão bom vê-la novamente, Amy — ela pronunciou o apelido íntimo de Sra. Thomas com bastante ênfase e afastou-se levemente. — Saiba que para mim já é como uma irmã, tal como Nate.
Amelie ficou sem respostas e reações, mas não pelo gesto inusitado de alguém que havia manifestado seu claro desgosto quanto a ela. Foi o adereço que viu pendendo no pescoço de Mary que a chocou completamente.
Aquele colar de ouro era muito familiar e extremamente parecido com o presente dado pela mãe de Sra. Thomas, quando ela ainda era apenas uma menina. Seu precioso colar foi um dos itens roubados pelos capachos do prefeito Bob logo quando ela chegou à cidade e até aquele momento já havia se conformado com a ideia de tê-lo perdido para sempre.
Seria possível que...
Não, Mary não teria coragem de afrontá-la de tal maneira!
Ou será que sim?
Se aquele fosse mesmo seu colar, ela daria um jeito de reavê-lo. Não sabia como, mas conseguiria.
— Venha, Nate, deixe-me apresentá-lo a Richard — Mary interrompeu os pensamentos de Amy quando a viu fazendo um sinal, forçando seu marido a oferecer o braço livre onde se encaixou, irritando-a profundamente pela proximidade. — Falei para ele que precisava de sua aprovação, do contrário nunca aceitaria me casar com ele.
— Tolice sua, obviamente meu marido não teria poder de se opor às suas escolhas, pois não é nada seu além de amigo. — As palavras saíram da boca de Amy mais rápido do que ela previu e sentiu o olhar de Nate em sua direção. Só então percebeu que Mary estava brincando. — Desculpe.
— Mas você está certa, querida — Nathan concordou, deixando Amy −e Mary− em choque. — Só poderia aconselhá-la a buscar um marido cristão, mas não interferiria nas suas decisões.
— Bem — Srta. Johnson afastou-se e foi até o tal Richard, um homem alto, magro e tão apático quanto uma daquelas figuras mal encaradas retratadas nos quadros que vira no cômodo —, esse é meu amado Richard. Ele é sim um cristão fervoroso.
— Muito prazer. — Nathan apertou a mão do homem. — Faça Mary feliz.
— Farei.
Mary pareceu não gostar muito das palavras secas de seu futuro marido, mas não se deixou abater e logo colocou um largo sorriso no rosto novamente.
— Bem, vocês estão casados há algum tempo, suponho que tenham algum conselho para nos dar — ela então virou-se especificamente para Amy —, especialmente você, Sra. Thomas, diga-me, será muito difícil ser uma boa esposa para Rich?
A ofensa camuflada naquela pergunta fez o sangue de Amelie esquentar. Ela não podia deixar barato.
— Não será difícil, isto é, se tiver a sorte de se casar com um marido tão bondoso, paciente e maravilhoso quanto o meu — rebateu, sentindo o sabor da vitória quando Srta. Johnson segurou o ar.
— Acho que todos os convidados estão aqui. Podemos abrir a pista de dança, meu querido? — Mary sussurrou ao noivo, deixando Amy um pouco escandalizada com sua ousadia. Mesmo assim o homem aceitou a proposta. — Nos dêem licença. — Ela fez um gesto com a cabeça e foi conduzida com elegância por seu noivo até o centro do salão.
O sorriso astuto de Amy manteve-se firme em seus lábios, divertindo-se com aquela cena, até contemplar o semblante sério de Nate.
— O que foi?
— Você não precisava ter dito aquilo, Amelie — ele repreendeu e a incentivou a segui-lo. — Precisa ter um pouco mais de domínio próprio.
— Não. Não com ela se julgando ser mais importante na sua vida do que eu só pelo fato conhecê-lo há mais tempo — rebateu em fúria. — Ela me dá nos nervos!
Nathan resolveu levá-la rapidamente para um canto mais reservado, onde pudessem tratar daquele assunto sem olhos maldosos e curiosos sobre eles.
— Odeio quando age assim, sabia? — murmurou desgostoso. — Pode guardar o seu ciúmes infundado de Mary ao menos esta noite?
— Não estou com ciúmes — respondeu sentindo uma vontade louca de gritar a plenos pulmões com seu marido cabeça dura. — E se estivesse, não seria infundado. Sua preciosa amiga faz de tudo para revelar o quanto o admira como homem.
Nate bufou e Amy já pensou qual seria seu próximo argumento caso ele se opusesse.
— Por favor, não vamos brigar aqui. — O tom de súplica a deixou embaraçada. — Eu imploro.
Amelie ficou um pouco contrariada, mas logo se arrependeu das suas atitudes, sentindo-se uma tola por se deixar levar tão facilmente por seus sentimentos.
— Desculpe — ela pediu após algum tempo. — Não fique bravo comigo, então.
— Tudo bem. Eu não estou bravo. — Ele sorriu um pouco e depositou um beijo nas mãos dela. — Venha, tenho alguns amigos de infância ansiosos para conhecê-la.
Deixando os ressentimentos de lado, os Thomas seguiram pelo salão. Amelie sentiu-se menos tensa ao perceber que nem todos ali eram esnobes, como supôs o cocheiro. Na verdade, ambos foram muito bem tratados por aqueles a quem seu marido conhecia, e eram muitas pessoas. Pelo que Amy ouviu da esposa de um importante minerador, Nate era bem visto por muitos na cidade, primeiramente porque tinha parentesco com o Reverendo Young, homem muito honrado que o criou como filho antes de partir para o norte e depois porque possuía um coração sempre disposto a ajudar quem precisasse. Ela surpreendeu-se também com o fato de ninguém comentar sobre o escândalo do casamento deles e embora muitos boatos ainda circulassem na cidade, aquelas pessoas, em especial os amigos mais chegados de Nathan, a aceitaram com muita simpatia.
— Que tal se dançarmos a próxima música? — Sr. Thomas perguntou à esposa quando a flagrou observando outros casais valsando pelo salão.
— Claro. — Ela sorriu animada e um pouco temerosa. Já não dançava com um cavalheiro há tanto tempo, mas sentia confiança de que o marido saberia conduzi-la sem pisar em seu pé.
— Enquanto esperamos, deseja alguma coisa? Você deve estar com fome.
— Uma bebida quente seria ótimo. O salão pode estar aquecido, mas ainda estou com um pouco de frio.
— Certo. Venha comigo. — Sem dar chance a Amy de contestar suas ações, ele a levou até as cadeiras mais próximas da lareira. — Fique aí. Volto rapidamente.
Amelie obedeceu e manteve-se atenta observando o marido se afastar. No caminho Nate encontrou-se com a esposa do prefeito que insistiu em iniciar uma conversa com ele. Amy logo concluiu que ele atrasaria um pouco mais, porém ela não se incomodou e ficou aguardando.
— Sabe de uma coisa — Amelie foi surpreendida pela aproximação repentina de Mary que tomou um lugar ao seu lado e segurou sua mão. — Preciso admitir que está certa em algo, nunca serei tão feliz quanto você, minha amiga.
Sra. Thomas tomou ar e prometeu a si mesma que não daria motivos a Nathan para se irar contra ela, nem perderia o controle com aquela garota.
— Por favor, Srta. Johnson. Não comece. Sei muito bem que não me vê como amiga.
— Não, não se preocupe. — Ela sorriu para si. — Só quero deixar claro que não tenho raiva de você — começou, fazendo Amy erguer as sobrancelhas. Aquilo não estava certo. — Mas gostaria que se colocasse no meu lugar. Desde pequena meu coração sempre pertenceu a Nathaniel. Todos falavam que iríamos nos casar algum dia. Isso porque nossa amizade era, sem dúvidas, incomparável. Estávamos apaixonados, Amelie. — Suspirou com pesar. — Certa vez planejamos como seria nosso futuro juntos. Nossa casa. Nossos filhos, teríamos seis, pelo menos. Envelheceríamos juntos. Mas então, de repente tudo mudou e ainda estou me acostumando com a ideia de que o único homem que amei nunca será meu. — Ela olhou para baixo e deixou os ombros caírem. — Não é fácil de esquecer algo assim. Nathan também deve sentir o mesmo, pois sempre me amou e agora está preso a uma mulher que o considera a escória do mundo. Se fosse eu jamais faria esse homem sofrer. Jamais teria permitido que ele se casasse comigo se eu não o amasse e...
Aquelas palavras magoaram Amelie profundamente e ela não suportou nem mesmo ouvir o desfecho do discurso daquela garota. Sentindo-se completamente humilhada, levantou-se e, segurando o choro, saiu para longe daquele salão sufocante.
Não estava pensando muito bem quando passou pela porta principal, e, ignorando os chamados do mordomo, ela seguiu andando para área externa sem se importar com o vento impetuoso ou com a neve caindo com força. Foi em direção aos jardins e as lágrimas pela tristeza de ter desgraçado a vida de Nathan foram embaçando seu olhar. Ela não podia enxergar por onde ia quando esbarrou com toda força em alguém que a segurou pelos braços, impedindo sua queda.— Sra. Thomas, o que faz aqui? — ela ouviu aquela voz preocupada. — Venha comigo ou vai morrer congelada nesse frio.
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Uma Nova Vida Para Amy
RomanceAmelie McKlain nasceu e cresceu cercada de riquezas, vantagens e mordomias até demais para uma jovem de vinte anos. Contudo seu coração jamais se corrompeu pelo luxo e, como boa cristã, sentia-se na obrigação de servir e ajudar aos mais pobres com s...