Onze:

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Amelie McKlain.

McKlain.

Aquele sobrenome fez cada junta de Nathan estremecer.

Nem mesmo aquela belíssima mulher de olhos cinzas tão doces e a postura de uma rainha foi capaz de aplacar a intensidade das milhares de lembranças atreladas ao sobrenome carregado por ela.

Ele recordou da dolorosa convivência com seu pai. Depois de ter confiado cegamente em Sr. McKlain, Sr. Jeremiah Thomas fez um acordo com o amigo famoso pela desonestidade e adquiriu metade das terras mais valiosas da cidade, investindo todo o dinheiro que ganhou após ser beneficiado com uma boa porção de ouro roubado de seu patrão, um rico e importante minerador. McKlain não somente descumpriu com sua parte do trato, como, por uma boa recompensa, entregou o melhor amigo e fugiu. Por anos, o pequeno Nathaniel assistiu seu pai se afundar lentamente em tentativas vãs de pagar a enorme dívida contraída. Além disso, havia a bebedeira, os jogos e as mulheres que levaram a mãe do garoto a abandonar o lar. A vida do pai era uma verdadeira desgraça e culminou em seu assassinato. Nate foi quem encontrou o pai baleado no celeiro e pensou que estaria sozinho no mundo a partir daquele instante, mas providencialmente foi acolhido por pastor Young e sua esposa, cristãos piedosos que o criaram com todo o amor demandados por uma criança.

Diante de todas as suas experiências, ele agradecia ao Senhor por ter poupado a sua mente de traumas. Vez ou outra alguns pesadelos lhe atormentavam, mas, como aprendeu, uma oração era o bastante para acalmar seu espírito. Mesmo assim muitas perguntas sem respostas rondavam a cabeça de Nathan.

O rapaz não era burro e bem sabia da alta parcela de culpa cabíveis ao seu progenitor. Ele só não podia ignorar a fama de golpista ganancioso de Sr. McKlain ou o fato dele jamais ter aparecido para pagar sua parte das terras, condenando-o ao mesmo destino desastroso de seu pai, se um milagre não acontecesse. 

— Posso saber o que a senhorita faz aqui? — Nathan sondou cada movimento da delicada criatura a sua frente. Ele não deixou de notar a rara e incomparável beleza da moça, mas também se perguntou os motivos dela ao se apresentar de modo tão maltrapilho

— Vim em nome de meu pai. — Ela fez uma mesura com a cabeça e olhou para o objeto em suas mãos. — Ele me enviou com o propósito de lhe entregar uma carta que se encontra dentro desta caixa.

Nathan estreitou os olhos e alisou a barba. Algo não estava certo naquela história.

— Sozinha? — interrogou cético.

— Oh! Mas é claro! — Ela sorriu radiante, chamando ainda mais o interesse e a curiosidade do fazendeiro a sua frente. — É minha primeira vez desbravando o mundo e até que, a despeito das circunstâncias, eu me virei muito bem, se quer saber. Meu pai teria orgulho, pois fui bem-sucedida em meu dever!

A estranheza de toda aquela situação fez a cabeça de Nathan doer. Ele aguardava por resposta, mas realmente não esperava por uma atitude daquelas da parte de George McKlain.

— Deixe-me ver se compreendi. — Fez uma pausa e cruzou os braços em frente ao peitoral. — Seu pai a expôs a inumeráveis riscos e te enviou pessoalmente para uma tarefa que poderia ser realizada por qualquer mensageiro?

A expressão da moça foi ficando um pouco mais séria. Ele não sabia, mas Amelie não gostou nada da ironia implícita em seu tom de voz.

— Sim. Por que, Sr. Thomas? — ela rebateu. — Não acha que sou capaz de me cuidar?

Nathan forçou um sorriso e também não se agradou do tom da moça, não costumava se dar bem com dondocas da cidade ou com mulheres auto-suficientes.

— Oh, de jeito algum, madame. A senhorita está no mais perfeito estado, não está? — ele foi discreto no tom de zombaria, mas não conseguiu passar despercebido pelos olhos afiados da outra. — Fez boa viagem?

— Acabamos de nos conhecer, por acaso o senhor possuí problemas comigo? — Amelie se esforçou em praticar o domínio próprio.

"Oh, então ela não está ciente de todas as desavenças entre nossos pais?" Pensou intrigado.

— O problema, senhorita, é que seu pai, sempre fez bom uso da sagacidade e esperteza, então não me culpe por desconfiar dos seus motivos  para qualquer coisa. Ademais, eu, sinceramente, não esperava que a covardia dele fosse tão grande a ponto de não vir pessoalmente resolver suas pendências como homem e sim enviar sua filha em seu lugar.

As bochechas de Amelie foram ficando vermelhas como fogo e ela estava prestes a explodir.

— Papai apenas me enviou porque sabia como sou altamente qualificada para tal — ela aumentou levemente o tom de voz, cedendo às suas emoções descontroladas. — Não lhe devo satisfações, mas passei por grandes desventuras até estar aqui diante de sua rude pessoa, por isso aceite logo essa caixa para que eu possa partir em paz!

Diante do descontrole da moça, Nate repensou seus atos e sentiu-se mal por não ter agido como o cristão que professava ser.

Era aquele homem. Aquele homem mexia com os nervos dele.

— Peço perdão se despertei sua ira, Srta. McKlain. — Ele suspirou e ainda pensava como procederia quando a moça se aproximou, desejando lhe entregar uma caixa. Antes de concluir seu objetivo, a atenção da moça foi sugada pela aparição repentina de Sra. Simon nos arredores da entrada.

— Oh! Que barulheira aqui! Quem é essa, Nathaniel? — ela sondou intrigada, pensou que se tratava de uma mendiga ou algo assim.

— Prazer, sou Amelie McKlain!

Mais uma vez o sobrenome custou uma boa primeira impressão para Amy. Todos na cidade sabiam quem era o pai dela e isso não lhe trazia benefícios algum. Principalmente quando se tratava de Sra. Simons cuja função na vida era zelar pelo bem estar de de Sr. Thomas. E ela bem sabia o quanto aquele homem fizera mal ao seu garoto.

— O que aconteceu com suas roupas, menina? — ela perguntou sem descrição alguma. — Não sabe que o inverno se aproxima? Corre o risco de pegar uma pneumonia desta maneira.

Amelie começou a explicar toda a sua trajetória e enquanto isso a mente de Nathan refletiu sobre a observação perspicaz de Sra. Simons tendo por fim a consciência desperta. A moça mencionou seu desejo de partir, mas se o fizesse nas condições em que se encontrava provavelmente seria acometida por uma doença séria.

— Aonde pretende pousar, Srta. McKlain? — ele interrompeu a conversa das duas.

Amelie hesitou. Ela não havia pensado naquilo. O dia já estava no fim e dificilmente conseguiria voltar para a cidade a tempo de pegar alguma diligência.

— Talvez eu retorne.. 

— Com esse tempo instável? Quem se arriscaria a levá-la? — Nathan a cortou e sentiu pena quando observou o rosto de cachorro abandonado da moça perdida. Ele então pensou e pensou até decidir quais atitudes tomaria. Foi então que traçou seu plano ao avistar Yan se aproximando, carregando um enorme baú o qual abandonou próximo a eles na entrada da casa.— Meu caro amigo, sei que deve estar cansado da viagem, mas poderia me fazer o favor de buscar a Sra. Lenon?

— Claro, Sr. Nathan, vou aproveirar a estiagem e ir agora mesmo — ele se prontificou. — Mas o que devo dizer a ela?

Nathan observou bem a expressão confusa da moça a sua frente.

— Diga que temos uma convidada que precisa de seus auxílios e conhecimentos como dama de companhia. — Ele combinou e logo Yan tratou de ir cumprir seu dever. Logo após virou-se para Sra. Simons. — Prepare um banho e ajude Srta. McKlain a se instalar.

— Mas eu preciso voltar e...

— É minha convidada agora, senhorita. Pouse aqui e pela manhã tomaremos uma atitude — Ele decretou.

Sem escolhas e entendendo aquilo como a vontade de Deus, Amy assentiu e quando viu Sr. Nathan virando-se a fim de retornar ao interior do cômodo, lembrou-o:

— Sua entrega, senhor. — Ela esticou as mãos.

Nathan fez uma mesura com a cabeça, aceitou o que lhe era oferecido e saiu a tempo de ouvir Sra. Simons convidando a filha do homem a quem um dia odiou para se juntar a eles.

Uma Nova Vida Para Amy Onde histórias criam vida. Descubra agora