O inverno rigoroso se encontrava ás portas. O céu acinzentado tornou aquela fatídica manhã semelhante a noite, e sem piedade assaltou o brilho do sol, colocando-o previamente em cárcere pelos meses de frio que se aproximavam. Um vento uivante e cortante bagunçava os fios soltos, escapando do coque firme na cabeça de Amelie, somando mais um motivo a sua longa lista de desprazeres recentes.
Desde criança, a agora moça nunca se mostrou uma amante nata das paisagens de branco sem fim. Amelie era empolgada com a vida. Venerava cada nota cantada pelos pássaros, deleitava-se em correr através dos crisântemos e girassóis cultivados no jardim da Mansão LaBelle como uma criança desleixada e passar incontáveis horas deitada abaixo de um velho carvalho, desejando ser como uma daquelas esbeltas personagens de seus livros românticos.
"Ah, meu coração arde de saudades", pensou Amy massageando o pescoço.
Não podia negar, tantas mudanças drásticas em sua vida a pegaram desprevenida. Deveria ser um daqueles momentos onde a fé era provada para assim confirmar a confiança em Deus, como dissera Reverendo Charles no último sermão ao qual ouvira dele.
- Chegamos, minha admirável noiva - a última palavra engasgara na boca do rapaz e fizera Amelie sentir tremores pelo corpo.
Ela o olhou com repulsa. Não deveria estar se casando com alguém de tamanha habilidade em torrar os seus nervos utilizando apenas uma simples sentença. Na verdade, casar jamais fora sua vontade, fosse quem fosse o jovem. No entanto, o infortúnio era inevitável.
- O senhor não demonstrou o mínimo de consideração, ou modos de um cavalheiro digno ao passar a carroça com tamanha brutalidade sobre aquela poça inoportuna - esbravejou e sentiu as bochechas esquentarem pela raiva, ao notar o rapaz revirando os olhos com tamanho descaso às suas aflições.
"Como poderei passar o resto da minha vida ao lado desse... desse... crápula?" Refletiu Amy desgostosa.
- Sendo a mulher cristã que professa, não deveria se irar por coisas tão triviais quanto um vestido sujo por um pouquinho de lama. Há um rio muito próximo a propriedade, senhorita McKlain. Quando voltarmos, comporte-se como uma senhora e lave suas roupas - provocou o noivo sem a menor piedade da futura esposa em um surto.
Lavar as próprias roupas? Aquilo era absurdos dos absurdos.
- Meu vestido de casamento - corrigiu entredentes. - Não terei um pingo de dignidade e não poderei ao menos desfrutar da alegria feminina de subir ao altar vestida em meus melhores trajes?
Ele balançou os ombros e Amy precisou contar até dez, de outro modo seria obrigada a desposar um homem com um nariz quebrado e dentes a menos na boca.
- Pastor Gordon está esperando por nós - declarou o rapaz e saltou da carroça com uma agilidade notável.
Amelie não esperava a cordialidade de um nobre vindas do cavalheiro a quem em pouco tempo chamaria de marido, em suma, mantinha suas expectativas assustadoramente baixas em relação a qualquer qualidade do rapaz. Ainda assim sentiu o coração palpitar quando ele prontamente a tomou pela cintura e desceu em segurança para o solo.
A proximidade entre os dois deixou Amy inquieta, principalmente porque seu noivo não se afastara dela nem um centímetro sequer.
Ele era belo, forte e viril como um cavalheiro deveria ser, a moça precisou admitir para si mesma.
O rapaz, com a sagacidade de uma cobra venenosa, puxou a noiva para perto e sorriu quando a viu corar. Ele se aproximou a boca de um dos ouvidos de Amy e a fez tremer por completo quando sussurrou:
- Não se esqueça da razão pela qual estamos realizando este casório, senhorita. - Se afastou, deixando Amy com um grande nó em sua garganta.
Ela enfrentaria grandes apuros, tinha certeza. Não porque o noivo era alguém de natureza questionável, mas sim pelo fato do amor passar longe dos motivos para o enlace. Buscava conforto ao pensar que pelo menos possuía a aprovação dos pais e não estava fugindo visando cometer uma loucura. Porém, a repercussão daquela união, certamente provocaria um escândalo em Brigdestown.
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Uma Nova Vida Para Amy
RomanceAmelie McKlain nasceu e cresceu cercada de riquezas, vantagens e mordomias até demais para uma jovem de vinte anos. Contudo seu coração jamais se corrompeu pelo luxo e, como boa cristã, sentia-se na obrigação de servir e ajudar aos mais pobres com s...