Vinte e Nove:

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"— Um convite irrecusável? Da parte de quem? — Amelie perguntou a Nathaniel não tendo certeza se gostava ou não do fato dele largar sua mão.

— Deixe-me explicar. Hoje durante o trabalho, um velho amigo, Sr. Xavier veio me entregar uma carta. Nela dizia que fomos convidados para uma celebração muito distinta. Veja, veja aqui. — Ele mostrou um pequeno trecho do papel pardo. — Sr. e Sra. Thomas...

— Nathan, não sei se desejo ir...

—Amelie, não posso comparecer sem sua presença. — Ele deixou o papel sobre a mesa e voltou a segurar a mão da esposa. — Vamos, aceite ir comigo — insistiu.

— Prometo pensar no assunto, mas não garanto que vou..."

— Estará lindíssima nessa festa, minha querida — Sra. Lenon declarou interrompendo as lembranças de Amelie sobre o convite feito pelo marido de maneira tão atenciosa, enquanto dava últimos retoques no penteado de Sra. Thomas.

Amelie sorriu um tanto aterrorizada. Já fazia muito tempo desde a última vez em que comparecera a um baile formal e temia ter perdido sua desenvoltura para lidar com a sociedade.

Etiqueta, danças, trajes chiques...

A vida no campo deixou a antiga Amelie menos criteriosa com as boas maneiras, até porque ninguém por ali parecia se importar com elas. Nathan era um bom exemplo disso. Se por vezes nem mesmo lembrava-se de tirar o casaco quando  chegava, quem diria distinguir entre talheres específicos para o uso disso ou daquilo. Aproveitou-se desse aspecto e também do fato de não haver uma só pessoa para exigir dela modos impecáveis, como Madame Bovary o fazia.

Entretanto, arrependeu-se de sua negligência no momento em que ouviu Nathaniel contando como a presença deles fora requisitada para uma grande celebração na mansão mais sofisticada daquela cidadezinha. À partir de então, o medo de passar vexame tomou seu coração.

E não por menos, afinal, ela considerava consigo, se conseguiu ser humilhada diante de criados e inquilinos simples, como manteria uma conversa decente com os mais afortunados?

Quase pensou em desistir. Na verdade, tentou, não uma, nem duas, mas cinco vezes, dissuadir Nathaniel em seus planos. Falhou, é claro. Segundo o relato do marido, Amy precisava sair e conhecer pessoas. Ele também desejava apresentá-la formalmente a alguns de seus amigos mais próximos e ao contrário da última vez, deixou claro que seu objetivo não era humilhá-la de modo algum. Ainda assim, ela ficou resoluta por muitos dias e deu muitas desculpas, sendo sempre vencida pelos bons argumentos do rapaz.

Sua última tática foi alegar não possuir um vestido decente para participar de um evento tão chique, mas até isso foi solucionado e ela acabou ganhando um belo modelito de musseline, cor vinho. Não sabia quanto, nem como Nate conseguira o dinheiro para um presente elegante como aquele, mas amou, mesmo sabendo que aceitá-lo, seria selar seu dever de acompanhá-lo.

— Estou ansiosa. Lembre-se de orar por mim, Sra. Lenon — foi seu pedido quando o último grampo prendeu uma mecha de cabelo solto.

— Fique tranquila, menina. Orarei para que tenha uma noite muito romântica ao lado daquele belo rapaz que lhe aguarda no andar inferior.

Ela suspirou ao pensar em Nathan. A tarefa de ser uma boa esposa não estava sendo muito fácil. Nem tanto pelos deveres e habilidades que vinha desenvolvendo aos poucos, mas porque, por alguma razão, mesmo se esforçando não conseguia, se sentir tão próxima de seu marido, quanto gostaria. Era como se houvesse um abismo entre eles e nenhuma ponte que os ligasse. Até quis aconselhar-se novamente com Sra. Lenon, mas imaginou quais seriam suas orientações, enfatizando a necessidade de cumprir com certo compromisso matrimonial que também vinha  negligenciando. Ficava assustada com um simples beijo, o qual não voltou a se repetir desde aquele fatídico dia, imagine se fossem além!

Uma Nova Vida Para Amy Onde histórias criam vida. Descubra agora