— Ora, Amelie! O que há de tão urgente que não possa esperar para ser resolvido ao fim do baile? Madame Bovary não lhe ensinou bons modos! Sua governanta a mima demais! Aonde já se viu? Precisei deixar o pobre reverendo Charles no meio de uma conversa interessantíssima! — Sr. McKlain tagarelava sem parar enquanto Amy o conduzia até a cadeira de seu escritório. Não, Amy não podia postergar! Ela estava furiosa e ansiosa para prestar contas. — Espero que tudo isso não seja apenas mais uma de suas cenas de drama.
— Drama, papai? Drama? — falou, tentando conter o tom de voz. — O senhor não imagina quão grande foi meu choque ao ouvir aquele homem tendo o prazer de informar como planejava tomar minha mão em casamento.
Sr. McKlain observou o rosto transtornado da menina e não entendeu bem a natureza de seus sentimentos.
— De quem está falando, querida? — Ele desconversou com toda calma reclinou o corpo para trás, apoiando as costas na cadeira almofadada.
Amy por outro lado estava uma pilha de nervos e não conseguia ficar parada. Andava de um lado ao outro descontando no piso de madeira toda a fúria que a consumia.
— Quem? Refiro-me ao senhor Aaron Drake, o repugnante e mais novo milionário de Bridgestown! Através dele eu soube que o senhor planeja me oferecer em uma bandeja àquele... Àquele... Rico desalmado!
A lamparina acendeu na mente de Sr. McKlain e imediatamente lembrou-se das inúmeras conversas com Sr. Drake. Ele não podia mentir ante à menina de espírito indomável a sua frente.
— Minha filha, como seu pai e responsável pelo seu futuro, é meu direito escolher um marido que poderá prestar a assistência necessária à sua pessoa e embora, não lhe deva satisfações, vejo-me na obrigação de falar em favor do homem a quem se referiu como rico desalmado.
Amelie também lembrou-se da conversa de alguns meses entre eles. Sr. McKlain podia não gostar de ver a filha gastando tempo com coisas inúteis a sua concepção, mas prometeu a ela que não interferiria desnecessariamente em seu futuro, pois confiava em seu juízo cristão para escolher o melhor para si, e sim, isso incluía entrar em matrimônio com o homem que melhor lhe agradasse. Diante disso, foi chocante ver como a chegada de Drake à cidade fez seu pai quebrar a promessa tão depressa.
— Não! Não me fale desse homem! O senhor enxerga como não o suporto? — aumentou levemente o tom de voz. — Prefiro a eterna solteirice à me casar com alguém que sequer pode aceitar quem sou!
As emoções de Sr. McKlain começavam a se alterar e isso não era bom para sua saúde debilitada.
— Estou pensando em seu futuro e para mim, os benefícios deste casamento serão inumeráveis!
As lágrimas começaram a saltar dos olhos de Amy e apelando para emoção, ela foi até o pai e tomou uma de suas mãos.
— Pois, por favor, não pense! Deixe-me seguir os meus sonhos, sem um marido para me prender! Quero ser uma modista como tia Ophelia!
O pai manteve-se imóvel e não comoveu-se com a cena da menina.
— Sua tia Ophelia é uma viúva triste e sem perspectivas. De modo algum deve ser exemplo para uma jovem brilhante como você. E será ainda mais promissora quando estiver ligada ao Sr. Drake que zelará pelos seus dotes.
— Oh, papai, tenha piedade! — A essa altura as bochechas de Amy estavam úmidas e o nariz já ficava vermelho. — Tia Ophelia em nossas correspondências se ofereceu para me ensinar as técnicas da alta costura. Ela deseja que eu passe uma temporada em sua casa de inverno e tenciono a aceitar, pois este é o meu sonho!
— De jeito nenhum! E peço que pare de trocar cartas com a irmã de sua mãe! Ela é louca... — A irritação desencadeou no homem uma crise intensa de tosses que demorou algum tempo a passar. — Está vendo? Estou morrendo e a senhorita está adiantando esse processo, por isso preciso decidir o seu futuro.
— Ora, papai! Não diga besteiras — pediu e ajudou o pai a se acalmar ao oferecer-lhe um copo de água que foi entregue por um servente à espreita. — Meu futuro pertence somente ao Senhor Jesus.
— Fala como sua a sua mãe! — esbravejou com raiva. — Ambas compartilham a mesma tolice e a cabeça nas nuvens.
— Exatamente! Mamãe, se estivesse viva, aceitaria minhas decisões e não se oporia em me ajudar com todo o necessário! — contrapôs com mágoa.
Sr. McKlain esboçou um risadinha escanecedora.
— Não estou interessado nisso. A senhorita casará com o Sr. Drake e ele assumirá o controle da minha empresa. Assim, ao menos poderei morrer tranquilo, sabendo que o meu bem mais precioso está em boas mãos.
Amelie abriu a boca ante ao espanto daquelas palavras que atingiram seu peito como uma bala certeira. A ira foi tanta que sua visão ficou turva e ela precisou apoiar-se na superfície da escrivaninha para não cair.
— O senhor está me usando! Quer manter a empresa a salvo às minhas custas! — Ela acusou. — Como pode fazer isso, papai? Coloca o seu amor ao dinheiro sobre o amor que tem por mim, sua primogênita.
Sr. McKlain não temeu ser desmascarado. Seus objetivos deveriam se cumprir, fosse a vontade da filha ou não.
— Não pode me culpar, Amelie! Culpe a sua mãe por não ter me dado um filho homem com natureza para os negócios. — Olhou a Amy com desprezo. — Antes, ela gerou uma garota mimada que só pensa em livros e tolices femininas. Um marido há de colocá-la na linha.
Amelie começou a chorar copiosamente. Seu coração fora ferido de muitas maneiras, mas ainda assim não perdera a esperança.
— Pense em outra solução, papai! O primo Desmond está a espreita, é talentoso e está ansioso para ajudá-lo. Dê-lhe uma chance e deixe-me partir. Eu imploro!
— Minha decisão já está tomada e não tenho o menor interesse em ouvir suas lamúrias — decretou e levantou-se da poltrona. — Enxugue esse rosto, volte para a festa e trate bem o seu futuro noivo. Não quero perder meu investimento.
Tudo já estava perdido, por isso Amy resolveu ser mais franca do que de costume.
— A mamãe teria vergonha do homem terrível, ganancioso e cruel que o senhor se tornou. De que vale toda a sua fortuna? Ela não pode salvar a sua alma da ira divina, papai!
A raiva consumiu Sr. McKlain e ele segurou-se para não usar de violência física com a menina desbocada.
— Não quero salvar a minha alma. Quero manter meu nome vivo na lembrança das pessoas e sobretudo, pretendo livrá-la de sofrer uma vida medíocre e miserável como a que tive. Pode reclamar e espernear, mas minha ganância nos impediu de passar fome!
Sr. McKlain já se preparava para deixar a sala.
— Deus tenha misericórdia do senhor — murmurou Amelie em meio à angústia.
— Deus? — A gargalhada soou alta naquele cômodo frio e vazio. — Deus é quem menos se importa, criança tola. Caso não se lembre, Ele não protegeu sua mãe daquele acidente e tampouco se importou com minhas orações. Se existe mesmo um Deus, pode ter certeza que me odeia e...
Naquele instante as palavras de Sr. McKlain foram interrompidas, ele empalideceu abruptamente, fez uma careta tomado pela dor e levou Amelie ao desespero quando caiu ao chão.
— Papai! Oh, não! Alguém, alguém me ajude! — gritou desesperada.
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Uma Nova Vida Para Amy
RomanceAmelie McKlain nasceu e cresceu cercada de riquezas, vantagens e mordomias até demais para uma jovem de vinte anos. Contudo seu coração jamais se corrompeu pelo luxo e, como boa cristã, sentia-se na obrigação de servir e ajudar aos mais pobres com s...