Trinta e Dois:

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Amelie sentia os músculos de seu pescoço enrijecidos em resposta a grande tensão em que se encontrava naquele momento.

Após ouvir palavras tão duras de Mary e ser alvo do desprezo de Nathan por conta de um infeliz mal entendido envolvendo o Sr. Connor, o único consolo da pobre Sra. Thomas era retornar para casa ainda naquela noite, trancar-se em seu quarto e afundar no choro até não poder mais. Todavia, até mesmo essa esperança lhe foi arrancada quando ela e o marido receberam não somente a notícia da chegada de uma tempestade, como também o alerta do cocheiro informando-os que, embora tivesse reparado a carruagem, tinha certeza que não seria possível fazerem uma viagem segura de volta às terras. Sendo assim, só lhes restava uma opção: aceitar a oferta de abrigo dos Johnsons.

Mais uma vez, Amy não entendeu o propósito de Deus em humilhá-la tanto. Será que no meio de todo aquele castigo divino e paterno não haveria sequer um alívio para animar sua alma cansada a continuar a jornada? Até quando precisaria suportar tanta dor e tristeza? Temia que jamais fosse capaz de sentir alegria novamente.

— Tem certeza de que não precisam de mais cobertores? Garanto-lhes que este quarto é o mais frio da mansão — alertou a governanta que os havia levado aos aposentos. — Sinto muito que o prefeito tenha dado ordens específicas quanto à sua acomodação, caro Nathaniel.

— Com a graça de Deus, ficaremos bem, Sra. Mason — Nate garantiu enquanto acompanhava a senhora para a saída, mas Amy, que os observava da poltrona onde encontrava-se sentada, não sentiu confiança naquelas palavras. — E sou grato ao prefeito por nos abrigar.

— Bem, se é assim, vou deixá-los a sós. Caso precisem de algo, não hesitem em tocar o sino. — Ela sorriu para ambos, contudo o carinho nutrido direcionado especialmente a Sr. Thomas, ficou mais uma vez evidente para Amelie. Por onde ia, haviam pessoas dispostas a honrarem a amizade com seu cônjuge. — Fiquem com o Senhor Jesus e não esqueçam de aquecerem-se.

Sra. Mason saiu batendo a porta atrás de si e os deixou finalmente a sós. Amelie de imediato sentiu o coração acelerar e o estômago estremecer, pois bem sabia que a hora de encarar Nathaniel se aproximava.

Amelie tinha ciência de seus próprios erros. Ela sabia que não deveria ter cedido aos seus sentimentos tão facilmente, tampouco ter deixado aquele salão ou gastado o seu tempo expondo, em prantos, a raiva que sentia ao Sr. Connor quando o certo seria ter apenas se recomposto e voltado para a festa. Sobretudo, não queria, de modo algum, ter provocado ira de seu marido. Na verdade, o que mais odiou em toda aquela situação foi confirmar que Mary estava certa. Mesmo se esforçando, Amy não conseguia parar de tornar a vida de Nathaniel miserável. Jamais seria uma boa esposa para ele e por vezes desejava a morte apenas para libertá-lo daquele casamento que lhe dava tanto desgosto.

— Por que não vai se preparar para dormir? Sra. Mason deixou algumas roupas separadas naquele armário — Nathan sugeriu sério interrompendo as divagações dela que se assustou ao vê-lo próximo a cama já desabotoando seu paletó e retirando os suspensórios em seguida. Ele parecia ter pressa para dormir e nenhuma disposição em resolver as pendências com ela, conforme prometera. — Há um quarto de vestir bem ali, mas se ainda não estiver a vontade comigo, posso sair.

— Não, fique. — Amelie levantou-se da poltrona e, seguindo as instruções dele, pegou os trajes de dormir no local indicado e confinou-se ao minúsculo quarto de vestir por alguns minutos.

Foi necessário o dobro do tempo aceitável para que ela se ajeitasse e desfizesse o penteado do que levaria caso Sra. Lenon estivesse ali para ajudá-la. Aliás, o que não daria por alguns segundos debruçada, derramando suas mágoas no colo daquela senhora que a tratava como filha? Como queria seu abraço, seus conselhos e puxões de orelha. Até podia ouvi-la incenvando-a a agir biblicamente, sendo a primeira a ceder, pedindo perdão a Nathan mesmo sabendo que não era a única culpada, e se pudesse respondê-la, diria novamente quão incapaz era para colocar em prática as ordenanças do Bom Livro. Sentia-se magoada e cansada demais, por isso resolveu clamar ao Senhor por ajuda.

Uma Nova Vida Para Amy Onde histórias criam vida. Descubra agora