Capítulo 03

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Na manhã seguinte, especificamente numa terça-feira, Cheryl acorda de rosto inchado. Encara seu reflexo no espelho e as lembranças do dia anterior vem vagamente. 

Lembrou-se de ter dormido com os carinhos de Penelope . Logo lembrou-se da conversa que tivera com seu pai. Dirigiu-se até o banheiro para tomar seu banho matinal. 

Penteou seus cabelos e perfumou-se totalmente sem ânimo. Cheryl teria que dizer qual sua escolha hoje e por conhecer tão bem seu pai, ela sabe que ele logo a procurará.  

Desanimada, arrastou-se até a sala onde todos da família comiam suas refeições. De cara encontrou Anne sentanda na cadeira onde seu pai costuma sentar, na ponta da mesa. 

- Onde está nosso pai? - Senta-se no seu lugar de sempre. 

- Saiu antes que o sol nascesse. Mas volta logo. 

Cheryl já estava acostumada com a frieza de Anne. Só não conseguia entender como aquela garota tão alegre, sorridente sumiu de repente. Era difícil conversar com Anne

Logo foram servidos com um café da manhã variado. Anne sempre apostando em carne mal passada, grandes jarras de suco e massas. Cheryl ficava apenas na salada de fruta com mel. No início ela evitava fazer as refeições à mesa, o enjoo era grande. Depois habituou-se e até então faz de tudo pra estar à mesa durante as refeições. 

Como comia pouco, concluiu rapidamente. Antes de levantar-se, sua irmã toca em sua mão. 

- O que houve? 

- Nosso pai pediu que você o aguardasse no jardim. 

A jovem assentiu e foi até seu quarto escovar os dentes. Cheryl era graciosa, corada. Cabelos ruivos, olhos dourados e uma boca rosada que já fez muitos rapazes da alcatéia ousar pedi-la em casamento.

Todos rejeitados, claro. Ela tinha noção da sua beleza estonteante mas fazia pouco caso disso. Não iria precisar disso pra nada mesmo, pensava ela. 

Foi até o jardim e sentou-se num banquinho perto do canteiro de rosas predileto da sua mãe. Sentiu o cheiro das rosas vermelhas e sorriu. Esse cheiro fazia ela lembrar-se de sua mãe tão intensamente. Se viu tentada a toca-las mas hesitou. Seu pai odiaria saber que ela mexeu na lembrança mais viva da sua única amada, sua única mulher. Seu olhar ergue-se ao escutar umas passadas lentas em sua direção.

- Pedi que me esperasse aqui justamente por ser um lugar que te deixa calma. - Clifford  parecia mais tranquilo, sereno. - Já tens a resposta, presumo. 

A garota levanta-se do banco e encara seu pai sem nenhum pingo de mágoa, apenas um pouco de infelicidade. 

- Já sabias desde o momento que ousou me ofertar à família Topaz qual seria a minha resposta, pai. - Sua voz sai vacilante. - Eu aceito casar-me com a herdeira mais velha da alcatéia Crescente.

Clifford sentiu os olhos encher-se de lágrimas. Engana-se quem pensa que são lágrimas de alegria... 

Ele sabe quão pesado será esse fardo para sua menina carregar. 

Mas também sabia que era preciso, existem vidas nesse meio. Vidas inocentes que precisam ser protegidas. É justamente por isso que Cheryl não rejeitou a proposta do seu pai. 

- Mandarei avisar que já podemos marcar um noivado. Claro, dando um pequeno espaço de tempo para vocês se conhecerem. 

Ela engole o choro e sai da presença do pai antes que desabe. Correu até a cozinha encontrando Penelope cozinhando alguma das suas especiarias. 

Cheryl acreditava que Penelope era um tipo de mágica, bruxa, sei lá. 

Além de acalmar o coração dela, sua comida era algo de outro mundo. 

- Penelope, abrace-me. Abrace-me, por favor.

A senhora se viu soltando as panelas e acolhendo a garota em seus braços. Cheryl não chorou, apenas queria se sentir amada, cuidada por alguém. 

Penelope era ótima em fazer Cheryl se sentir bem. Por isso ela insistia em dizer que Penelope era bruxa ou algo do tipo.

- Já falasse com teu pai, não foi? - A mulher entrega um copo com água a Cheryl.

- Em pouco tempo serei noiva. - Revelou abatida. - Como pode minha vida virar do avesso desta forma? Não me conformo, não mesmo. 

As duas ficaram conversando até perto da hora do almoço. Cheryl achou por bem deixar Penelope cozinhar em paz e saiu em rumo ao vilarejo. Como estava sem fome, achou que um passeio despertaria isso de imediato. 

A chuva tinha cessado mas o tempo ainda estava fechado, nublado. O início do inverno sempre é desse jeito, escuro. Cheryl estancou ao chegar no mesmo lugar onde tinha visto o grande lobo. Mais calma e atenta, ela analisa melhor o que viu. 

O lobo que Cheryl viu não era de onde ela vivia. Os lobos da alcatéia Nascente tem pelagens claras e aquele era de pelagem negra. Provavelmente era um lobo da alcatéia Crescente. Mas o que ele estava fazendo ali?

Continuou a caminhada tentando arejar um pouco a mente. Logo ouviu um som de botas pisando apressadamente no chão vindo ao seu encontro. Virou-se pra saber quem vinha e sorriu. 

- O que faz aqui, Nick?

Ao aproximar-se de Cheryl, o homem moreno tendo o nome de Nick abraçou-a. Ele era o único da alcatéia que ela tinha amizade. 

Era o único que lhe respeitava como amiga, não como filha do líder.

- Seu pai pediu pra lhe avisar que não podes ficar andando assim sozinha pelo vilarejo. Principalmente nesse tempo ruim... - Ofegante, Shawn controla a respiração aos poucos. - Você é muito indefesa, Cher. 

- Meu pai é que está controlador demais, Nick. - A jovem começa a caminhar novamente sendo acompanhada pelo amigo. - Faz tempo que não o vejo. Andas muito ocupado? 

- Sim, minha ausência é resultado dos treinamentos intensivos que seu pai anda nos impondo. Nada tão terrível que não possa aguentar. 

Cheryl encara o céu e observa alguns pássaros sobrevoando o vilarejo. Teve inveja da liberdade dos pássaros mas preferiu guardar esse pensamento pra si.

- Meu pai já contou para a alcatéia sobre a novidade? - Perguntou amarga.

- Sim, Cheryl. - A voz do homem foi de pura tristeza. - Sinto muito por isso. Mas infelizmente é um fardo que os filhos de líderes carregam. Quem dera eu te livrar disso... 

Depois de tais palavras, os dois caminharam de volta para o casarão em silêncio total. 

Tudo isso estava doloroso pra Cheryl, mas ela não podia ficar lamentando-se o tempo inteiro. Era filha de um líder e mesmo querendo, isso jamais mudaria. 

Nick nutria sentimentos puros por Cheryl, mas nunca os revelou. Ele sabia o seu lugar, mas doía saber que ela nunca poderá ser sua.

Prometida à Alfa - ChoniOnde histórias criam vida. Descubra agora