•Capítulo 1•

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Pistola👻

Quando penso que as coisas não podem piorar, vão lá e pioram. Saber que eles tavam lá dentro e não saber nenhuma informação era de doer na alma. Tinha vindo só eu e o Henrique,  Branquinho tinha ficado com o Gael em casa e tava sempre mandando mensagem perguntando como estava as coisas.

Aqui tava uma rapaziada, tava Jefinho, Fumaça, tia Brenda, a Beatriz e minha vó.

Demorou umas quatro horas e nada de informações.

Logo uma enfermeira baixinha loira, veio na nossa direção com um papel na mão.

—Vocês são os familiares de Luise Martins e Pedro Ferreira, certo?—Ela perguntou e a gente assentiu.—O caso dos dois é bem delicado. Pode ter sido só uma bala em cada um, mas elas fizeram um grande estrago. Não sei como estar a situação deles, nesse momento eles estão na sala cirúrgica, assim que acabar o médico cirurgião virá aqui atualizar vocês.—Falou e sem mais nem menos saiu.

Fiquei pensando em como a vida muda em questão de segundos. Cuide bem de quem te ama, a vida é um sopro.

A vida é um sopro, um arrepio. A gente não controla, não segura. Não tem domínio. A vida nem sempre fica pro dia seguinte, às vezes deixa só a saudade, a lembrança, o coração andando sozinho. Nem tudo o que amamos fica pra sempre. Nem tudo o que temos perdurará.

É tão importante uma ligação no meio do dia. Tão seguro conferir, em tempo, a caixa de mensagens. Às vezes quem vai, vai carregando não só o fim do seu destino. Leva também todas as ausências, as esperas, a fome do que ficou esperando alimentar. Não deixe para amanhã o que só se tem certeza de viver hoje. Não peça a quem sente para esperar. Nem tudo que o outro tem a gente percebe. Nem tudo que o outro grita a gente é capaz de escutar. É preciso muita coragem para viver com alguém. É preciso muita sabedoria para assumir amar. Temos que ser solidários com quem está com a gente. E mais solidários ainda para compreender quem não pode mais aguentar. A vida é paz. Mas viver é muito além do que dormir para acordar.

(…)

Depois de algum tempo um doutor veio até nós.

—Boa noite. Eu sou o Doutor Gláucio, a Luise levou um tiro de fuzil no abdômen, ela perdeu muito sangue, o tiro afetou o fígado dela, e com isso o fígado dela teve perda de 30%. Ela vai ficar na UTI. Retiramos a bala do corpo de ambos.—Falou e tia Brenda já chorava horrores no braço do NV, olhei pro Henrique e ele não tinha reação alguma.

—E o Pedro?—Minha vó perguntou pro médico.

—Já o caso do Pedro, o tiro foi na coluna, tem que esperar ele acordar pra ver como ficará o movimento das pernas dele, já que o tiro atingiu a coluna.—Falou e logo ele foi chamado pra outra cirurgia.

Sentei no banco e abaixei minha cabeça e as lágrimas rolavam pelo meu olho.

Não posso perder eles. Já perdi minha mãe que nem pude conhecer, agora perder meu pai e minha mãe do coração, eu não aceito. Não mesmo.

Tenho medo de perder meus pais, tenho medo da morte. É tão doloroso para os que ficam. Seus pais cuidam de você, fazem tudo por você, são anjos que foram escolhidos a dedo por Deus. Não desperdice seu tempo brigando com seus pais, aproveite, pois você não vai encontrar ninguém que te ame mais que eles.

Caralho mano, cês não tem ideia do que tô sentindo, teus pais dentro de um hospital é foda parceiro.

Parece que tudo de ruim mira na minha família, tomar no cu.

Fiquei pensando e repensando. Até quando a enfermeira veio até a nossa direção e falou.

—Um de vocês podem ir ver o paciente Pedro, ele já acordou, um de vocês tem que ir lá, ele tá consciente, mas tá chamando muito pela Luise. Um de vocês tem que dar a notícia pra ele.—Ela falou e logo a Beatriz se manifestou.

—Eu vou, ele é o meu pai.—Me levantei e ela foi me guiando pro quarto que ele estaria.

Ela parou em frente a um e deu passagem pra mim entrar e fechou a porta mas não entrou.

Olhei pro meu pai e ele tava quieto deitado fitando o teto.

Me aproximei e fiquei perto do leito dele.

—Pai!—Chamei ele e ele virou a cabeça me olhando e sorriu.

—Meu filho...—Falou e pegou na minha mão.—A última coisa que eu queria era tu ter que ver eu nesse estado.—Falou triste.

—Eu tenho que tá aqui com você, segurando sua mão sempre, Eu posso ter crescido, ter mudado um pouco, mas continuo teu moleque viu Pai. Me perdoa pelas lagrimas que derramei, pelos dias que senti raiva de ti, me perdoa pai por tudo Pai. Pai você sabe que EU TE AMO né? Posso até não dizer isto todos os dias, não demonstrar, mas EU TE AMO tá Pai. E todas as noites antes de dormi, agradeço a Deus pela família que tenho, e peço a ele que cuide bem de ti, que te proteja, para no dia seguinte eu poder te ver.—Pude ver as lágrimas em seu rosto.

—Eu te amo muito meu filho, me perdoa por ser um pai ausente nesses últimos anos, me perdoa mesmo meu filho.—Falou.

—Isso ficou no passado, o que importa é daqui pra frente agora.—Falei e sequei as lágrimas dele.

—Cadê a Luise?—Perguntou e eu abaixei o olhar.—Fala.

—Tá na UTI. Logo ela vai ficar bem.—Falei.

—O que houve com ela?—Perguntou e quando foi se sentar não conseguiu movimentar as pernas.—Bruno que porra tá acontecendo com a minha perna, eu não tô conseguindo mexer minhas pernas Bruno.—Falou meio desesperado.

—O tiro afetou a sua coluna.—Falei.

—EU VOU FICAR NUMA CADEIRA DE RODAS?—Perguntou e eu desviei o olhar.—A Luise onde ela tá?

—Na UTI, ela levou um tiro no abdômen, e afetou o fígado dela, ela teve perda de 30% do fígado dela, e perdeu muito sangue.—Falei.

—Me deixa sozinho Bruno.—Falou e eu olhei pra ele.

—Eu vou ficar aqui.—Falei.

—VAI EMBORA, ME DEIXA SÓ, EU QUERO FICAR SÓ.—Gritou e eu saí.

Fui na direção onde o pessoal tava e falei pra eles.

—Ele não tá tendo o movimento da pernas, pediu pra ficar só.—Falei e todo mundo me olhou apreensivo.

Um tempo depois o mesmo doutor veio e explicou a situação do meu pai.

—Ele vai ter que fazer fisioterapia pra ter o movimento das pernas, e ele teve perda de movimentos finos nos pés e pode ficar com sequela permanente.

(…)

Amor indestrutível 2Onde histórias criam vida. Descubra agora