999 46 9
                                    

Segunda-feira, 22 de agosto

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Segunda-feira, 22 de agosto

- E aí, bunda mole?

- Ah, você sabe, acabei de dirigir por umas trinta horas seguidas e perdi a
noção de tudo. Não durmo há uns dois, três dias. Tomei mais de vinte Red Bulls
e mais de cinquenta litros de café. Acho que está tudo igual, então. - Ele ri.

- Cara, acho que você tem sangue de caminhoneiro nas veias.

- Pra você é Senhora Caminhoneira. - Ele ri de novo.

- Incrível! Acho que vou ter que aposentar Raio de Sol e começar a te
chamar de Senhora Caminhoneira.

A conversa vem sendo boa, natural, como eu torcia para que fosse. Depois
do jeito como Noah e eu nos separamos em San Diego, alguns dias atrás, eu não
sabia o que esperar desse telefonema.
Mas aí veio o silêncio constrangedor.

Nunca tivemos momentos de silêncio constrangedor antes. Não nos
dezenove anos em que o conheço.

- Então. Minnesota, hein?

- É.

- Você está na casa da Laura?

- Estou.

- E como está indo? - pergunta Noah.

- Está indo. - Deus, as coisas não estão melhorando. Ele parece quase
entediado, mas consigo sentir que está nervoso à beça. Eu me pergunto por que
ainda não o ouvi acender um cigarro. E, de repente, ouço o estalo do isqueiro e
o som familiar da primeira e longa tragada. - Você devia...

Ele me interrompe.

- Acho melhor eu deixar você em paz, Raio de Sol. Acabei de chegar na casa de Lamar, todo mundo já está aqui para uma reunião da banda, e estou
atrasado, como sempre. Estão me esperando.

Fico decepcionada, mas sei que as vidas das outras pessoas não podem parar
nem entrar em modo de espera só porque eu quero. Então, dou meu melhor sorriso e respondo:

- Tá. Claro. Você vai estar em casa amanhã à noite? Vou te ligar.

- Estou pensando em surfar amanhã depois do trabalho, mas à noite devo
estar em casa. - A respiração dele está equilibrada, mas sei que é porque ele
está se concentrando demais no cigarro, sugando a calma para dentro do corpo
com a fumaça e a nicotina.

- Tudo bem. Eu te amo, Noah. - Sempre dizemos eu te amo um para o outro.
Sempre dissemos. Ele cresceu ouvindo isso da mãe a cada quinze minutos, e ela queria mesmo expressar isso. Era natural. Eu cresci sem ouvir isso da minha mãe. Nunca, e era bem o que ela queria expressar. Era natural para ela. Ela queria expressar indiferença. Eu sentia isso todos os dias. Nos ossos. Acho que é por isso que sempre amei ouvir eu te amo de Noah e da mãe dele, Wendy.
Seria estranho terminar uma conversa com eles sem dizer isso.

Raio de Sol | Beauany | CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora