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Deixe a estrelinha 🌟

Sábado, 17 de setembro

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Sábado, 17 de setembro

Uma mensagem de texto de Laura:

Vc precisa ligar antes de vir. É grosseria.

Laura tem um jeito péssimo de pedir desculpas.

Respondo: Claro.

Porque preciso morder a língua. Não vale a pena brigar por isso. Não espero resposta e estou pronta para deixar tudo para trás, mas ela responde.

Podemos conversar?

Claro que já não estou mais com raiva. Não consigo guardar ressentimentos. Ou talvez eu seja uma otária. Seja como for, eu perdoo com facilidade.

Me liga, respondo.

Laura liga e desabafa tudo que tem em seu coração superficial. E como é coração superficial dela, não falamos do verdadeiro problema, a bulimia. Então, falamos sobre dinheiro. E, sejamos sinceros: se todo o dinheiro do mundo sumisse, ela sobreviveria. Se a bulimia não parar, vai matá-la. Mas ela ainda não está pronta para falar sobre isso, então não forço. Ao menos, estamos conversando.

Ela diz que mentiu sobre o emprego porque achou que eu não ficaria impressionada se soubesse que ela era recepcionista, e não advogada. Como se eu ligasse. Ela poderia ser gari que eu não ficaria menos impressionada do que se fosse advogada. As pessoas se prendem demais a rótulos e títulos.

Depois, ela me diz que está enrolada com cartões de crédito e contas, que a colega de apartamento saiu de lá inesperadamente em julho e que ela não conseguiu encontrar ninguém para cobrir a outra metade do aluguel. Ela não paga o aluguel há dois meses e começaram a ameaçá-la de despejo. Foi por isso que me procurou. Ela não sabia o que fazer. Sinto pena dela, mas sempre me impressiona o quanto as pessoas se acostumam com certo estilo de vida e decidem que qualquer coisa menor é inaceitável. Eu passei de uma infância em uma casa em frente à praia a morar em uma garagem com a minha irmã. E quer saber? Eu gostava mais da garagem. Acho que  Laura não aguentaria isso.

Revelo parte da história para ela, mas poupo os detalhes, a dor. Sempre foi uma luta, e isso é tudo que ela precisa saber. Não estou procurando pena, mas às vezes, estabelecer uma relação de empatia é meio como dar conselhos sem realmente dar conselhos. Esquisito, eu sei, mas ninguém gosta de ouvir o que deve fazer. As pessoas gostam de descobrir sozinhas. Quando a sessão de psicologia reversa está terminando, eu me lembro da conversa com Gustavo na noite anterior e tenho uma ideia.

Raio de Sol | Beauany | CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora