Capítulo 42

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Tudo naquele hospital parecia acontecer em câmera lenta.

Os rostos conhecidos dos profissionais de saúde passavam para lá e para cá, falando coisas sobre os pacientes, perguntando sobre o café, elogiando os novos materiais que haviam chegado há pouco tempo... Poucas pessoas na sala de espera distanciavam-se umas das outras por várias cadeiras. Uma senhora falava ao telefone, um casal abatido falava entre eles... Estava tão barulhento quanto uma sala de espera de um hospital pode ser, dentro dos seus próprios limites.

Sam não ouvia nada daquilo, a única coisa que soava e ressoava na sua mente era um questionamento.

"O que eu devo fazer?"

A mensagem era clara, "consegui", porém não estava mais nas mãos de quem "conseguiu" fazer o resto do trabalho, estava nas dele e sua escolha poderia trazer à tona algo adormecido há muito tempo ou deixá-lo culpado pelo resto da vida.

-Sam?- Amanda, uma enfermeira conhecida há muito tempo, chegou perto dele com uma prancheta e um sorriso que sempre estava com ela- Não vai entrar? Ela está acordada.

-Ah, oi, Amanda. Não vou não, eu só... Vim saber se ela está bem, tenho umas coisas para fazer.

-Ela está bem, dentro do possível, já perguntou por você três vezes.

Ele levantou e, mais uma vez, passou a mão pelo cabelo que, às vezes, ainda era um pouco rebelde:

-Eu ligo para ela mais tarde. Preciso ir agora. Até depois, Amanda.









Um vento frio e estranho para o verão o fazia se arrepender de não ter saído de casa com um casaco, ele apertou mais as flores que carregava, para que nenhuma voasse. Sempre comprava um buquê de margaridas quando fazia aquele caminho, o homem que as vendia já nem perguntava mais o que ele queria.

Seus pés já praticamente andavam entre os túmulos sozinhos. Depois de anos visitando o cemitério, não tinha mais erro. Geralmente estava vazio, com toda a tenebrosidade e mar de pedras cinzas só para ele.

Tirou metade das flores do buquê e as colocou na frente da lápide da sua irmã.

"Belle Hill

A criança mais feliz e linda do mundo"

Depois, ele colocou a outra metade na lápide ao lado.

"Carolyn Hill

A mulher e mãe mais incrível do mundo"

-Você saberia o que dizer, mãe...- ele ergueu a cabeça para o céu, na intenção de afastar os sentimentos ruins.

Abaixando-se, passou a mão pela sepultura, lembrando-se de como ela era em vida:

-Eu vou fazer o que preciso.- prometeu e, por mais que uma enorme parte sua ainda não estivesse decidida, foi embora dali.

Na metade do caminho até a sua residência, lembrou que havia ido ao cemitério de carro e voltou para buscá-lo.

Chegou em casa, pegou uma mala pequena, abriu-a e, com as mãos totalmente trêmulas e a respiração falha, jogou nela basicamente roupas, itens de higiene pessoal, documentos e sua carteira. Fechou-a e discou um número no celular.

Precisava fazer aquilo antes que a coragem se dissipasse.

-Nossa, não esperava que você ligasse.- a pessoa do outro lado atendeu. Um arrepio percorreu todo o seu corpo.

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