Capítulo 80

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Algumas horas antes...

-A senhora não está entendendo, é uma urgência! Eu preciso de uma passagem para Hartford agora!

-Eu entendo que seja urgente, entendo mesmo, mas, como já falei, só tenho passagens para amanhã à tarde...- a mulher que cuidava da bilheteria explicou, pacientemente, o que já havia explicado três vezes a Sam.

-Mas como só tem para amanhã à tarde?! E se algum familiar meu estiver morrendo lá em Hartford e não der tempo de socorrer porque a senhora não quer me vender uma simples passagem de trem?

-Senhor, não sou eu que escolhe a hora das passagens... E, queira me perdoar, mas se tem algum familiar seu precisando de ajuda em Hartford, acho que seria mais seguro chamar uma ambulância na própria cidade do que te esperar lá por duas horas inteiras.

Touché.

Sam empunhou a sua carteira e se viu obrigado a concordar com ela.

-Por favor, me dá a passagem que você tem para amanhã.

-Fica quarenta e sete dólares.









-Sam!- o pai dele saiu de dentro de casa assim que viu o filho na calçada, provavelmente estava esperando por ele na janela há algum tempo e também devia estar sozinho, Sam não viu mais ninguém no jardim (exceto Charlie, que dormia no gramado, despreocupado com o resto do mundo) - Meu Deus! Eu estava preocupado com você! De uma hora para outra ia despencar daqui até a Califórnia!

-Na verdade, eu vou, só que amanhã. Não consegui comprar passagem para hoje...- ele arrastou a pequena mala para dentro de casa e subiu com ela até o seu quarto, deixando-a em um canto perto da cama. A vantagem de só poder ir no outro dia era que ele poderia preparar um pouco melhor a sua bagagem- Sofia te contou o que aconteceu?

-Contou...- Tom respondeu, com as mãos nos bolsos, ele sempre parecia ficar tímido quando qualquer coisa relacionada a Livia ou Carolyn entrava nas conversas que tinha com Sam- Eu não conheci profundamente a Livia como você e a sua mãe, então eu não tinha uma opinião formada sobre isso tudo, para mim o que ela havia dito quando foi embora era verdade. De qualquer forma, fiquei surpreso por você ter ido correndo atrás dela tão rápido depois da carta.

-Ué, por quê?- ele estava em frente ao seu armário aberto escolhendo melhor algumas roupas- Pai, olha só para mim: a minha mãe e as minhas duas irmãs morreram, meus amigos moram em outro estado e você, na Inglaterra, onde, por mais que eu fosse estar perto do senhor, nunca seria o meu lugar. Eu estou cansado das pessoas irem embora sem que eu lute mais um pouco por elas...

-Filho...- ainda com as mãos nos bolsos, Tom deu alguns passos em direção ao garoto, ficando logo ao lado dele- Eu não esperava que você fosse atrás dela, mas... Estou orgulhoso que foi.

Sam o olhou com a testa franzida, dando espaço para que continuasse.

-Olha, Sam, eu queria ter sido um exemplo de pessoa corajosa para você se espelhar, mas eu não fui, sempre foi a sua mãe. Eu nunca tive a ousadia de lutar pelo que eu queria e... Acabei perdendo demais. Se eu tivesse sido corajoso no passado...- ele titubeou - Talvez a sua mãe ainda estivesse aqui.

-Pai... Pelo amor de Deus, a culpa do que aconteceu com a mamãe não foi sua, foi uma fatalidade...

-Bom, é verdade...- ele sorriu, de maneira nostálgica, lembrando de Carolyn- Mas, talvez, se eu não tivesse tido medo de desapegar do passado e tivesse adotado a Jane junto com ela, todos nós teríamos ido para a Inglaterra e ela não iria com a Jane para o lugar que foi quando sofreu o acidente, então o ele nunca teria acontecido. Ou então eu teria ido com a Jane aquele dia no lugar dela e teria pego um caminho diferente, porque nós nunca pegávamos o mesmo caminho. Eu não sei, meu filho, não sei o que teria acontecido e não me entenda mal, não estou reclamando da minha vida, só estou dizendo que o destino dela poderia ter sido melhor.

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