Capítulo 63

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O peso do qual Livia e Sam haviam se livrado há poucos dias foi, em pouco tempo, substituído por um outro que conseguia ser mil vezes pior: os vômitos, tremedeiras e dores de cabeça de Jane pioraram com o passar dos dias e, durante uma ida ao parque, em que ela ficou inconsciente por alguns segundos, eles se viram obrigados a levá-la às pressas ao hospital.

O sala de espera estava completamente vazia naquele dia e os profissionais não estavam com muito trabalho a fazer. Estava tão silencioso, que dava para ouvir o "tic tac" do relógio na parede. Sam andava de um lado para o outro, como se o chão estivesse em chamas, parecia que era a primeira vez que ele levava Jane ao hospital. Ele passava as mãos pelo rosto, olhava o relógio da parede, o que estava em seu pulso e mexia na gravata a cada dez segundos.

-Sam, você vai acabar se enforcando!- Livia finalmente disse alguma coisa. Desde o momento em que haviam levado a garotinha, ela estava sentada em uma cadeira, completamente calada e imóvel, exceto pelos seus olhos acompanhando os movimentos de Sam, que a estavam angustiando de forma que ela não conseguiu se segurar.

-Eu vou me enforcar se não me derem notícias da minha irmã! Eu preciso saber como ela está, por que ninguém me diz? Eu vou até lá...

-Sam, não!- ela levantou e o segurou antes que ele invadisse a área restrita. Com uma noiva e a família inteira dela trabalhando em hospitais, Livia já tinha escutado por diversas vezes a maneira certa de lidar com esse tipo de situação- Eu sei que você está nervoso, eu também estou, mas o melhor que fazemos pela Jane é deixar que os profissionais trabalhem sem interrupções. Eles vão nos dar notícias quando as tiverem.

Ele ainda olhou uma última vez para onde estava indo, parecia inconformado, mas acabou assentindo e sentando. Ajeitou a gravata mais uma vez e ficou balançando a perna. Livia sabia que não havia uma maneira de confortá-lo ou de confortar a si mesma, por isso apenas sentou ao lado dele e ficou em silêncio novamente.

Apenas depois do que pareceu uma eternidade de "tic tacs", ajeitadas de gravata e balanço de pernas, foi que dra. Ruth apareceu na sala de espera, fazendo com que ambos levantassem em velocidade supersônica.

-E, então? Como ela está?- Sam apressou-se em perguntar.

-Conseguimos restabelecê-la.- ela fez o sinal de calma com as mãos, para tranquilizá-los logo de início- Cuidamos dela e demos um medicamento para dor. Vamos deixá-la em observação até amanhã e, então, a devolvemos para vocês. A doutora Amelia está lá com ela.

-Eu e o Sam podemos vê-la?

-Claro, venham comigo.









-Você parece com a minha mãe, sabia?- aquela foi a primeira coisa que Jane disse desde que entrara ali. Amelia ficou um pouco surpresa e até sem jeito com a afirmação.

A médica estava um pouco chocada pelo estado em que a menina havia chegado lá. Chocada talvez nem fosse a palavra certa, estava assustada. Eram tantos anos trabalhando com crianças com câncer que ela aprendeu a ser eficiente mesmo quando a mais triste das situações estava diante dos seus olhos, mas, naquele dia, com Jane, foi diferente. Ela não conseguiu olhar para ela como uma paciente, não conseguiu deixar os seus sentimentos de lado e agir.

Porque não era uma paciente qualquer, era a neta em suas mãos.

Tentando ganhar tempo para pensar no que responder, deu uma última checada nos aparelhos ligados a ela.

-Ah, você acha? Eu devo ser muito bonita, então.

-É sim.- ela sorriu fracamente- Eu não vou ter que ficar aqui, vou? Não quero ficar longe de casa de novo...

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