Capítulo 54

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-Você e sua namorada sempre são tão gentis um com o outro?- Sofia terminou de dobrar uma camisa e colocou-a na pilha ao seu lado. Não estava nada fácil arrumar a bagunça que Heather deixara- Digo, sempre acusam um ao outro de traição e essas coisas?

-A gente nunca foi este tipo de casal 100% apaixonado...- Sam admitiu e fechou a gaveta de meias- Mas pelo menos a gente se respeitava, nos últimos meses parece que a coisa desandou de vez... Enfim, eu não quero ficar falando dela, de preferência, não quero vê-la pelo resto do mês.

-É meio difícil pensar de cabeça fria no meio da bagunça que a casa ficou...

-A bagunça é o de menos, o problema é esse egoísmo dela que está me tirando do sério... Ela não me dá espaço, age como se a minha irmã fosse uma pedra no meio do caminho e não tem a mínima sensibilidade com a dificuldade deste momento... Sinceramente...- ele guardou, impacientemente, os relógios que restavam, havia muita raiva em sua voz.

Sofia não respondeu, achou que não era o melhor momento para conversar com ele. Sam acabou parando de falar e os dois, juntos, continuaram dobrando e guardando.

* * *

A chegada de Amelia ao hospital em que Jane estava causou um certo alvoroço: ela era como uma diva pop da área de saúde e todo mundo queria conhecê-la, até mesmo a dra. Ruth, que parecia alguém fechada e com poucos ídolos.

Ela e a sua equipe foram conduzidas até uma sala onde pudessem conversar com Livia, Sam e a oncologista de Jane com mais privacidade. Cerca de cinco pessoas haviam vindo com ela e, com o auxílio de um projetor, explicaram do jeito mais simples possível o plano cirúrgico quase impossível de ser executado que haviam montado. Tratava-se de algo que nunca havia sido feito antes.

Sam não conseguiu evitar a vontade de mandar todas aquelas pessoas de volta para Chicago, porque, pela primeira vez desde o diagnóstico de Jane, podia dizer que não estava só com medo, mas em pânico: as palavras de Amelia era realistas e totalmente desconfortantes. "Difícil", "complexo", "invasivo", "poucas chances", "sequelas irreversíveis"...

Livia mais ouvia do que via as imagens projetadas, estava tentando não encarar Amelia que, de vez em quando, não conseguia segurar uma olhadela, ela ou o garoto não estavam entendendo nada do que explicavam de qualquer maneira, só viam o quanto o cérebro de Jane seria mexido. Já dra. Ruth olhava espantada para a apresentação da equipe, parecendo admirá-la, mas, ao mesmo tempo, não deixava de balançar positivamente a cabeça toda vez que algum risco era mencionado.

Após quase meia hora, uma dos profissionais que viera com Amelia desligou o projetor e Sam acendeu as luzes.

-Óbvio que faremos mais exames, mas, com base nas imagens e resultados recentes que vocês dois trouxeram para mim, o que mostramos é o melhor que podemos fazer e, eu preciso frisar quantas vezes eu puder: as chances de que ela saia com vida são mínimas e, se sair, as sequelas podem tirar dela qualquer chance de uma vida comum.- Amelia olhava bem para os dois e era firme em suas palavras, sem deixar qualquer tipo de dúvida- Preciso que entendam que se trata de uma cirurgia pioneira. Estamos tentando operar o inoperável. É necessário que vocês estejam 100% certos de que é isso que querem para a Jane.

-Não...- Sam levantou bruscamente da cadeira, ajeitando a gravata e parecendo não conseguir respirar- Não, não, não... Levem este plano maluco e a equipe para bem longe da Jane, ninguém vai encostar nela, ninguém!

-Sam...- Livia levantou e tentou se aproximar, mas ele não permitiu.

-Não! Livia, não! Eu não vou fazer isso! Não vai dar certo, não vai! Olha o que fariam com o cérebro dela, é muito invasivo, é muito...- ele gesticulou com as mãos, mas não conseguiu dizer mais nada- Não... Jane tem direito aos seus últimos meses de vida, ela tem direito a esses meses... Ela tem direito!

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