Capítulo 78

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Livia acordou com uma luz forte em seu rosto e uma dor tão intensa no alto da barriga, que a fez arregalar os olhos e conter um grito.

Por um momento, decepcionou-se com o Paraíso. Não era para ela sentir dor ali, era para estar automaticamente dentro de um vestido longo, rodopiando no meio de campos floridos e coelhos saltitantes.

Mas, logo, enquanto virava as íris de um lado para o outro (sendo as únicas parte do corpo que ela conseguia mexer), percebeu que não estava no Paraíso. Na verdade, se deu conta de que o seu rosto estava quase que totalmente coberto pelo que parecia ser um nebulizador gigante e ela estava ligada a tantos aparelhos, que se perguntou se tinha veias para aquilo tudo, um deles fazia um "pi" de tempos em tempos.

Na verdade, estava difícil discernir o que era o que, sua vista estava embaçada, os borrões apenas sugeriam o que cada objeto daqueles era. Ela queria ter certeza de que estava em um hospital antes de se desesperar com as despesas. Levando as íris para a direita mais uma vez, reparou em um borrado que parecia se mexer, mas não reparar nela. Livia queria de alguma maneira chamar atenção daquela pessoa, mas sentia tanta dor, cansaço e medo que não se sentia capaz de falar. Com dificuldade, moveu a mão e o pé direito dentro da coberta, a pessoa finalmente parou por um instante e olhou para ela.

-Ah, você acordou, que bom...- a pessoa se levantou, veio vindo na direção da cama e começou a acariciar o cabelo dela. Livia piscou os olhos várias vezes para tentar enxergar o rosto de quem estava ao seu lado e quando enfim conseguiu, era exatamente quem ela pensava: Catarina.

"Agora sei porque dói", ela pensou, "estou no inferno".

-E-e... E...- Livia tentou falar, perguntar o que havia acontecido, onde estava, por que estava um pouco grogue e, principalmente, o que ela estava fazendo ali, mas falar latejava e parecia que ia sugar toda a sua energia.

-Shh, shh... Tudo bem, tudo bem, não se esforce... Eu chamei uma ambulância e você chegou no hospital em estado grave, passou por uma cirurgia e provavelmente vai ter que passar por outras, mas não se preocupe, você está bem e ninguém vai poder te machucar aqui. Quando se sentir melhor, pode me fazer todas as perguntas que quiser. Agora descansa, tudo bem?

Ela assentiu, com dificuldade. Catarina não havia explicado nem a metade do que a acamada queria saber. Livia achava a voz e o jeito dela irritantes desde a primeira vez em que haviam se visto, além disso, ela não fazia ideia de como pagaria pela ambulância, internação e cirurgias, mas dane-se, porque aquela garota irritante, que a havia deixado com uma dívida do tamanho do ódio que ela sentia por Derek naquele momento, seja lá por qual motivo, estava por perto quando ela se esfaqueou, havia salvo a sua vida. 

E por isso ela seria eternamente grata.









-Surpresa! Olha as frutinhas!- Catarina entrou sorridente no quarto, com uma badeja em suas mãos. Ela tinha os longos fios loiros presos em um rabo de cavalo, usava uma blusa de time de basquete e calça legging. Mesmo vestida de maneira simples, Livia tinha a impressão muito forte de que ela era uma dessas meninas riquinhas que nunca tiveram dinheiro como problema principal. As duas não se viam desde o dia posterior à facada, quando uma semana de provas e de muitos trabalhos prendeu Catarina na universidade, ela tinha até olheiras leves debaixo dos olhos, mas, de alguma forma, aquilo só a deixava ainda mais bonita. Ela não pôde ir ao hospital visitar Livia até aquele momento, mas ligou todos os dias e prometeu que, assim que possível, voltaria. Poucos dias antes, Livia ficaria irritada em tê-la por perto, mas tudo o que queria naquele momento, em que, apesar de ainda estar em recuperação, podia se comunicar e se movimentar com muito mais fluidez, eram explicações da parte dela, daquele tipo que não se dá por telefone- Come tudo, hein?

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