Capítulo 64

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Jane foi liberada depois de dois dias que pareceram uma eternidade para ela e para todos que a esperavam do lado de fora. Na manhã em que Sam foi buscá-la, depois de uma ligação de Amelia autorizando, ele percebeu que sua irmãzinha parecia especialmente irritada naquele dia: ela choramingou quando ele chegou, dizendo que não queria mais ficar naquele hospital, chorou quando precisou levantar para trocar de roupa, perguntou por que Livia não havia ido com ele e, ainda sem muita energia, saiu do hospital na cadeira de rodas, empurrada pelo rapaz.

Os profissionais de saúde e demais funcionários mantiveram a sua simpatia e tentaram falar com ela enquanto sua cadeira deslizava até a porta de entrada, mas Jane parecia disposta a ignorar cada um que tentasse se dirigir a ela. Queria apenas ir para casa e poder descansar perto das pessoas com as quais se sentia mais confortável.

O primeiro sorriso minimamente sincero que ela abriu foi quando, ao cruzar as portas automáticas do hospital, a imagem embaçada de Livia, por causa da luz do sol em uma intensidade que ela não sentira nos últimos dois dias, surgiu na calçada, com um pacotinho preto nos braços.

-O que a mamãe trouxe, Sam? É uma boneca?- ela perguntou. Não estava com muita força, mas poucas coisas deixavam Jane tão feliz e animada quanto uma boneca nova.

Sam não respondeu verbalmente, apenas deu uma risadinha e continuou empurrando a cadeira. Vendo os dois se aproximando, ela colocou o pacotinho no chão e passou a segurá-lo através de uma espécie de corda vermelha, que Jane logo associou a uma coleira.

Ela quase que pulou da cadeira de rodas. Teria o feito, se não tivesse gasto a pouca força que tinha para apontar e quase que gritar:

-É um cachorro! É um cachorrinho! O cachorrinho que eu pedi!

-Ele chegou hoje, bem cedinho, queríamos te fazer uma surpresa.- Livia sorriu junto com a menina, assim que a cadeira de rodas parou perto dela- Quer segurar?

O animalzinho ainda era um filhote e não tinha mais do que 30 centímetros de altura. Aparentava ser extremamente dócil e brincalhão, características confirmadas quando, após explorar um pouco o chão em que fora colocado, foi até Jane, cheirou suas pernas descobertas e ergueu as patinhas da frente, apoiando-as no colo dela.

Ela assentiu para a pergunta de Livia e conseguiu pegá-lo sozinha. Animado, o cachorrinho apoiou as patas nos ombros dela, ficando mas alto do que a garota podia segurar.

-Opa, garotão, calma aí...- Sam o ajeitou o colo dela, calmamente. O filhote continuou olhando atentamente para Jane, que o sorriu mais abertamente e o abraçou. Naquela posição, ele pareceu confortável e finalmente ficou um pouco mais quieto- Você gostou dele, Jane?

-Eu amei!- ela encostou sua cabeça na cabeça dele e apertou um pouquinho mais o abraço- Ele pode dormir no meu quarto?

-Às vezes...- Sam coçou a cabeça, não tão animado em limpar xixi de cachorro do lençol dela toda manhã- Qual vai ser o nome dele?

Jane parou por uns momentos, tentando pensar, mas nada lhe veio.

-Eu não sei... A gente podia ligar para o Oliver, para ele me ajudar a escolher!

-Ah, eu tenho a impressão de que o Oliver já está nos esperando no quintal da sua casa. Vamos lá?- Livia apontou para o carro de Sam, estacionado em uma das vagas do hospital

-Vamos, vamos!

* * *

Catarina sentia um pouco de frio, apesar de ser pleno verão. Ela passava as mãos em seus braços, para aquecê-los, sentada na varanda de Sam, observando a brincadeira que corria no jardim.

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