Capítulo 14

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Sim, o capítulo está antecipado. A autora decidiu colocar mais cedo porque estava extremamente propensa a fazer uma distribuição abrangente de spoilers.

Boa semana e leitura <3

* * *

Sam pensara em levar flores para Livia na noite anterior, mas, quando acordou, lembrou de alguns detalhes importantes, dentre eles que era inverno e que o aroma das flores em conjunto com a viagem de carro poderia fazê-la passar mal. De qualquer forma, sentia a necessidade de alguma ação que fosse reforçar seu apoio a ela.

Apoio era o mínimo que ela podia ter, na ausência de escolha.

Ele bateu a porta de casa com força, esquivando-se no lado de dentro, a neve caía violenta do lado de fora e, mesmo morando ali desde o dia em que nasceu, o frio estava perto do insuportável. Ainda batendo em seu casaco para tirar metade da neve, escutou a risada do seu pai e da sua mãe, que o observavam, sentados no mesmo lugar e com a mesma quantidade de papéis do dia anterior, achando graça da sua situação:

-Filho, joga esse casaco em algum lugar aí.- Carolyn instruiu, erguendo os olhos, que antes estavam fixos na tela do computador- E venha se esquentar, seu rosto está todo vermelho.

-Essa neve toda caindo de repente chega a ser estranho, não acha? Mesmo sendo inverno...- Tom bebericou seu café e fez uma anotação em um caderno.

-Só queria que o diretor olhasse a previsão do tempo e lembrasse que a maioria dos alunos vai e volta da escola andando...- impaciente, Sam sentou perto dos seus pais, com os braços cruzados. Ele observou que aqueles papéis também tinham relação com o processo de adoção e chegou a se surpreender ao notar o modo que eles pareciam estar realmente empenhados nisso- Vocês por acaso têm um novelo de lã em algum lugar?

-Um novelo de lã?- Carolyn tirou os óculos e apoiou-os na mesa- Para que você quer isso?

-Daqui a poucos minutos vou visitar uma amiga que pode estar muito nervosa hoje e ela se acalma quando tricota.

-Talvez tenha um ou dois na caixa que sua avó deixou aqui. Pode pegar.- Tom permitiu, pegou uma pasta e estendeu para o filho- Mas antes dê uma olhada nestas novas fotos que eu e sua mãe recebemos hoje. São mais crianças esperando serem adotadas. Estas são da Coréia do Sul e da Bulgária.

-São lindas, não são?- Carolyn sorriu- Deixamos o Bob tomando conta do restaurante e passamos a manhã inteira fazendo contas e vendo o quanto precisaríamos para as viagens e para preparar a casa para receber outra criança. Vai acontecer mesmo, filho, não é legal?

As fotos daquelas crianças transmitiam paz e Sam amava a paz. Uma garotinha de bochechas grandes sorria e fazia o símbolo de "paz e amor" com os dedos, outra tentava fazer um rabo de cavalo em si mesma e gargalhava de como seu cabelo não cabia dentre suas mãos, já uma terceira usava um casaco que cobria metade do seu rosto e achava aquilo muito divertido. As crianças são tão inocentes, conseguem ser felizes com tão pouco e há quem diga que elas são as que entendem menos sobre a vida, quando são as que sabem aproveitá-la ao máximo.

Sam lembrou-se de Belle e de como ela fazia uma festa pelos mínimos motivos. Lembrou-se de como ela gostava de encher seu cabelo de presilhas, vestir as roupas de Carolyn e de Tom, tirar fotos suas com os celulares alheios e encher as galerias com elas.

Ele lembrou-se de como a amava e essa lembrança era sempre dolorosa e reconfortante.

Belle emanava luz e uma acendeu na cabeça de Sam. Algumas coisas são óbvias como o dia que precede a noite, muitas estão bem debaixo dos narizes das pessoas e elas não veem, porque não são capazes de parar e olhar atentamente. Mas ali, sentado com seus pais, olhando aquelas fotos, Sam via uma solução clara e muito melhor do que um novelo de lã. Talvez fosse loucura, talvez fosse rápido demais, mas talvez não.

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