Capítulo 12

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-Livia, calma, para com isso!- quando foi segurá-la, ela atirou a última cadeira que ainda estava no lugar e ele precisou desviar. Poucos segundos já foram suficientes para ele notar que ela estava completamente fora das suas faculdades mentais e que seu rosto sangrava na testa e bochecha, provavelmente cortes feitos pelas garrafas de cerveja que ela atirara no chão, o piso estava escorregadio e cheio de cacos- Livia, você precisa se acalmar!

-QUEM ELES PENSAM QUE SÃO?- ela ergueu uma das cadeiras caídas apenas para jogá-la de novo- QUEM ELES PENSAM QUE SÃO PARA ME CHAMAREM DE VADIA? IDIOTAS!

-Livia...

-NÃO!- ela virou a mesa, que bateu direto na bancada da cozinha, depois enroscou os dedos em seu cabelo e puxou-o, como se quisesse atirar a si própria em algum lugar distante- Eu não sou uma vadia, eu não sou uma vadia, eu não sou uma vadia, eu não sou, eu não sou, EU NÃO SOU!- exclamou, tirando as mãos do cabelo e movimentando os dedos para dentro e para fora, procurando mais alguma coisa que pudesse quebrar.

Sam não gostava do fato que ela fosse tão fechada, mas estava honestamente assustado com aquela reação por parte da menina: parecia que o ar ia parar de circular pelo seu corpo a qualquer momento e que ela tinha tanto força quanto disposição o suficiente para derrubar uma daquelas paredes. Ele precisava ajuda-la, mas ela não o deixava tocá-la, ele precisava saber se ela tinha bebido, mas como ia se aproximar?

O que mais o assustava era o seu pressentimento sobre ela estar correto.

-Livia, p-por que você não tricota um pouco? Pega a sua lã, eu fico te observando...

-PORQUE EU NÃO POSSO!- ela virou para Sam bruscamente. Mesmo não sendo exatamente como ele gostaria, pelo menos ela havia lhe dirigido algumas palavras. O fato de dizer em voz alta que não podia tricotar pareceu magoá-la profundamente, porque as lágrimas sobrepuseram-se à sua vontade de gritar desesperadamente e pareceram pesar tanto, que ela caiu em cima de seus joelhos, cobrindo o rosto com as próprias mãos, para não ser vista chorando.

Sam controlou o próprio pânico, ponderando sobre cada passo que dava. Antes de encostar um dedo nela, lembrou do jeito que ela se assustara naquela manhã quando ele a tocou sem aviso prévio:

-Eu vou te ajudar a levantar, tudo bem?

-Eu não sou uma vadia, eu não sou...

-Não, não é...- concordou, procurando manter a calma, para que ela fizesse o mesmo. Ele viu Livia tremer como gelatina de novo, não importava quantas vezes aquilo acontecesse, sempre era horrível, pior ainda era ter a consciência de que a frequência indicava que ela quase nunca estava realmente bem.

Se seu primeiro instinto foi lhe dar lã e agulha, o segundo foi leva-la para debaixo d'água, mesmo estando frio, ele seria cuidadoso. Certificou-se de que havia toalha e tapete no banheiro, ainda que surrados, para que ela não congelasse. Pesando que não havia mais tempo até executar um ato que talvez a acalmaria, ele entrou com ela, ambos com vestes completas, debaixo do chuveiro.

Ela ainda resistiu, quis sair, chorou e chacoalhou as mãos por algum tempo, até que simplesmente entregou-se e permitiu-se estar lá. Sentindo a água encharca-la por completo, deixou que Sam a abraçasse e retribuiu o gesto.

-Tudo bem, Livia, vai ficar tudo bem, só respira fundo aqui comigo, certo?- ele instruiu, apertando o corpo dela contra o seu- Você está segura aqui, não precisa ter medo.

"Não precisa ter medo", ela podia se concentrar nessa frase, e o fez. "Não sou uma vadia" foi pouco a pouco se esvaindo de sua mente, até que a única coisa que ela escutava era que não tinha nada que precisasse ser temido, que ficaria tudo bem e que ela estava segura ali. Por algum tempo, aquilo bastaria.

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