-Livia, calma, para com isso!- quando foi segurá-la, ela atirou a última cadeira que ainda estava no lugar e ele precisou desviar. Poucos segundos já foram suficientes para ele notar que ela estava completamente fora das suas faculdades mentais e que seu rosto sangrava na testa e bochecha, provavelmente cortes feitos pelas garrafas de cerveja que ela atirara no chão, o piso estava escorregadio e cheio de cacos- Livia, você precisa se acalmar!
-QUEM ELES PENSAM QUE SÃO?- ela ergueu uma das cadeiras caídas apenas para jogá-la de novo- QUEM ELES PENSAM QUE SÃO PARA ME CHAMAREM DE VADIA? IDIOTAS!
-Livia...
-NÃO!- ela virou a mesa, que bateu direto na bancada da cozinha, depois enroscou os dedos em seu cabelo e puxou-o, como se quisesse atirar a si própria em algum lugar distante- Eu não sou uma vadia, eu não sou uma vadia, eu não sou uma vadia, eu não sou, eu não sou, EU NÃO SOU!- exclamou, tirando as mãos do cabelo e movimentando os dedos para dentro e para fora, procurando mais alguma coisa que pudesse quebrar.
Sam não gostava do fato que ela fosse tão fechada, mas estava honestamente assustado com aquela reação por parte da menina: parecia que o ar ia parar de circular pelo seu corpo a qualquer momento e que ela tinha tanto força quanto disposição o suficiente para derrubar uma daquelas paredes. Ele precisava ajuda-la, mas ela não o deixava tocá-la, ele precisava saber se ela tinha bebido, mas como ia se aproximar?
O que mais o assustava era o seu pressentimento sobre ela estar correto.
-Livia, p-por que você não tricota um pouco? Pega a sua lã, eu fico te observando...
-PORQUE EU NÃO POSSO!- ela virou para Sam bruscamente. Mesmo não sendo exatamente como ele gostaria, pelo menos ela havia lhe dirigido algumas palavras. O fato de dizer em voz alta que não podia tricotar pareceu magoá-la profundamente, porque as lágrimas sobrepuseram-se à sua vontade de gritar desesperadamente e pareceram pesar tanto, que ela caiu em cima de seus joelhos, cobrindo o rosto com as próprias mãos, para não ser vista chorando.
Sam controlou o próprio pânico, ponderando sobre cada passo que dava. Antes de encostar um dedo nela, lembrou do jeito que ela se assustara naquela manhã quando ele a tocou sem aviso prévio:
-Eu vou te ajudar a levantar, tudo bem?
-Eu não sou uma vadia, eu não sou...
-Não, não é...- concordou, procurando manter a calma, para que ela fizesse o mesmo. Ele viu Livia tremer como gelatina de novo, não importava quantas vezes aquilo acontecesse, sempre era horrível, pior ainda era ter a consciência de que a frequência indicava que ela quase nunca estava realmente bem.
Se seu primeiro instinto foi lhe dar lã e agulha, o segundo foi leva-la para debaixo d'água, mesmo estando frio, ele seria cuidadoso. Certificou-se de que havia toalha e tapete no banheiro, ainda que surrados, para que ela não congelasse. Pesando que não havia mais tempo até executar um ato que talvez a acalmaria, ele entrou com ela, ambos com vestes completas, debaixo do chuveiro.
Ela ainda resistiu, quis sair, chorou e chacoalhou as mãos por algum tempo, até que simplesmente entregou-se e permitiu-se estar lá. Sentindo a água encharca-la por completo, deixou que Sam a abraçasse e retribuiu o gesto.
-Tudo bem, Livia, vai ficar tudo bem, só respira fundo aqui comigo, certo?- ele instruiu, apertando o corpo dela contra o seu- Você está segura aqui, não precisa ter medo.
"Não precisa ter medo", ela podia se concentrar nessa frase, e o fez. "Não sou uma vadia" foi pouco a pouco se esvaindo de sua mente, até que a única coisa que ela escutava era que não tinha nada que precisasse ser temido, que ficaria tudo bem e que ela estava segura ali. Por algum tempo, aquilo bastaria.
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Never Stay
Romansa"Nunca amar alguém é o caminho mais fácil para não partir seu coração, mas se isso também significar que você nunca vai se deixar ser amada, sequer haverá um coração que bata por alguma coisa." Ainda criança, Livia foi rejeitada e abandonada por se...