Capítulo 26

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Livia sabia que não deveria ter pedido para Sam deixá-la sozinha dois dias antes, sabia que deveria avisar a alguém que seu corpo mal podia se mexer sem extrema dificuldade e que não deveria sair sozinha e desnorteada, mas, por alguma razão, estava fazendo tudo ao contrário.

Ela sentia o suor descer pelas suas costas, pescoço e testa, enxergava mal o que estava a sua frente, tentava focar a audição nos carros. Jane não movia um músculo em seu ventre, parecia saber o quão transtornada e doente Livia estava e, por isso, queria dar espaço a ela.

"Eu deveria estar em casa", ela repetiu mentalmente para si mesma, mas só de pensar na casa, pensava nos pais de Sam e pensar nos pais de Sam, naquele exato momento, fazia com que ela quisesse vomitar ou explodir. Por isso, permitiu que suas pernas cansadas e bambas a levassem para bem longe daquela residência.

Como se tivesse uma rota perfeitamente traçada, ela parou na frente de uma igreja e todos os seus instintos a mandaram entrar.

Lembrou-se vagamente de quando era criança e, em dias que o seu pai chegava muito fora de si em casa, assustando todos os filhos, encontrava sempre Jane, sua irmã, em algum cantinho, com as palmas juntas e os olhos fechados.

Livia nunca rezara junto com ela, não entendia a dimensão de uma oração, mas sempre ficava mais calma quando via a irmã tranquilizar-se significativamente após o seu "amém". Em algum lugar, Jane aprendera a rezar e jurava (de dedinho) que aquilo a fazia sentir menos sozinha e com medo.

Era exatamente daquilo que Livia precisava, pois estava extremamente solitária e assustada.

Apoiando-se nos corrimões, subiu as cinco escadas e, encontrando as portas abertas, entrou. Conseguia distinguir, em meio à sua agonia, uma cruz enorme, tomando quase toda a parede, a metros de distância, e muitos bancos de madeira, sentou-se em um deles, distante do altar.

-Jane...- ela chamou sua irmã, fracamente- Jane... Em todas as vezes que eu olhei para o céu e falei com você, não acreditei realmente que pudesse me ouvir... Mas, se você puder, se tiver noção do que acontece por aqui onde quer que esteja, por favor, reze para que eu saiba o que fazer com ela, porque, eu juro, não faço ideia...

-Olá... Você não me parece muito bem.- uma voz doce e amadurecida e uma mão no ombro de Livia surgiu. Tudo o que conseguiu visualizar foi um habito e um rosto enrugado- Eu posso te ajudar?

-Eu acho que não...

-Meu bem, você está queimando...- observou, tocando o pescoço dela e espantando-se com a temperatura- E também está grávida... Precisa ir ao hospital agora!

-Não, não, por favor...- ela tentou se afastar, mas seria ilusão achar que conseguiria sair correndo.

-Por que não? Tem medo de médico, uma menina deste tamanho, que já é mãe?

-Eu não posso pagar... Por favor, não me faça...- "ir", ela pensou, mas não conseguiu proferir. As cores misturaram-se e depois sumiram da sua frente, ela sentiu sua cabeça bater no encosto do banco de madeira da frente e seu corpo escorrer por ele. Estava consciente, mas incapacitada.

Aquilo já havia acontecido tantas vezes que ela perdera as contas, seu corpo praticamente sem imunidade ceder. Ouviu vagamente a freira que falava com ela gritar desesperada por um médico e por ajuda, depois muitos passos dentro da igreja.

Alguém a tirou do chão e foi andando rapidamente com ela em seus braços, subiu outras escadas, abriu uma porta e a deitou em algum lugar.

"Ela está com muita febre, chamem rápido o médico!"

"Peguem o celular, deve ter algum número de emergência."

"'Violet'. Rápido, liga, pede para ela vir aqui!"

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