Para uma experiência completa, leia ouvindo "All I Want", de Kodaline.
* * *
Em poucos segundos, a loja que a Irmã Grace havia indicado virara o lugar que Livia mais gostava em toda a vila.
Era pequeno, aconchegante, teto baixo e paredes de madeira. Na Vitrine, atrás do nome do estabelecimento que ela sequer prestou atenção, estavam expostos diversos novelos de lã de muitos tamanhos e cores diferentes, tantas que algumas Livia nem conhecia. Sem titubear, ela abriu a porta, fazendo tocar um sininho e chamando a atenção da senhora atrás do balcão, antes concentrada em seu próprio tricô colorido.
-Bom dia, querida.- ela largou o tricô e desceu os óculos, pendurando-o em seu pescoço pela corrente presa a ele- Como posso te ajudar?
Livia contou o dinheiro que tinha em mãos, não havia levado muito. Apesar de trabalhar no Coffee durante meses sem a necessidade de pagar aluguel tê-la colocado na melhor situação financeira na qual ela estivera em oito anos, não queria queimar tudo o que tinha deslavadamente como se sempre fosse ser daquela maneira. Precisava de cautela.
-Bom dia. Eu só quero um novelo de lã azul e um par de agulhas novo, desse aí atrás da senhora.
-Ah, claro... O novelo pode pegar, meu bem.- apontou para onde estava a lã e, quando Livia se afastou, fez a próxima pergunta- De que cor quer as agulhas?
-Amarelas.- respondeu, colocando o novelo e o dinheiro em cima do balcão. A senhora começou a contar e separar o troco, novamente com auxílio dos óculos.
-Você tricota? Para estar querendo "um par de agulhas novo"?
-Sim, eu perdi o velho há algum tempo, já procurei em toda tarde.
-Tenho certeza de que este daqui também vai te agradar.- sorrindo, ela estendeu uma sacola com as agulhas, a lã e o que sobrara do dinheiro.
-Obrigada.
De todas as cidades que Livia já havia passado, ela nunca se sentira tão tentada a observar quanto se sentia em Stratford, enquanto fazia o curto percurso da loja até o convento.
Percebeu que já havia feito aquele trajeto diversas vezes: para ir ao mercado, à escola e, dependendo de onde estivesse, à praia, mas nunca havia reparado na loja de tricô ou nos jardins justapostos das casas sem cercas.
Geralmente não reparava nos detalhes mais profundos dos lugares, não tinha tempo o suficiente para criar tamanha conexão e, na verdade, também nunca queria. Não queria nem em outras cidades, nem em Stratford. O que desejava mesmo era parar com suas agulhas, seu novelo de lã e transformá-lo em duas meias que serviriam para protegê-la do frio.
E seria perfeito, porque ficaria exatamente do jeito que ela queria, nem um defeito que pudesse apontar. Ela ficaria satisfeita.
Já no seu destino, dirigiu-se ao quarto que voltara a ficar depois que fora liberada do hospital há alguns dias, onde sua mala amarela a esperava pronta, fora arrumada no dia anterior.
Eram dias desde que recebera alta e um inteiro sem derramar uma lágrima sequer.
A Irmã Grace estava sentada na cadeira, com Jane adormecida em seus braços, ninando-a.
-Obrigada por ficar com ela, Irmã.- agradeceu, pegando a garotinha para que a senhora voltasse aos seus afazeres- Espero não ter demorado muito.
-Não demorou nada, meu amor. Jane é uma benção... Depois que você a amamenta, ela não dá trabalho algum.
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Never Stay
Romance"Nunca amar alguém é o caminho mais fácil para não partir seu coração, mas se isso também significar que você nunca vai se deixar ser amada, sequer haverá um coração que bata por alguma coisa." Ainda criança, Livia foi rejeitada e abandonada por se...