Capítulo 61

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-Você não vai ter problemas por estar aqui comigo?- Livia bebeu um pouco do seu cappuccino, ela e Violet pegaram uma mesa no Retro e, fora elas, só tinha uma funcionária e mais duas pessoas, cada uma delas em uma mesa individual, mas as três estavam tão concentradas em seus celulares que era como se estivessem sozinhas ali.

-Por que eu teria?

-Sei lá... A Sofia... Ela... Ela...- Livia pensou antes de terminar a frase, será que Violet sabia como estavam se desenrolando as coisas e o que Sofia havia dito no dia anterior?

-Vocês não estão se dando muito bem, não é?- Violet completou, despejou quase o tubo inteiro de ketchup nas batatas e as ofereceu a Livia, rindo, porque aquela situação lembrava uma outra certa vez que dividiram batatinhas naquele mesmo lugar, que, na época, se chamava Coffee.

-Não... Ela deixa cada vez mais claro que está incomodada com a minha presença. Eu não a culpo, sinceramente...

-Não leva a Sofia tão a sério nesse ponto. Ela tem sentimentos fortes e confusos em relação a você, mas não quer te magoar, eu sei que não.

-Honestamente, não é o que parece... Na verdade, o que parece é que ela quer me punir pelo que fiz. Mas, sério, não tem problema, não é que eu não mereça, eu só não quero que vocês briguem por você ter vindo para cá comigo.

-Não vamos brigar, Sofia não é assim. Respeitamos a individualidade uma da outra como qualquer casal saudável faz.- Violet comeu duas batatinhas- Eu sei que não é o que parece, mas ela não quer te deixar triste, é que olhar para você a faz lembrar de uma fase um pouco difícil das nossas vidas que passamos depois que você foi embora e, apesar de já termos superado, ela odeia lembrar.

-Q-q fase? E o que eu tenho a ver com ela, se nem estava mais aqui?

Uma certa tristeza surgiu no lugar da alegria de Violet, ela ficou mexendo um pouco nas suas unhas, buscando forças para falar sobre esse assunto.

-Livia... Nos dias que precederam a sua partida, Sofia lidou muito bem com tudo o que havia acontecido.- ela deu uma pausa e por "tudo" Livia entendeu que ela estava falando do sequestro, anos depois aquele assunto ainda dava arrepios nela- Na verdade, ela agia como se nada tivesse acontecido. No começo, achei que fosse porque a cabeça dela estava cheia de outras emoções: ela ia se afastar dos amigos de infância, da família, ia começar a faculdade, tínhamos acabado de decidir que um oceano nos separaria fisicamente... Eu lembro até de ter ficado com receio de deixá-la e não estar presente quando o baque viesse, mas o tempo foi passando, eu e o Jackson acabamos no mesmo lugar que ela, eu a pedi em casamento e parecia que ela nem se lembrava mais disso, achamos que o tal "baque" nunca ia vir.

-Mas veio, presumo.

-Veio...- ela assentiu- Pouco tempo antes do casamento decidimos que queríamos ter um bebê e resolvemos colocar esse plano em ação depois da cerimônia. Jackson aceitou ser o nosso doador e, pouco tempo depois, Sofia estava grávida. Nós ficamos tão, tão felizes... Começamos a pensar em tudo, ouvimos o coraçãozinho do bebê, vimos ele começando a se formar no ultrassom... Estávamos tão ansiosas, que fizemos o exame de sexagem fetal na oitava semana de gravidez e descobrimos que era uma menina.

Livia ia pegar uma batatinha, mas recuou. Se Violet estava falando de uma menina e Oliver era um menino, aquilo só podia querer dizer uma coisa nada boa.

-V-Violet... Vocês perderam o bebê?

-Perdemos... Para ser mais exata, ela foi arrancada de nós. Sofia sofreu um ataque de caráter homofóbico a caminho do lugar que ela daria aula a algumas crianças naquele dia, eles a agrediram tanto que ela soube na hora que tinha perdido...- ela começou a secar algumas lágrimas que desciam- Ela foi levada ao hospital inconsciente e encontraram o meu número nos contatos de emergência dela. Quando eu e o Jackson chegamos ao hospital, ela já estava acordada. Livia, ela chorava de um jeito que eu nunca tinha visto, eu a abraçava e sentia as mãos dela tremendo em mim, ela mal falava, só se desculpava, se culpava e chorava... Tiveram que dar sedativos para ela se acalmar e conseguir dormir... E-eu estava arrasada também, mas tentava manter a compostura para poder ajudá-la.

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