Capítulo 76

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Oiii :) Só um avisinho rápido antes de começar: eu tentei deixar bem claro ao longo do capítulo, mas como eu sou assumidamente do time dos lerdos, imagino que os meus colegas de jogo podem não entender kkkkkkkkkk Esse capítulo, pessoal, é o complemento do que a Livia foi embora, ele preenche as lacunas e aborda o ponto de vista dela. Então, se quiserem, deem uma olhadinha nele antes de lerem esse aqui.

*     *     *

8 anos antes...

De todas as cidades que Livia já havia passado, ela nunca havia se sentira tão tentada a observar quanto se sentia em Stratford, enquanto fazia o curto percurso da loja até o convento.

Percebeu que já havia feito aquele trajeto diversas vezes: para ir ao mercado, à escola e, dependendo de onde estivesse, à praia, mas nunca havia reparado na loja de tricô ou nos jardins justapostos das casas sem cercas.

Geralmente não reparava nos detalhes mais profundos dos lugares, não tinha tempo o suficiente para criar tamanha conexão e, na verdade, não desejava isso. Não desejava nem em outras cidades, nem em Stratford. Desejava mesmo parar com suas agulhas, seu novelo de lã e transformá-lo em duas meias que serviriam para protegê-la do frio.

E seria perfeito, porque ficaria exatamente do jeito que ela queria, nem um defeito que pudesse apontar. Ela ficaria satisfeita.

Já no seu destino, dirigiu-se ao quarto que voltara a ficar depois que fora liberada do hospital, há alguns dias, onde sua mala amarela a esperava quase pronta.

Eram dias desde que recebera alta e um inteiro sem derramar uma lágrima sequer.

A irmã Grace estava sentada na cadeira, com Jane adormecida em seus braços, ninando-a.

-Obrigada por ficar com ela, irmã.- agradeceu, pegando a garotinha para que a senhora fosse liberada e voltasse aos seus afazeres- Espero não ter demorado muito.

-Não demorou nada, meu amor. Jane é uma benção... Depois que você a amamenta, ela não dá trabalho algum.

Livia assentiu, aquilo era a mais pura verdade, e esperou até que a Irmã saísse e fechasse a porta.

Então, finalmente poderia terminar o que tinha para fazer ali.

Na verdade, Livia havia pensado naquele dia de maneira tão metódica, que as folhas de papel e o lápis, cedidos pelas freiras, já estavam repousados no centro da mesinha de madeira do quarto, esperando por ela. Livia os encarou, ponderando sobre quais palavras despejaria ali, enquanto ninava Jane de maneira cuidadosa.

A recém-nascida emitiu um som e mexeu um pouco as mãozinhas, Livia andou com ela até o bebê conforto, que estava ao lado dos papéis, e a acomodou lá, alisando o seu rostinho antes de se sentar e empunhar o lápis.

É verdade que Livia não fora exatamente agraciada com o dom da escrita e ela tampouco tivera a oportunidade de ser uma leitora voraz ou de estudar com regularidade para que escrevesse um pouco melhor, por isso achou que teria dificuldade em fazer aquilo, mas não. As palavras fluíram como a água corrente de um rio, ela perdeu a noção do tempo entre os parágrafos e molhou várias partes do papel com as suas lágrimas (lá se ia o seu primeiro dia sem chorar).

Ela não saberia descrever a dor que foi colocar o ponto final no último papel que usou. No total, foram cinco folhas, quatro frente e verso e uma, só a frente, mesmo assim, as palavras ainda pareciam poucas e insuficientes, mas ela sabia que todas as do mundo naquelas circunstâncias não seriam o bastante. Nem para ela, nem para Sam, nem para ninguém.

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