Capítulo 59

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Sam achava que precisava ficar sozinho, mas estava passando tão mal que se perguntava se era uma boa ideia.

Se ele achava que Amelia estava chorando muito no dia anterior, era porque ainda não sabia como ia estar naquele momento, ele nem sabia que tinha tantas lágrimas. Sua cabeça doía como se fosse explodir, suas mãos tremiam, se corpo inteiro estava instável.

Fazia tempo desde a última vez que ele chorara daquele jeito, devia ter sido quando a sua mãe morreu, anos antes, ele nem se lembrava. Nos últimos meses, havia ouvido tantas vezes que sua irmã ia morrer que parara de contar. A primeira vez que sentiu pânico foi dias antes, quando Amelia e sua equipe apresentaram o procedimento que seria feito em Jane. Ele se sentia idiota, idiota porque o seu pânico se baseava em "essa cirurgia vai matá-la, se fizerem isso, ela vai morrer", mas as palavras de Amelia no dia anterior desmentiam essa tese, elas tinham sido tão claras quanto podiam ser.

Jane não ia morrer por causa da cirurgia, ela provavelmente ia morrer de qualquer jeito.

Ele sabia disso, mas talvez a ficha não tivesse caído. Talvez ele precisasse que Sofia e Jackson chegassem, com uma grande bagagem do passado para torturá-lo e com uma criança que só o lembrava de uma coisa que, em pouco tempo, ele poderia não mais ter. Talvez ele precisasse que Amelia dissesse para ele correr com os desejos da irmã porque talvez não desse tempo de realizar todos. Eram coisas tão simples... Eram drogas de coisas tão simples e talvez ele não pudesse realizar todas...

Talvez Livia precisasse voltar como mais um lembrete do passado para mostrar como, apesar da sua tentativa de driblar todos os sentimentos ruins que aquela época trazia, ele jamais conseguiria se livrar dela.

Apesar de tudo de terrível que estava na cabeça dele, apesar de não estar totalmente seguro da sua amizade com Livia, Sam não conseguia deixar de pensar na conversa de Amelia ao telefone no dia anterior e de todas as dúvidas que ele tinha sobre ela. Livia não fora abandonada e ela sabia disso.

Ele não conseguia deixar de pensar.

E isso fazia com que ele se sentisse tão fraco...

Estar na sua outra casa, na mesma casa em que Livia morara quando era uma adolescente grávida e de cabelo rosa, fazia com que ele se sentisse fraco. Fazia anos que ele não ia lá, nunca tivera coragem depois que fora embora de Stratford, oito anos antes, mas, por alguma razão, também nunca conseguira deixar aquele lugar nas mãos de outra pessoa.

A casa estava um pouco diferente do que ele se lembrava, parecia que alguém tinha acabado de se mudar para lá: tudo estava empacotado e coberto, sua mãe devia ter ido lá arrumar pouco tempo depois que ele foi embora. Mesmo assim, a sala ainda era a mesma em que Livia o havia levado quando ele teve uma crise de pânico depois de uma briga dos seus pais; a cozinha era a mesma em que uma Sofia adolescente chegou de ressaca, temendo o que poderia ter acontecido com a sua namorada; o quarto de cima, em que Livia dormia, tinha sido palco de tantas conversas, de tantas coisas, que...

Que nada. Nada do passado importava, ele estava ali por dois motivos: queria tempo e espaço para chorar sem ser visto e também procurava por algo.

Ele tirou algumas caixas dos armários da cozinha e de uma cômoda que tinha na sala, porém não encontrou nada mais do que antigos utensílios e decorações que ficariam mais empoeiradas do lado de fora do que do lado de dentro das caixas.

Estava tentando não bagunçar muito as coisas, já estava difícil demais procurar por itens tão específicos chorando do jeito que ele chorava. Ele sentou no chão por alguns momentos, mentalmente exausto e tentando pensar como sua mãe pensava para deduzir onde ela guardara cada coisa. Aproveitou para tentar parar de chorar também, ou pelo menos chorar um pouco menos, ele mal via o que estava à sua frente.

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