Capítulo 16

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Uma fotografia de Belle havia sido tirada no momento exato em que ela dava uma gargalhada que chegou a fazê-la fechar os olhos e mostrar todos os dentes porque alguém tinha acabado de lhe pegar de surpresa com a água de uma mangueira. O vestido florido da menininha, bem como seus cachinhos pretos, já estava encharcado, pois a brincadeira com a mangueira já acontecia há algum tempo quando o momento foi congelado.

Enquanto olhava o retrato pendurado na parede, Livia quase que podia ver a cena acontecer, ouvir a risada dela e entender o que aquela família sentiu quando a perdeu. Apenas pelo fato de ter tentado imaginar, sentiu uma angústia consumi-la e, quando viu, estava com as mãos firmes na própria barriga pela primeira vez desde que descobrira a gravidez.

-Livia? Você está bem?- Sam surgiu ao lado dela, com o cabelo molhado tal qual o da irmã no registro.

-Sim, só acabei de tomar banho antes de você.- ela respondeu, tirando rapidamente a atenção da foto.

Sam sorriu para ela, pegou uma de suas mãos e a levou até a janela, a neve já a havia alcançado e, apesar de uma discreta atenuação, ainda caía de maneira atípica. A tarde dava sinais de que estava em seu fim e o céu escurecia lento e magnificamente. Ele sorriu novamente, pela simples tomada de consciência de que Livia estava perto dele naquele instante e não virando um picolé.

A imagem daquela janela quebrada, de todas as noites que ela devia ter passado em alguma rua, tremendo de frio e sentindo cada parte do seu corpo paralisar foi imaginada por ele, aquilo o desesperou em um nível que ele a puxou para perto de si, querendo sentir que ela estava realmente lá.

-Você está nervoso com alguma coisa, Sam?

-Não, só feliz que você está aqui.

-Mesmo? Eu tentei te acertar com uma cadeira.

-Acontece às vezes.- ele riu- Meus pais acham que só vão conseguir vir amanhã, que é quando um cara com uma escavadeira vai passar por aqui. Eles estão um pouco preocupados, acham que você não vai mais querer falar com eles, por mais que eu diga que vai.

-A neve não é culpa deles, vou estar bem aqui quando quiserem conversar.

-Pode ser amanhã mesmo, já vão estar todos aqui.

-Tudo bem, por mim.

-Você me espera um minutinho?- ele perguntou- Esqueci meu celular lá em cima e preciso saber como o Jackson e a Sofia estão.

-Claro.- ela se desvencilhou dele.

Livia o observou subir as escadas, em quaisquer outras circunstâncias, aproveitaria aquele momento para escapar daquele lugar e voltar para o "conforto" do que estava morando, mas aquilo sequer chegou a cruzar sua mente. Ela estava inquieta quanto ao fato de dormir fora de casa no dia anterior, mas a noite a convenceu, a acolheu, ela acordou com vontade de estar perto de Sam.

Afastou alguns dos pensamentos quando as poucas luzes que estavam acessas naquela e nas outras residências que sua a visão alcançava apagaram-se e quando sentiu que o aquecedor parou de funcionar. Tudo ficou, de repente, escuro e, sem que a escuridão alguma vez a tivesse assustado, seu único instinto foi saber se o garoto no andar de cima estava bem.

-Sam? Cadê você?- ela chamou, indo até o pé da escada, de onde ele desceu apressadamente.

-Oi, Livia, não se preocupe, deve ser um apagão por causa da nevasca.- ele foi até uma cômoda em um canto da sala e começou a abrir todas as gavetas, em busca de alguma coisa- Vamos ter que acender a lareira e achar umas velas, meus pais compram várias lanternas, mas nenhuma pilha.

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