Capítulo 69

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O tapete rosa chá inteiro separava Livia de Jane, a mais nova queria atravessá-lo todo de novo só para poder dar um abraço na sua mãe, na mãe de cabelo rosa que era protagonista das suas histórias favoritas e que ela desenhava para mostrar aos seus amiguinhos desde que se entendia por gente.

Ver a materialização da sua super-heroína, dos pés à cabeça, fez com que os olhos de Jane até ficassem marejados. Charlie pulou do colo de Violet e, abanando o rabinho, foi na direção de Livia, motivação suficiente para que Jane fizesse o mesmo. Como as suas pernas começaram a ficar trêmulas, Sam a acompanhou, mas esse não era o único motivo, ele também queria uma desculpa para chegar mais perto dela, para vê-la a poucos centímetros de si.

Enquanto isso, ninguém mais se mexeu. Os conhecidos, por entenderem o peso daquele momento – se não fossem Jane e Oliver ali, aquele baile em nada iria diferir do que ocorrera cerca de oito anos antes, em que o Sam de cabelos bagunçados usava um terno e Livia, um vestido preto emprestado por Sofia – e os desconhecidos, como os garçons e Amelia (que usava uma peça azul claro, elegante e leve, e que, apesar de estar logo ao lado de Livia, não havia sido, de cara, notada), por perceberem a energia estranha que tomara o ambiente.

-Mamãe! O seu cabelo ficou rosa, igual a como estava na foto que eu tenho!- Jane exclamou e abraçou Livia, que se abaixou para poder retribuir. A fim de disfarçar as batidas descompassadas e a sensação de que havia entrado em uma máquina do tempo que o levara diretamente para a época em que as borboletas no estômago surgiram nele de forma mais evidente, Sam cumprimentou Amelia.

-Eu queria te fazer uma surpresa... Você gostou?

-Sim! Sim, sim, sim! Eu amei! Eu te amo, eu te amo muito...- disse, apertando o abraço.

-Eu também, filha...- ela disse baixinho, baixo o suficiente para apenas Jane ouvir.

-Vem brincar comigo? Por favor! Eu quero ficar com você a noite toda!

-É claro.- acariciou a bochecha dela e, quando se ergueu, percebeu que Sam a olhava- Você fez um ótimo trabalho com as escolhas para o baile. Ficou tudo muito bonito.

-Obrigado.- ele falou tentando focar no rosto dela, mas sabia que a sua atenção estava, na verdade, no cabelo. Ou no passado- Você ficou muito bonita, Livia.

-Obrigada.- a pouca maquiagem não foi suficiente para esconder que as bochechas dela ficaram um pouco vermelhas, claramente Livia não esperava por aquilo- E aí, Jane...- ela voltou a sua atenção para a garotinha- Do que você quer brincar primeiro?









Como previsto, o rumo do baile foi mais para uma festa de criança do que para um baile propriamente dito: a melodia que saía do piano foi substituída por uma que vinha de caixas de som e tocava músicas infantis. Uma das garçonetes se apaixonou pelas crianças e trocou os docinhos e vegetais por recreá-las, mas provavelmente se arrependeu quando Jane e Oliver a fizeram de prisioneira em um navio imaginário, que ficava onde as pessoas teoricamente deveriam estar dançando e cuja prisão era protegida por um feroz e temível leão (no caso Charlie, que não estava entendendo muita coisa, mas gostava da atenção), junto a Sam e Livia, que tentavam dar o seu melhor.

Livia estava com a mesma sensação estranha apertando o seu peito que tivera horas antes. Ela tentava se distrair, conversar com a sua filha, sorrir quando a garotinha falava da cor do cabelo dela, mas aquilo não passava por nada. Ela se perguntava se Sam estava sentindo aquilo tudo também, mas era difícil saber sem perguntar e ela não perguntaria.

Amelia observava Livia, sentada em uma das cadeiras com Ashley, a pessoa da sua equipe que ela havia mando em seu lugar. Ela ainda estava em êxtase pelo que havia acontecido nas últimas horas, mal podia acreditar que Livia tinha ido pedir a ajuda dela para se arrumar e que a havia convidado para o baile.

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