Capítulo 45

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O sol estava brilhando em uma intensidade maior do que a que Sam estava acostumado, ou o pouco que havia dormido na noite anterior estava deixando a sua vista mais sensível.

Ele saiu de casa ajeitando a sua gravata, repassando as tarefas daquele dia em sua mente metodicamente, eram apenas duas, mas uma delas talvez fosse uma das mais difíceis que ele faria em toda a sua vida.

"Trabalhar e levar Livia para conhecer Jane."

Não havia uma parte sua sequer que não estivesse implorando para ele desistir daquela ideia, mas era tarde demais, já havia dito à garotinha que uma amiga dele havia vindo especialmente para conhecê-la.

Abriu a porta do carro e estava prestes a entrar quando foi interrompido.

-Bom dia, Sam.- somente pela voz, ele soube que não chegaria ao trabalho tão rápido quanto gostaria.

-Bom dia, Heather.- cumprimentou, virando-se para ela. A postura dela era imponente e bela como sempre, mas carregava uma raiva tão explícita, que saía dos seus olhos como se fossem raios laser.

-Antes que você alegue "pressa para o trabalho", chequei a sua agenda e Mariette assegurou que tomará conta de tudo enquanto eu e você conversamos, vamos entrar.- sem esperar a reação dele, ela foi até a porta da casa e abriu-a com a chave que tirou da bolsa.

Ele a seguiu, cansado e sem vontade de ter a conversa que teriam e sentou-se no sofá, enquanto ela repousou a bolsa na ilha da cozinha e cruzou os braços, fuzilando-o com o olhar. Como ela não falava nada, ele tomou a liberdade de começar:

-Eu imagino que a sua vinda repentina aqui tenha a ver com a minha viagem.

-Não, Sam, não tem a ver com a viagem especificamente. Eu não quero colocar um rastreador no seu celular e monitorar os seus passos, eu não quero saber onde você está vinte e quatro horas por dia, mas eu gostaria que, quando você quiser me contar alguma coisa, fale diretamente comigo e não fique mandando mensagens por terceiros.

-Mariette não é "terceira", Heather, ela é nossa amiga.

-E eu sou a sua namorada. A viagem foi só mais uma coisa, mais um tijolo na parede enorme de coisas que você tem contado a qualquer pessoa, menos a mim. Será que você não teve um minuto no carro ou avião, sim porque eu nem sei para onde você foi, para mandar uma mensagem para mim, mesmo que só chegasse depois? Será não podia ter feito uma ligação?

-Foi uma viagem de emergência, eu...

-EU NÃO ESTOU FALANDO DA VIAGEM!- ela gritou- EU NÃO SEI POR QUE VOCÊ FOI, PARA ONDE E SÓ SEI QUE VOLTOU PORQUE VOCÊ INFORMOU À EMPRESA! ESTOU FALANDO DE UM POUCO DE CONSIDERAÇÃO, SAM!

-QUE SACO!- bradou, levantando-se- É POR ISSO QUE EU NÃO TE DIGO NADA, É POR ISSO! VOCÊ NÃO SABE ESCUTAR!

-ESCUTAR O QUÊ? ESCUTAR O QUE SE VOCÊ NUNCA DIZ NADA?!

Sam voltou ao sofá e conteve a sua vontade de continuar brigando. Apoiou o rosto nas palmas das mãos, escondendo-o, depois mostrou-o ainda mais cansado daquilo tudo.

-Tá bom, eu vou te contar.- ele balançou positivamente a cabeça, sem que o seu tom de voz estivesse totalmente ajustado à normalidade- Jane foi desenganada há algum tempo, os médicos fizeram tudo o que estava ao alcance deles, mas o estado dela tem piorado e ela não tem muito pela frente... É por isso que eu tenho estado meio aéreo nas últimas semanas. Minha viagem de emergência foi para buscar a... A... A mulher que a colocou no mundo, Jane sempre quis conhecê-la, então eu fui buscá-la, ela está na cidade.

A expressão de fúria de Heather mudou no instante em que ele disse "desenganada", algo diferente surgiu, um pouco de descrença misturada com total surpresa e uma tristeza instantânea e avassaladora.

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