Sozinho

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Março de 1968

Era só mais uma festa na casa de Gil, Caetano não sabia porquê tinha bebido tanto. Observava a sala lotada, alguns amigos, o pessoal da tropicália e uma porção de pessoas que Caetano não fazia ideia de quem eram, ou se fazia, o álcool não lhe permitia lembrar agora. Mas o único que ele queria ali não conseguiria vê-lo naquela semana. Chico havia dito que Marieta passaria alguns dias no apartamento dele.

Caetano não era do tipo que bebia muito, mas já que ele não podia ter o que queria aquela noite, precisava tentar tira-lo da cabeça. Ele não estava muito a fim de conversa, variando entre o sofá e a mesa de bebidas. Quando se levantou novamente para pegar outra bebida, tudo já parecia estar começando a girar em sua mente.

Caetano virou-se para procurar Gil, mas ele parecia muito ocupado falando com alguns convidados. Então olhou em volta, em busca de Bethânia, apenas para encontrá-la conversando com Gal. É claro que elas estariam juntas, Caetano pensou. Elas pareciam tão próximas agora, Bethânia se inclinava cada vez mais para perto de Gal. Ele pensou que a irmã poderia matá-lo se interrompesse as duas agora. Caetano suspirou, o único que parecia estar sobrando ali era ele.

Encostou-se contra uma parede próxima, enquanto tentava pensar. Ele queria Chico, já fazia uma semana que não se viam, sentia falta do seu sorriso, do seu abraço, dos seus beijos... Caetano queria tudo dele, mas podia ter tão pouco, não parecia justo.

O álcool começava a nublar seus pensamentos, ele precisava de Chico. Então tomou coragem e foi até o telefone de Gil, discando. Na primeira tentativa ele esperou. Nada, frustrando suas expectativas. Na segunda Caetano desligou. E se não fosse Chico que atendesse? Não importava, ele tentou de novo e de novo, até ouvir a voz de Chico.

"Alô?"

"Chico? É tão bom ouvir a sua voz..."

"Caetano?" - Chico perguntou, a voz ainda sonolenta.

"Tô com saudade."

"Você tá bêbado?"

"Não!" - Caetano riu. - "Talvez um pouco."

"Onde você tá?"

"Na casa de Gil, vem aqui."

"É quase duas da manhã, Caetano..."

"Por favor, Chico. Eu preciso de você."

Houve alguns segundos de silêncio, Caetano só podia ouvir a respiração de Chico do outro lado.

"Você sabe que eu não posso." - Havia uma certa melancolia na voz de Chico.

"Então eu vou aí."

"O que?! Você não tem a menor condição de andar bêbado assim na rua!" - Chico elevou um pouco a voz, preocupado.

"Tô indo, Chico."

"Se acontecer alguma coisa com você..."

"Eu não ligo." - Caetano quase desligou o telefone.

"Caetano, espera!" - Chico suspirou. - "Tudo bem, você venceu. Mas me espere aí, eu não quero que você saia assim."

"Não demora!" - Caetano sorriu, desligando o telefone.

Ele pegou outra bebida e sentou-se novamente, um sorriso triunfante no rosto, enquanto esperava.

*

Chico saiu do carro, a camisa mal abotoada de quem tinha saído com pressa de casa. Esfregava o rosto com a mão, na tentativa de afastar o cansaço, caminhando até a casa de Gil e batendo na porta. Foram apenas alguns segundos até a porta se abrir, Caetano recebeu ele com um abraço. Os braços em torno de seu pescoço, enquanto Chico envolvia sua cintura.

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