Chico fechou os olhos e encostou o telefone no ouvido. Tudo que conseguia escutar era o barulho do telefone chamando, só esperava que Caetano atendesse.
"Por favor, atende..." - Chico suspirou, aqueles poucos segundos pareceram horas.
"Alô?"
O coração de Chico saltou ao ouvir a voz de Caetano.
"Caetano?"
"Chico?" - Caetano franziu a testa, se sentando. Pelo tom na voz de Chico, não quis nem perguntar como tinha conseguido seu número, provavelmente com Gil. - "Já tá tão tarde..."
"Eu não sabia mais pra quem ligar..." - Dava para sentir o desespero na voz de Chico.
"Chico, você tá me deixando preocupado. Aconteceu alguma coisa?"
"Será que você pode vir até aqui?"
"Na sua casa? Agora?" - Chico não parecia estar bêbado, Caetano pensou que ele só podia ter enlouquecido. - "Mas e a..."
"Marieta descobriu. Ela descobriu tudo, Caetano."
*
ANTES
Marieta tinha viajado para gravação de uma cena de um filme em São Paulo, e só estaria de volta daqui dois dias. Chico tinha colocado Silvinha para dormir e terminava mais uma de suas tantas histórias sem pé nem cabeça que inventava para a filha dormir. Porém, enquanto cobria Silvinha e estava prestes a dizer "boa noite", ela fez uma pergunta que o deixou sem jeito.
"O moço de cabelo cacheado é seu amigo?" - Silvinha perguntou curiosa, segurando seu bicho de pelúcia preferido contra o peito.
"Quem?" - Chico perguntou surpreso.
"Aquele que tava na festa! Que você vê na TV às vezes, papai. Ele é seu amigo?"
Chico achou que não seria uma boa ideia falar disso com Silvinha. Quis dizer que não sabia do que ela estava falando e encerrar o assunto ali. No entanto, não foi o que fez.
"Eh, ele era... na verdade, ele era um pouco mais que um amigo." - As últimas palavras foram ditas mais baixo, como se falasse para si mesmo.
"E por que não são mais amigos? Vocês brigaram?"
"Não, a gente não... Eu não sei porquê." - Chico estava se atrapalhando todo com as perguntas da filha. - "Essas coisas só acontecem às vezes, meu anjo."
"Você não gosta mais dele?"
Chico ficou calado por alguns segundos, pensando se devia responder.
"Eu gosto. Eu continuo gostando muito dele."
"Então por que você fica triste quando vê ele?"
Chico se perguntou se era tão óbvio ou Silvinha era boa em ver essas coisas.
"Porque eu sinto falta dele às vezes." - Chico não acreditava que estava mesmo desabafando com uma criança e realmente gostando disso.
"Então vocês deviam voltar a ser amigos." - Silvinha disse como se fosse a solução mais óbvia e simples do mundo.
Nesse momento, Chico deu uma risadinha. Gostaria de ter a mesma inocência da filha, de voltar a pensar que tudo no mundo era simples e fácil. Ou será que Silvinha tinha razão e eram apenas os adultos quem complicavam tudo?

VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor mais que discreto
Fanfic"Mas pode dispensar a fantasia O sonho em branco e preto Amor mais que discreto Que é já uma alegria" Caetano conhece Chico no Festival de MPB de 1967, logo essa amizade se desenvolve em algo mais. Entretanto, que futuro poderia ter o relacionamento...