Coração Vagabundo

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Chico não mencionou nada sobre aquele dia e Caetano não quis pressiona-lo, pensou que provavelmente ele nem se lembrava das coisas que havia dito, ou pior, se lembrava e estava arrependido.

De qualquer forma, Chico começou a frequentar seu apartamento cada vez mais. Caetano supôs que era uma espécie de refúgio para Chico, ele podia tocar seu violão em paz, compor suas músicas e pedir a sua opinião em alguns versos.

Frequentemente Caetano ficava apenas ouvindo os rascunhos das músicas de Chico, maravilhado com a sensibilidade da maioria delas. Observava enquanto Chico tocava, seus olhos, seus traços, tão presentes em seus sonhos ultimamente. Imaginava como seria beijar aquela boca...

Caetano não percebeu que olhava fixamente para ele até ser tirado de seus pensamentos por um toque suave em seu braço.

"Você está bem?" - O tom de Chico era ligeiramente preocupado.

"S-Sim... não é nada. Apenas com a cabeça longe" - Caetano disse sem jeito.

Caetano não podia esconder sua felicidade com as frequentes visitas de Chico. A conversa deles na maioria das tardes tinha sido leve e sem relação com suas vidas pessoais, Chico não  falava muito, era o jeito dele e Caetano também amava, afinal até o silêncio já era algo confortável entre eles.

Porém naquele dia eles começaram a trocar histórias, acabaram falando de suas infâncias, adolescência e familiares. Caetano adorava ver como Chico iniciava uma história e ria tanto que mal conseguia acabá-la. Ele geralmente não compartilhava tanto de si mesmo com ninguém, mas com Caetano parecia tudo tão natural e era difícil parar quando o outro homem estava sendo tão aberto em troca.

Em dado momento Caetano disse que 'Ela e sua janela' era sua música favorita de Chico, pois segundo ele:

"Tem algo de estranho nela."

Chico sorriu, olhando para ele diferente.

"O que foi?"

"Nada" - desviou o olhar - "É só que... você é engraçado."

"Por que?!" - Caetano exclamou, curioso.

"Por nada." - Chico riu.

"Ah não, agora você vai ter que me dizer."

"Você gostou de uma música que ninguém deu a mínima."

Houve alguns segundos de silêncio.

"Você é diferente, Caê." - Caetano franziu a testa, divertido, mas Chico segurou a mão dele, se apressando em completar. - "No bom sentido é claro."

Caetano sorriu, desviando o olhar, o jeito que Chico estava olhando para ele agora fazia seu coração disparar.

"Bem, eu vou levar isso como um elogio."

"Não me entenda mal. Era um elogio."

Eles estavam tão perto. Os olhos de Caetano desceram para encontrar a mão de Chico ainda sobre a dele.

"Desculpa." - Chico se afastou, constrangido.

"Tudo bem."

Amor mais que discreto Onde histórias criam vida. Descubra agora